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Carne vende-se mal, porcos aumentam de peso e a cotação desce

A Bolsa do Porco apresentou uma descida de 0,04€/kg carcaça na primeira quinzena de Setembro.

17 de Setembro de 2021

Após a manutenção da cotação dos porcos durante todo o mês de Agosto, recomeçaram as descidas. Na realidade, a Bolsa do Porco apresentou uma descida de 0,04€/kg carcaça na primeira quinzena de Setembro.

À maior dificuldade na venda de carne no mercado nacional, aliam-se a uma quase paragem nas vendas de carne para Países Terceiros, uma maior oferta de porcos nacionais para abate, típica desta altura do ano e uma maior pressão de entrada de carne espanhola em Portugal. Estes factores em conjunto, criaram o caldo de cultura perfeito para que houvesse descida da cotação em Portugal, ajudada pela também descida que ocorreu em Espanha.

Com custos de produção bastante elevados, os produtores queixam-se porque vendem os seus porcos abaixo do custo de produção a que se junta, agora, uma maior dificuldade na sua venda que implica mais dias que esses animais estão a comer nas explorações e o consequente aumento dos pesos de abate com as eventuais penalizações na valorização das carcaças que isto poderá implicar. Os matadouros também se queixam porque não conseguem vender a toda a carne que pretendiam vender e a que vendem também tem bastante pressão no preço, não lhes permitindo ter as margens que gostariam.

Em suma, o mercado nacional começa a estar com carne a mais e veremos se não acabará por ficar completamente “afogado” em carne e porcos o que levaria a uma maior pressão de descida sobre os preços.

O que se passa no mercado português é um espelho do que se passa no mercado europeu. Com as dificuldades na venda de carne para a China – a Espanha continua a vender bastantes miudezas e a bons preços, mas carne vende muito menos – a carne terá que ser vendida no mercado da U.E., criando um excesso de oferta e a consequente descida dos preços. Adicionalmente, a China tem vindo a retirar autorizações de exportação a matadouros europeus, principalmente espanhóis, Entre Junho e Agosto foram 6 os matadouros espanhóis que ficaram impedidos de exportar para a China.

Se os matadouros têm que baixar o preço da carne para tentar aumentar as vendas, é natural que pressionem, em baixa, o preço de compra dos porcos. Por outro lado, sabemos que a oferta de porcos a nível europeu sazonalmente aumenta em Setembro e, se a oferta é superior à procura, o preço desce.

Além disso, há que acrescentar que, nalguns países do Norte da Europa (principalmente na Alemanha), continuam a haver bastantes problemas no desconfinamento: há atrasos na reabertura dos restaurantes, continua a haver muita gente positiva à Covid-19, o que impede que muita gente possa ir trabalhar para os matadouros e salas de desmancha. A falta destes trabalhadores atrasa os abates de animais e desmancha de carcaças, criando mais engulhos ao mercado do porco alemão e bem sabemos que o que se passa na Alemanha influencia o restante mercado europeu.

Como referi acima, continua a haver dificuldade na venda de carne para a China e isso reflecte-se na dificuldade que o mercado do porco na Europa tem em fazer escoar toda a carne que produz. E congelar carne não é uma boa opção até porque os matadouros crêem que os preços dos porcos poderão ainda descer mais e se congelam agora, correm o risco de não saber a que preço irão vender dentro de um par de meses, porque não sabem que quantidade de carne e a que preço a China está disposta a comprar a carne que lhe falta no mercado interno.

Por outro lado, e no que diz respeito ao mercado da China, que neste momento compra menos do que comprava há 1 ano devido ao aumento do efectivo que implicou um aumento da oferta interna de porcos para abate e de carne, na semana passada publicámos na secção Última Hora da 3tres3 uma notícia que indica que a oferta de porcos chinesa será inferior 14% em 2022 quando comparada a 2021 devido à redução de efectivo em função do aumento dos custos de produção e do contínuo aparecimento de focos de Peste Suína Africana mesmo em explorações de grande dimensão

Ora, a ser verdade esta previsão de redução de efectivo para 2022, a China terá que voltar aos mercados internacionais, europeu incluído, para comprar mais carne do que comprou em 2021 e esta informação, a confirmar-se, é uma excelente notícia para o mercado futuro do porco.

A grande questão é: e até lá, como se vão comportar as compras chinesas de carne de porco nos mercados internacionais? Que quantidade precisarão comprar? E que preço estão disponíveis para pagar por essa carne? São estas dúvidas que estão a pressionar negativamente o mercado europeu do porco.

Sabemos que a China terá que comprar carne aos grandes produtores mundiais de carne de porco, mas a quantidade que irão comprar e o preço que estão dispostos a pagar por essa carne irá determinar a evolução do mercado até ao Ano Novo chinês, que começa a 1 de Fevereiro de 2022.

Em Espanha a cotação desceu 0,036€/kg PV (+0,048/kg carcaça) para 1,197€/kg PV (1,596€/kg carcaça). Os pesos estão a subir, fruto de uma maior oferta de porcos, mas sobem menos do que o habitual para esta altura do ano e isso tem permitido que a descida da cotação não seja mais ampla. A oferta de porcos irá aumentando e os matadouros irão matando, mas será que conseguem matar todos os porcos que lhes são oferecidos nas próximas semanas? Já veremos como se desenrolará o mercado em Espanha até porque há uma grande diferença de preço entre os preços praticados no mercado espanhol e no mercado alemão e isso influencia o preço a que cada um dos países coloca os seus excedentes de carne no mercado da U.E.

Na Alemanha a cotação desceu 0,05€/kg carcaça para 1,25€/kg carcaça. Pelas contas da Mercolérida, a cotação é 0,97€/kg PV, ou seja, menos 0,23€/kg PV de diferença entre o preço dos porcos na Alemanha e em Espanha, o que implica que um porco de 110kg de PV custe mais 25,30€ em Espanha do que na Alemanha. Os pesos de carcaça estão nos 96,9kg.

A oferta de porcos é superior às necessidades do mercado, apesar de ser muito menor o número de porcos existentes na Alemanha do que aquele que havia há 2-3 anos atrás. As vendas de carne são difíceis e há grandes dificuldades em abater mais animais, não só pelas vendas fracas, mas também pela dificuldade em ter pessoal para trabalhar devido aos casos positivos de Covid, tal como referi acima. Com menos porcos produzidos na Alemanha, espera-se que por altura do Natal possa haver falta de algumas peças de carne mais consumidas nessa altura, mas os matadouros ainda vêem longe essa possibilidade.

Na Holanda a cotação desceu 0,04€/kg carcaça para 1,36€/kg carcaça. O mercado holandês dos suínos está muito ligado com o mercado alemão e como este último está mergulhado numa grande crise, o holandês também está. Tal como na Alemanha, as regras de desconfinamento na Holanda estão a deixar os matadouros e as salas de desmancha sem pessoal para trabalhar e isso impede que os abates se façam em maior quantidade. A carne também se vende mal e há muita carne congelada à espera de encontrar mercado.

Na Bélgica a cotação baixou 0,07€ para 0,80€/kg PV.

Na Dinamarca a cotação desceu 0,03€/kg carcaça para 1,17€/kg carcaça. A procura de carne de porco tem aumentado o que é um bom sinal para o mercado dinamarquês. Neste momento não se pode prever o que serão os próximos meses no que ao mercado do porco diz respeito, mas este aumento actual da procura de carne é muito positivo. No que concerne as vendas para Países Terceiros, as vendas para o Japão continuam estáveis, mas as vendas para a China são, em grande parte, de miudezas.

Em França a cotação desceu 0,06€/kg carcaça fixando-se em 1,335€/kg carcaça. Os pesos subiram 400g para os 94,8kg, e estão 200g acima dos pesos do ano passado na mesma semana. No início de Setembro o mercado em França tem sempre a influência das promoções feitas pelas lojas relativas ao regresso de férias e estas promoções estimularam o consumo de carne de porco, o que permitiu que as cotações em França não descessem tanto como nos restantes países europeus.

Estamos num momento crucial para o mercado do porco na Europa. Veremos para que lado ele pende, sabendo que a oferta de porcos irá aumentar e que a procura de carne poderá não acompanhar esse aumento da oferta.

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