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Mercado europeu do porco com comportamentos antagónicos

Em Portugal, a Bolsa do Porco deu indicação de manutenção na segunda quinzena de Abril, apesar dos matadouros se queixarem que há grande dificuldade para vender a carne.

30 de Abril de 2021

Após a saída da Páscoa, o mercado do porco europeu encontrou-se com diversas nuances que moldaram as cotações durante o mês de Abril. Como vimos no anterior comentário, as cotações tiveram alguma estabilidade em todos os países da U.E. na primeira quinzena do mês, mas apresentaram um comportamento completamente diferente, entre países, na segunda metade de Abril.

Enquanto que no Centro da Europa, pressionadas pela cotação alemã, que teve uma descida forte, as cotações dos países vizinhos também baixaram com excepção da Dinamarca que subiu, nos países do Sul as cotações mantiveram-se tendo até subido com algum significado em França.

Em Portugal, a Bolsa do Porco deu indicação de manutenção na segunda quinzena de Abril, apesar dos matadouros se queixarem que há grande dificuldade para vender a carne e em fazer repercutir as anteriores subidas da cotação dos porcos nos preços desta.
Perante este cenário, e apesar de não terem alterado a cotação base, as classificações, nalguns matadouros, pioraram tendo levado a que os porcos fossem pagos por valores mais baixos que nas semanas anteriores. Vai-se a ver, e na mesma semana, todos os produtores enviaram porcos de pior conformação e com maiores percentagens de gordura e por isso foi generalizada a descida da classificação das carcaças.

Há muitos anos atrás, havia um anúncio a tractores que passava na televisão e que começava do seguinte modo “há dias de rara felicidade na vida de um agricultor…..”. Neste caso, utilizando a mesma forma do anúncio para o aplicar à classificação de carcaças, permito-me dizer “há dias de grande azar na vida de um suinicultor…”.

Os pesos têm-se mantido estabilizados, num patamar elevado, mas sem haver grandes excessos de peso nos porcos nacionais.

Em todo o caso, a exportação da carne de porco portuguesa segue a todo o vapor, pelo menos segundo os dados publicados pelo GPP. Assim, nos dois primeiros meses de 2021 as exportações de carne de porco congelada aumentaram 117% em relação ao mesmo período de 2020. Provavelmente, o que terá que acontecer é que as exportações aumentem de forma a tirar pressão sobre o mercado da carne a nível interno.

Como referi acima, houve uma forte descida da cotação da Alemanha que arrastou as cotações da Holanda e da Bélgica, mas acabou por não ter influência nos mercados espanhol, dinamarquês e francês.

Com o aumento de casos de Covid-19 na Alemanha há menor disponibilidade de trabalhadores para procederem ao abate de porcos e à desmancha de carcaças, os restaurantes continuam fechados o que impede o aumento dos consumos. A juntar a este quadro negativo para o mercado do porco alemão, a climatologia não tem ajudado (continua a estar frio e a chover muito), o que impede que haja as tradicionais churrascadas que também estimulam bastante o consumo de carne de porco naquele país. Além disso, há que não esquecer que a Alemanha continua impedida de exportar carne de porco para Países Terceiros devido à Peste Suína Africana e que este é mais um factor que não ajuda ao escoamento da carne. Por outro lado, a redução de efectivo na Alemanha, permitiu que, nas semanas após a Páscoa, houvesse manutenção das cotações devido a uma menor oferta de porcos para abate, mas a redução dos abates é mais forte em função da diminuição dos consumos e isso fez subir os pesos. A cotação não aguentou o “balanço” e acabou por ter uma descida forte.

O aumento do peso em carcaça também é significativo na Bélgica e na Holanda. Na Bélgica está 2kg acima do peso na mesma semana do ano passado e na Holanda o peso em carcaça encontra-se nos 101kg! Com dificuldades destas, é muito natural que as cotações tenham descido.

Com a proibição da Alemanha em vender carne de porco a Países Terceiros, a Espanha é, neste momento, o maior fornecedor mundial de carne de porco à China e, ao ter este canal de escoamento de carne, o mercado do porco espanhol segue animado e imune às tempestades que ocorrem na Alemanha.

Para além da forte procura de porcos nascidos e criados em Espanha por parte dos matadouros espanhóis, estes também têm aumentado a compra de animais para abate em Portugal, na França, na Bélgica, na Holanda, na Itália e na Alemanha. Ou seja, compram em quase todos os países que tenham porcos para vender e isto é demonstrativo do dinamismo e da capacidade dos matadouros e salas de desmancha espanholas e da sua competitividade no mercado mundial. Não é à toa que se irá construir, em Espanha, mais um matadouro com capacidade para 10 mil porcos/dia do Grupo Vion (o segundo maior grupo de abate alemão atrás da Tonnies).

Em todo o caso, a China tem vindo a descer, com significado, a cotação dos porcos desde Janeiro. Nessa altura e até finais de Fevereiro, os porcos roçavam o 4,80€/kg carcaça. Desde finais de Fevereiro até agora, a cotação baixou 1,80€/kg para se situar em cerca de 3,00€/kg carcaça. Apesar desta descida no mercado chinês, os porcos valem mais 50% do que valem em Espanha e valem o dobro do que valem na Alemanha e esse factor irá permitir que haja margem para que a China continue a comprar carne de porco nos mercados internacionais de forma a poder abastecer o seu país. Por isso, o nosso país vizinho irá continuar a exportar grandes volumes para a China até porque, a nível mundial, os grandes concorrentes são os Estados Unidos e o Brasil e, quer um quer outro, têm os porcos a preços record o que implica que a carne também não seja barata.

No caso dos Estados Unidos, a cotação encontra-se ao nível da cotação espanhola, sendo as mais elevadas do mundo se descontarmos os países asiáticos. Desde 2014, ano em que os EUA tiveram grandes problemas de mortalidade nos leitões devido à Diarreia Epidémica Suína, que o preço não era tão alto. Na altura, a cotação subiu devido à redução da oferta, agora a cotação sobre devido ao forte aumento do consumo interno de carne de porco. Com esta necessidade de abastecer o mercado norte-americano de carne de porco, haverá menos disponibilidade para a vender à China.

No caso do Brasil, também tem havido fortes aumentos da cotação dos porcos naquele país, em função do enorme aumento dos custos de produção influenciados pelo aumento da cotação das matérias-primas para a alimentação animal, mas apesar de haver disponibilidade de carne de porco para exportação, o seu preço deverá ser um óbice a que possa haver maior procura de carne brasileira do que espanhola, por parte dos chineses.

No que diz respeito às cotações europeias:

Em Espanha a cotação manteve-se nesta segunda quinzena de Abril em 1,46€/kg PV (1,947€/kg carcaça). Os pesos desceram cerca de 300g nestas duas semanas e estão ao mesmo nível do ano passado nesta mesma altura.

Na Alemanha a cotação baixou 0,08€/kg carcaça passando para 1,42€/kg carcaça. Os pesos de carcaça subiram 300g para 98,2kg após as descidas das últimas semanas.

Na Holanda a cotação baixou 0,07€/kg carcaça para 1,60€/kg carcaça. Tem havido dificuldades em abater todos os porcos oferecidos pelos produtores. Há menores consumos que o habitual devido à Covid-19 evidentemente, mas também devido às temperaturas frias que se têm feito sentir no centro da Europa o que reduz a possibilidade de se fazerem churrascadas que estimulam o consumo de carne de porco.

Na Bélgica a cotação também baixou 0,09€/PV para 0,94€/kg PV.

Na Dinamarca a cotação subiu 0,04€/kg carcaça para 1,45€/kg carcaça. Os dinamarqueses também se queixam da Covid-19 e do tempo frio para que haja um comportamento pouco dinâmico do mercado da carne de porco no seu país. Todavia, existe uma forte procura de carne de porco quer da China, quer do Japão quer dos restantes países do Sudeste Asiático que deverá trazer um estímulo adicional ao mercado da carne de porco, impelindo-o para uma subida.

A França foi o país em que a cotação mais subiu nesta segunda quinzena de Abril. A subida foi de 0,106€/kg carcaça para os 1,535€/kg carcaça, tendo havido mesmo subidas máximas permitidas pelo MPB que são de 0,05€/kg carcaça à 5ª feira e de 0,01€/kg carcaça na 2ª feira seguinte. Isto é o sinal claro e inequívoco de que a oferta é muito inferior à procura e que os agrupamentos de produtores fazem prevalecer a sua posição. Os pesos baixaram 200g para os 95,6kg e estão 900g abaixo dos pesos do ano passado na mesma semana. A procura de porcos é superior à oferta o que traz uma boa influência às cotações.

Iremos entrar em Maio que é um mês em que, tradicionalmente, há subida da cotação dos porcos em Portugal e Espanha. Tendo em consideração todas as incertezas relacionadas com a Covid-19 (desconfinamentos, número de infectados, ritmo de vacinações, etc) veremos se o comportamento do mercado será idêntico aos dos anos anteriores.

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