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Cisnes negros consecutivos acabam por se transformar em abutres

Primeiro a PSA, agora o coronavírus ... eventos consecutivos e imprevistos que abalaram a indústria global de carne. Como enfrentar o próximo?

A sucessão de "cisnes negros" (eventos que ocorrem de forma inesperada) originados na China sacudiram a economia global e pressagiam problemas para a indústria das carnes mundial. O aparecimento e a rápida propagação do coronavírus, com aparente zona zero em Wuhan, ameaça fechar regiões inteiras na China, tanto para as viagens internas como para as internacionais. Os mais pessimistas preveem que em breve teremos um embargo total de viagens para os cidadãos chineses, que pode ser estendido aos países vizinhos. O vírus já apareceu no Japão, Coreia do Sul, Singapura e Vietname. Devido ao grande número de viagens internacionais feitas permanentemente em todo o mundo, os casos estão a aparecer rapidamente nos EUA, Austrália, Médio Oriente e agora em alguns países da Europa e na Malásia, antes de serem adoptadas medidas de controlo adequadas.

Avaliando a gravidade da ameaça, o governo chinês já começou a limitar ou cancelar muitas das maiores e mais populares celebrações do Ano Novo Lunar, por exemplo, em Pequim, Wuhan e Hong Kong. Muitos virologistas acreditam estar ultrapassado o tempo em que a contenção ainda era possível. As celebrações do Ano Novo Lunar são o maior evento festivo da China, por isso seus cidadãos querem viajar para estar com seus parentes em outras cidades e provavelmente continuarão a fazê-lo, devido à importância deste feriado para a tradição da família. Obviamente, isso complicará a contenção e a recuperação.

Tudo isso ocorre num momento em que a produção suína nos EUA continua a inundar as instalações de frigoríficas a níveis record, o que pôs em cheque a capacidade total de abate até Janeiro deste ano. Além disso, a brasileira JBS acaba de assinar um acordo muito importante com WH, de Hong Kong (os proprietários de Smithfield Foods nos E.U.A.) para aceder a milhares dos seus pontos de venda na China com produtos de frango, novilho e porco, por um total que supera os $700 milhões. Como já disse muitas vezes, um dos efeitos duradouros do surto de Peste Suína Africana na China será a remodelação da procura de carne. Com a eliminação, ou redução rigorosa, da produção de porcos caseira, o foco estará na classe média chinesa emergente e jovem, mais aberta a redefinir sua procura por alimentos com base na segurança alimentar, saúde a longo prazo e sustentabilidade global com preferência para pequenas quantidades de alta qualidade sobre grandes quantidades de miudezas e outros sub-produtos de baixo custo. A isto está associado a um aumento no consumo de frango e peixe e, em certa medida, carne bovina. É provável que essa redução na procura coincida com o aumento da oferta de carne de porco, num ponto mais baixo do que antes do surto do PSA.

Também não devemos esquecer o investimento maciço da maioria das grandes marcas em substitutos vegetais de carne. Em relação a essa questão, tive a oportunidade de falar extensivamente com um dos principais produtores familiares dos EUA. A sua exploração é grande, de acordo com os padrões europeus, e média / grande, de acordo com os EUA. Durante a conversa, ficou claro para mim que sua capacidade pessoal de lidar com processos de produção biológicos e altamente variáveis, como porcos de engorda, era maior do que sua capacidade de obter um benefício consistente. Talvez pela primeira vez na minha carreira considerei a possibilidade de que a optimização de lucros nas suas explorações exigisse a redução no nível de maneio, formação e investimento.

Ocorreu-me perguntar, em vez de reduzir o processo de produção, o que alguém poderia fazer com sua vasta experiência em maneio de pessoal e produção animal se aplicasse a abordagem dos produtores de "carne vegetal" à produção animal. Quero dizer, encontrar apoio financeiro para capital de risco, contratar um engenheiro alimentar de nível superior (ou dois) e dois chefs e criar uma pequena cadeia de produção de suínos a partir do zero, na qual os animais seleccionados para produção seriam substituídos por carne eficiente, ultra-magra (com o resultado de uma textura dura e sabor insípido), com genética escolhida para melhorar os novos produtos de carne suína.

Neste sistema, com algumas semelhanças com o conceito francês de Label Rouge (Etiqueta Vermelha é um selo de qualidade na França), cada atributo da carne de porco produzida que geraria um alto rendimento devido a uma maior procura (como sabor, textura, aparência, sustentabilidade etc.) poderia produzir um aumento na "ineficiência" (como é entendido nos nossos sistemas actuais de produção). Seria aplicada uma pressão selvagem sobre todas as características que não fossem essenciais para aumentar a procura ou melhoria sensorial, para ganhar eficiência e reduzir custos. Um processo paralelo ao modelo da "fake meat", mas com a produção suína. Aqui, não penso numa reacção de princípios perante a indústria da carne moderna, mas sim numa resposta ao que vem por aí, à medida que mais e mais cisnes negros se transformam em abutres. Suponho que ele o poderia fazer e que eu seria o seu primeiro cliente.

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