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Continua a erosão da cotação dos porcos em toda a Europa

Assim, na primeira quinzena de Outubro houve uma descida de 0,07€/kg carcaça definida pela Bolsa do Porco.

15 de Outubro de 2021

O arranque do mês de Outubro não foi, de todo, diferente dos dois anteriores meses. O que se verificou foi a contínua erosão da cotação dos porcos em toda a Europa e em que Portugal não foi excepção.

Assim, na primeira quinzena de Outubro houve uma descida de 0,07€/kg carcaça definida pela Bolsa do Porco. Desde meados de Junho, que foi quando a cotação começou a descer, e tirando o mês de Agosto em que houve manutenção da cotação durante todo o mês, o somatório da descida é de 0,53€/kg carcaça, ou seja, num porco com 80kg de carcaça os produtores recebem menos 40€ do que recebiam até meados de Junho.

Para ser ainda mais claro, os produtores estão a vender os seus porcos muito abaixo do custo de produção e a perspectiva é de que a cotação das matérias-primas se mantenha alto o que implicará a manutenção do custo de produção a níveis elevados e acima da cotação de venda dos porcos. Em suma, irão manter-se as condições de perda por parte dos produtores de suínos portugueses nos próximos tempos.

Evidentemente que esta situação de perda não ocorreu durante todo o ano e sabe-se que até Junho os preços de venda foram bons em toda a Europa. Em Portugal, e considerando que não temos uma cotação de referência, é-nos mais difícil fazer esta contabilidade, mas a nível europeu, e segundo a informação fornecida pelo MPB francês, as cotações médias entre Janeiro de 2021 e Setembro, por países, foram as seguintes (entre parêntesis as variação relativamente ao período homólogo de 2020):

País 2020 2021 %
9 meses 9 meses
Países Baixos Vion Food 1,707 1,516 -11,18
Dinamarca 61% 1,631 1,363 - 16,44
Alemanha AMI 57% 1,665 1,378 -17,23
Espanha Peso Vivo 1,368 1,327 - 3,01
Itália vivo 1,151 1,244 8,04
França MPB 56TMP 1,424 1,363 - 4,28

Como se pode verificar, há descida significativas nos países do norte da Europa, mas a cotação média dos países do Sul tem pouca diferença da cotação do ano transacto.. Em Itália há mesmo uma cotação média superior em 2021 do que aquela que houve em 2020.

É de assinalar que a própria Espanha, país altamente excedentário na produção de porcos, apresente um preço médio em 2021 de apenas menos 0,04€/kg PV do que a cotação de 2020, o que representa, para porcos de 115kg PV, que os produtores espanhóis vendem os seus porcos, em média cerca de menos 5€/porco a menos do que venderam em 2020. Nesta perspectiva, parece uma diferença pequena e nada significativa.

Depois desta análise mais global, teremos que passar a uma análise mais fina do mercado e esta é verdadeiramente mais negra. Sem dúvida que as cotações têm vindo a descer em toda a Europa, pressionadas pelo excesso de oferta de porcos para abate e pela fraca procura de carne por parte dos clientes, sejam eles europeus sejam de Países Terceiros.

Esta maior oferta de porcos, relativamente à procura, tem implicado descidas da cotação por toda a Europa e subida de pesos. Se sobem os pesos, teremos mais carne a entrar no mercado por cada porco que é abatido. Estamos num sistema de “pescadinha de rabo na boca” e sem grandes perspectivas de que a pescadinha deixe de morder o rabo.

Na realidade, a China continua a comprar menos carne na Europa querendo comprá-la a preços baixos e apenas vai comprando miudezas, o que permite a valorização destes produtos por parte da indústria evitando que a rentabilidade dos matadouros e salas de desmancha seja negativa.

Há vários indicadores (mesmo a 3tres3 já publicou várias notícias sobre este assunto) que nos dão conta de que a China irá ter menos porcos em 2022, ou porque a Peste continua a grassar pelas suas explorações e os animais têm que ser abatidos, ou porque os produtores perdem muito dinheiro, devido ao forte aumento dos custos de produção, e reduzem efectivo reprodutor e esta redução tem que se fazer notar no próximo ano no total de porcos de abate colocados no mercado. O próprio Ministério da Agricultura chinês anunciou que haverá uma redução de 10% no efectivo reprodutor, passando de 41 milhões para 37 milhões de cabeças. São menos 4 milhões de reprodutoras que é o equivalente ao efectivo de Espanha e da Alemanha no seu conjunto. O que é verdade é que, mesmo com estas notícias, que até são positivas para o mercado global do porco, não se notam sinais positivos quer nas cotações quer na conjuntura do mercado.

Com as condições pesadas do mercado europeu, as cotações desceram entre 4 e 8 cêntimos nesta primeira quinzena de Outubro, levando-as para patamares há muitos anos não eram atingidos.

Neste momento está instalada a “guerra” pela colocação de carne europeia no mercado interno e para isso é necessário que os países excedentários se posicionem com os melhores preços possíveis para poder vender aquilo que têm a mais no seu mercado interno. Assim, a Espanha tem vindo paulatinamente a baixar os porcos para ter competitividade no preço da sua carne de forma a poder combater a carne alemã e dinamarquesa no mercado da U.E. Este reposicionamento obriga todos os outros países a baixar as cotações, quer dos porcos quer da carne para evitarem a entrada de carne que não seja necessária nos seus mercados.

Com toda esta amálgama de situações, ninguém na europa sabe onde está o fundo da cotação dos porcos, o que deixa o mercado nervoso. Muito nervoso mesmo.

Veremos se as próximas 2-3 semanas permitirão ver com maior claridade o futuro a curto-médio prazo do mercado do porco europeu. Enquanto isso não sucede, o mais natural é que continue a haver descidas semanais, se bem que, na minha opinião, estas deverão ser inferiores às já ocorridas nas semanas anteriores.

No que diz respeito às cotações por países, em Espanha a cotação desceu 0,068€/kg PV (-0,09/kg carcaça) para 1,079€/kg PV (1,439€/kg carcaça). Os pesos continuam a subir e os porcos estão mais pesados 2,5kg PV do que o ano passada na mesma altura. O feriado de 12 de Outubro irá trazer maiores dificuldades ao escoamento dos porcos para abate, mas seguem-se 2 semanas completas sem feriados que poderão permitir reabsorver esses porcos.

Na Alemanha a cotação baixou 0,05€/kg carcaça para 1,20€/kg carcaça. A venda de porcos continua difícil na Alemanha porque há muita dificuldade em vender carne de porco. Há muitas promoções para estimular o consumo de carne de porco, mas estas não estão a funcionar e o consumo não aumenta. Esta última descida da cotação não teve nenhum efeito de estímulo no consumo de carne.

Na Holanda a cotação desceu 0,05€/kg carcaça fixando-se a cotação em 1,31€/kg carcaça. Há grande oferta de carne por parte de todos os matadouros europeus e isso dificulta a venda de carne por parte dos industriais holandeses. Para além disso, as câmaras frigoríficas estão cheias de carne congelada, o que é mais um factor de pressão sobre o mercado da carne. Apesar da carne estar barata, e quando a carne está barata as condições para congelar são favoráveis, ninguém sabe se dentro de 6 meses a carne não estará ainda mais barata ou se o preço a que se poderá vender, compensará o custo do armazenamento e isso deixa algumas dúvidas para quem poderia congelar carne, retirando-a do mercado nesta altura. Continua a a haver falta de pessoal nas unidades de abate e nas salas de desmancha o que também impede que se abatam porcos a um ritmo normal.

Na Bélgica a cotação também baixou 0,05€/kg PV passando para 0,75€/kg PV. Perante este cenário de enorme crise em que se encontram mergulhados os suinicultores belgas, o seu Governo irá pedir a Bruxelas que crie uma ajuda ao armazenamento privado de carne de porco belga, de forma a poder permitir um aumento dos abates de porcos e, com isso, impedir que as cotações continuem a descer.

Na Dinamarca a cotação baixou 0,04€/kg carcaça fixando-se em 1,13€/kg carcaça. Uma grande oferta de porcos para abate e a dificuldade em ter pessoal para trabalhar nos matadouros e salas de desmancha está a provocar enormes dificuldades na fileira do porco dinamarquesa. Sem que haja pessoal suficiente para desmanchar peças, haverá sempre carne a mais no mercado e a grande pergunta que colocam os dinamarqueses é: quando haverá mão-de-obra suficiente para as necessidades de desmancha? Este equilíbrio é fundamental para estimular o mercado do porco naquele país.

Em França a cotação desceu 0,032€/kg carcaça fixando-se em 1,224€/kg carcaça. O peso subiu 200g para os 95kg e está 200 g acima do peso do ano passado na mesma semana. A França tem, neste momento, os porcos com a cotação mais elevada na Europa. Há algum relativo equilíbrio no mercado francês o que permite que as cotações baixem menos do que nos restantes países europeus.

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