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Impacto da PSA na China nos países exportadores: muitas bolas em jogo

A produção e o consumo de carne de porco, a queda do poder de compra na China, a guerra comercial com os Estados Unidos e a globalização são algumas das bolas que estão no ar às que se juntarão muitas mais.

Entender o impacto global que os focos de PSA na China têm nos países exportadores é um malabarismo com muitas bolas ao mesmo tempo. A percepção popular é que estes focos irão trazer um beneficio inesperado para os países exportadores à medida que os abates sanitários obrigatórios dos casos, e em seu redor, começa a afectar a disponibilidade total de carne de porco na China. O problema da percepção popular é que joga com apenas uma bola, mantendo as outras "suspensas no ar". Demasiado fácil, a gravidade acaba sempre por se impôr.

O país que consome mais carne de porco que qualquer outro no mundo e onde o frango, inclusivamente sendo mais barato, está muito atrás em popularidade (ainda que esteja a crescer, como em todo o lado), é um objectivo claro para os exportadores. Este grande consumo de porco é razoável, já que tem a maior população mundial. Contudo, esta não é a parte mais interessante. A parte assombrosa é que, pese a grande variabilidade de rendimentos que ainda existem na China e a dramática expansão da sua classe média nas duas últimas décadas, estima-se que o consumo de carne de porco na China supera os 30 kg por pessoa e ano, quase igualando o consumo médio europeu e sendo 30 % superior ao consumo per cápita norte-americano. Os chineses atingem esta façanha com um rendimento que representa 20 % da média europeia e 14% da norte-americana. Que poderá correr mal para os exportadores? Ver figura 1. Note-se que o crescimento do consumo se tem desacelerado desde há vários anos e está correlacionado com o mesmo travão que teve o seu PIB.

Variação percentual do PIB real e taxa de consumo de carne de porco relativamente ao ano anterior na China: variação Kg/cápita. Com linhas de tendência linear ajustadas.
Variação percentual do PIB real e taxa de consumo de carne de porco relativamente ao ano anterior na China: variação Kg/cápita. Com linhas de tendência linear ajustadas.

Aqui vai outra bola: o Banco Mundial acaba de emitir o seu relatório principal para 2019 entitulado “Perspectivas económicas mundiais” com um sinistro subtítulo: "O céu escurece". Recordemos o nosso artigo do mês passado: Quando a procura é tudo, a prosperidade é essencial. O epicentro desta previsão tão nublosa parece ser a China, onde a desaceleração da taxa de crescimento acabou por provocar a decisão do governo de tentar travar o crédito para travar o boom da construção de casas e infraestruturas, que vão muito além da sua ocupação e benefícios. Os chineses jovensey de classe média, especialmente os que compraram uma casa/apartamento, estão a ter algo parecido com a crise imobiliária dos EUA em 2008-9. O excesso de construção reduziu drasticamente o valor dos investimentos fazendo com que os seus apartamentos não se possam vender, o que trava a sua mobilidade e detém o aumento dos seus rendimentos.

Lançamos outra bola: as taxas impostas pelos EUA e os primeiros espasmos de desaceleração afectaram a procura de tecnologia e dos seus componentes, uma parte importante da economia chinesa. A surpreendente revisão em baixa da procura de produtos Apple revelou que os consumidores chineses se estão a afastar da tecnologia e dos telefones topo de gama num movimento defensivo contra a futura diminuição dos seus rendimentos e a potencial incerteza laboral. O rendimento estancado e uma redução dramática da riqueza fazem com que o frango barato tenha melhor aspecto. Telefones mais barato, jantares mais baratos.

Todo isto sugere que a procura de carne de porco na China cairá mais rapidamente que a desaceleração do seu crescimento, não só à medida que o seu preço aumente devido à escassez de oferta mas também devido à incerteza da importante classe média relativamente aos seus salários. A China tende a resistir a mostrar vulnerabilidades que poderão representar uma desvantagem real no comércio, pelo que não é de esperar que esteja disposta a importar carne de porco a qualquer preço. O aumento do frango relativamente ao consumo total de carne pode acelerar um pouco já que os bons preços o tornam mais irresistível no tempo. À redução da procura de carne de porco devido ao preço, haverá que lhe somar uma redução provocada pela ideia potencial de "comer carne de porco doente", pelo menos temporariamente e especialmente nos consumidores urbanos, pese às garantias autênticas de que não existe nenhum perigo para a saúde humana.

Agora juntamos outra bola, associada ao aborrecido aumento da resistência à "Nova ordem mundial", ou seja, à globalização. Há demasiada deslocação, desemprego estrutural, níveis de vida permanentemente reduzidos, impostos para reduzir o uso de combustíveis fósseis (que ameaçam a mobilidade) e a electricidade (que ameaçam a habitação) etc. São a origem de, por exemplo, os coletes amarelos, que apareceram de surpresa mas cuja persistência se deve tomar como uma advertência. A mensagem é as pessoas antes que as ideias. Os movimentos de preservação cultural e a fractura da visão europeia exemplificada pela Polónia, Hungria e Itália (o BREXIT também estará nesta categoria, ainda que o resultado ainda seja muito incerto), juntamente com o aumento dos populismos noutros países como o Brasil e os EUA estão a começar a fazer cambalear o comércio mundial, basicamente devido à incertez.

Conclusão: Nos últimos dias mudou a previsão para o pico de preços de verão nos EUA já que, pela primeira vez desde Novembro de 2018, parece que não se irão superar os $80/cwt carcaça (€1,54/kg). O ciclo de preços vai em sentido do aumento sazonal de verão, cujo pico vai diminuindo lentamente à medida que nos aproximamos a ele, como se fosse um espelho. As previsões de preços para todo o ano nos EUA não mostram nenhuma evidência de oportunidades inesperadas de ganhos nas exportações derivadas de grandes vendas à China. Oxalá me engane. Quiçá o ano que vem, mas ainda há muitas bolas para lançar ao ar.

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