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Estabilidade instável no mercado do porco europeu

A cotação do porco manteve-se na Bolsa do Porco durante esta segunda metade de Outubro. São 7 semanas consecutivas sem qualquer alteração.

30 de Outubro de 2020

As cotações mantiveram-se sem grandes alterações em quase todos os mercados do porco na Europa nesta segunda quinzena de Outubro, apesar do ritmo de abate e de desmancha de carcaças de porco estar comprometido nos países do Norte da Europa devido a factores relacionados com medidas de mitigação (redução do número de trabalhadores a trabalhar em simultâneo nas unidades) e o aumento de casos positivos de COVID-19 entre os trabalhadores dos matadouros e das salas de desmancha.

O mercado português não fugiu à regra e a cotação do porco manteve-se na Bolsa do Porco durante esta segunda metade de Outubro. São 7 semanas consecutivas sem qualquer alteração da cotação, que se seguiram a uma subida de 0,05€/kg carcaça no início de Setembro. Sem contar com esta semana de subida, a Bolsa do Porco deu sinal de manutenção durante 17 semanas consecutivas, ou seja, um terço do ano com estabilidade no mercado.

A manutenção das cotações é sinal de equilíbrio no mercado do porco e da carne. Continuam em bom ritmo os abates de porcos e a venda de carne de porco, principalmente na exportação para Países Terceiros. Se o ritmo de exportação for idêntico ao do primeiro semestre de 2020, Portugal deverá enviar, somente para a China, mais de 13 mil toneladas de carne de porco.

Para se ter uma noção da quantidade de porcos envolvida nestas operações de exportação, as 13 mil toneladas podem representar cerca de 165000 cabeças.

No que diz respeito às exportações europeias para a China, para além de Portugal (que era o 15º maior fornecedor de carne de porco para o gigante asiático), a Espanha e a Dinamarca continuam a enviar grandes quantidades de carne de porco, tentando ocupar o lugar deixado vago pela Alemanha que, devido aos problemas de Peste Suína Africana, continua sem poder enviar carne para quase todos os países fora de U.E.

Há que aproveitar esta onda de mercado, porque os últimos dados relativos ao aumento de efectivo suinícola chinês dá conta de aumentos de efectivo, situando-se este em cerca de 85% dos efectivo existente antes do aparecimento da Peste Suína Africana. Não sei se estes números serão os correctos, pois como em toda a informação que nos chega da China há que ter alguma cautela. O que é certo é que os preços do porco e da carne têm descido nestas últimas semanas, passando, no caso da carcaça de porco, de cerca de 5€/kg para pouco mais de 4€/kg actualmente.

Em Espanha, apesar de estarem a aumentar enormemente o número de casos de COVID-19, não há notícias de que haja redução dos abates nem problemas na desmancha das carcaças, o que é uma excelente indicação para o mercado do porco da Península Ibérica. As exportações para países terceiros têm volumes bastante elevados e desde o dia 15 de Outubro que o Ministério da Agricultura espanhol obriga a que a carne de porco que seja enviada para mercado externos à U.E. seja acompanhada de declarações que comprovem que os animais foram nascido e criados em Espanha. Terão que ser os produtores a atestar essa declaração e os matadouros a lhe darem sequência.

Pelo contrário, na Alemanha, e devido ao aumento de casos entre os trabalhadores dos matadouros e das salas de desmancha, há enormes dificuldades no escoamento de porcos desde as explorações para os matadouros e na desmancha dessas carcaças, facto que tem tentado ser colmatado pelo aumento do trabalho ao fim-de-semana e aos feriados. Em todo o caso, este aumento das horas de trabalho choca com o número de horas semanal máximo que cada trabalhador pode fazer de acordo com a legislação laboral e este poderá ser um problema para que haja aumento da capacidade de abate e desmancha.

Apesar do contínuo acumular de porcos, que tem implicado aumento de peso dos porcos de abate, o mercado alemão não vê necessidade de baixar a cotação dos porcos com a argumentação de que vendem a mesma quantidade de carne, quer baixem o preço quer não. O consumo de carne de porco no mercado interno alemão está estável e preço da carne não tem necessidade de baixar. Pena que em Portugal não se siga a mesma linha de pensamento noutras alturas de mercado desfavorável.

Todavia, os mercados vizinhos sofrem a oferta de carne barata originária na Alemanha. Ou seja, no mercado interno as empresas cárneas não “estragam” preços, mas vão oferecer o excedente de carne não vendida intramuros a preços muito baratos nos países vizinhos (Bélgica, Holanda, Áustria, Polónia).

Há que não esquecer que, com o forte aumento de casos de COVID-19 em toda a Europa, há muita incerteza de que o canal Horeca se mantenha aberto e em que condições. Esta é uma situação que fará reduzir os consumos de carne e que poderá pôr em risco as cotações e o escoamento de carne de porco no mercado interno europeu. Por outro lado, com a aproximação do Natal é comum que as empresas se abasteçam de carne para fabricarem os tradicionais produtos que são consumidos nessa época do ano. Este ano, como ninguém sabe como serão as festividades natalícias e não há a tomada de medidas/decisões a médio prazo que permitam fazer previsões, as empresas não querem stockar produto e preferem trabalhar ao dia.

Em Espanha a cotação desceu 0,013€/kg P.V. (-0,017€/kg carcaça) na segunda quinzena de Outubro para 1,283€/kg PV (1,711€/kg carcaça). O peso subiu mais de 1,5kg nesta quinzena e está cerca de 1kg acima do peso do ano passado nesta mesma atura. A oferta de porcos é elevada, mas os abates batem sucessivos records sendo abatidas mais de 1 milhão de cabeças semanalmente. Há ofertas de porcos aos matadouros espanhóis com origem em França, Holanda e Bélgica.

Na Alemanha a cotação voltou a manter-se em 1,27€/kg carcaça. Os pesos subiram 600g nesta quinzena para os 98,6kg.

Na Holanda a cotação também se manteve em 1,34€/kg carcaça. Nestas duas últimas semanas a pressão sobre os matadouros holandeses baixou e há melhor capacidade de abate permitindo que se tenha absorvido alguns atrasos no abate de porcos. A procura de carne é boa.

Na Bélgica a cotação manteve-se em 0,85€/kg PV. Há enormes dificuldades em enviar porcos belgas para serem abatidos na Alemanha. Os belgas têm estado a enviar porcos para Espanha e isso poderá aliviar a pressão sobre o mercado belga do porco.

Na Dinamarca a cotação manteve-se em 1,38€/kg carcaça. O mercado da carne mantém-se fluido e com alguma facilidade na venda de carne, principalmente para a China e o Japão.

Em França, a cotação desceu 0,008€/kg carcaça fixando-se em 1,355€/kg carcaça. Os pesos subiram 300g para os 95,1kg (peso 450 gramas abaixo do peso da mesma semana de 2019). O mercado francês encontra-se fluido e daí haver menos peso nos porcos este ano do que o ano passado, se bem que existem muitas incertezas devido ao recrudescer de casos de COVID-19 e às restrições de movimentação e de concentração de pessoas que poderá levar a reduções de consumo.

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