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A incerteza do mercado do porco trouxe descida das cotações

Apesar do mercado se encontrar relativamente normal, houve uma descida de 0,03€/kg carcaça indicada pela Bolsa do Porco na segunda quinzena de Março.

3 de Abril de 2020

Com o aparecimento e disseminação da Covid-19, o mercado europeu do porco viu-se mergulhado nalguma incerteza, principalmente naquilo que diz respeito à limitação de movimentos de pessoas e refiro-me, mais particularmente, aos consumidores. Este restringir de movimentos, traz alguma maior lentidão à procura interna de carne.

Mas também a possibilidade de restrição de movimentos e de disponibilidade de trabalhadores para as unidades de abate, logística e transporte que são as que maior número de pessoas tem para desempenhar funções laborais, trazem grande incerteza às empresas pois nãos abem se, de um dia para o outro, poderão ficar sem trabalhadores caso comecem a aparecer positivos dentro das suas equipas de trabalho. Como se abatem os porcos? Como se transporta a carne? Como se transportam os porcos até aos matadouros? Como….Como? Além disso, começa a haver menos gente disponível para trabalhar, mesmo sem que estejam positivos à Covid-19, até porque há que cumprir a distância de 1,5m entre pessoas e há muita gente que ficou em casa para dar assistência aos filhos que não têm escola. Questões a gerir no dia-a-dia, mas que podem trazer muitas complicações no futuro próximo.

O mercado do porco, por ele mesmo, até que está bom e recomenda-se. É certo que houve descida na cotação dos porcos em todos os países europeus, mas essa descida não foi nenhuma hecatombe e as cotações, melhor ou pior, aguentaram-se em valores elevados.

O que quero dizer com isto? Que em relação aos porcos de abate, estes abatem-se nas quantidades que os matadouros querem e naquelas que os produtores oferecem. Mercado equilibrado e sem atrasos nos abates. Os pesos, esses, continuam elevados, mas porque é interessante para todos os agentes do mercado (produtores e matadouros) que os porcos sejam pesados.

Grande problema existe no mercado do leitão de assar. Há 2-3 semanas que não são abatidos leitões e a situação, da grande maioria dos produtores, é bastante complicada. Não só em Portugal, como também em Espanha. Neste momento, por um lado há uns milhares de leitões que estão a ser abatidos e cujas carcaças estão a ser congeladas, por outro há leitões que estão a ser engordados sendo que haverá mais porcos para abater dentro de 3-4 meses. Como é natural, os preços dos leitões para assar desceram abruptamente e estão a ser vendidos (os poucos que se comercializam) a valores muito abaixo do custo de produção.

Voltando ao mercado do porco em Portugal, após a grande procura de carne de há 2 semanas atrás, em que os consumidores quiserem armazenar carne com receio que houvesse escassez, o que se nota é que o mercado voltou a ter alguma normalidade no consumo, e nos volumes comprados pelos consumidores, o que permite que os abastecimentos dos pontos de venda sejam feitos sem sobressaltos.

Apesar do mercado se encontrar relativamente normal, houve uma descida de 0,03€/kg carcaça indicada pela Bolsa do Porco na segunda quinzena de Março. Portanto, a descida da última semana do mês foi igual à subida da primeira semana do mês. isto quer dizer que a cotação dos porcos seria a mesma do final de Fevereiro, mas será que é? Deixo a pergunta no ar.

Por outro lado, e apesar de haver algum equilíbrio no mercado nacional, pelo que comentam os espanhóis, a semana passada houve inúmeras ofertas de porcos portugueses e italianos para abate no mercado espanhol. Os espanhóis “rematam” esta informação com algum desdém dizendo que “no se han comprado ningún de estos cerdos”, ou seja, deram “tampa” aos porcos portugueses. Creio que isto serve de lição no que diz respeito à protecção dos mercados nacionais, que os espanhóis fazem e que os portugueses não! Toma e embrulha!

A nível europeu, o mercado também tem esta incerteza sobre as compras internas de cada país e as suas dificuldades em servir de carne os pontos de venda e nas dificuldades em servir de porcos os matadouros. De uma maneira geral, e sem ser a Itália, os restantes países estão com fluxos de fornecimento relativamente normais, seja de entrega de carne nos pontos de venda, seja na entrega de porcos aos matadouros para o abate. Em todo o caso, há menos consumo geral, visto que restaurantes, cantinas, refeitórios e etc continuam fechados.

Para além disso, com o retomar lento e paulatino da actividade económica na China, há aumento do ritmo de descarga nos portos chineses e isso nota-se na disponibilidade de contentores frigoríficos que começa a haver na Europa. Os contentores com carne de porco que estavam “presos” na China começaram a ser descarregados e retornam à Europa para serem novamente carregados e reenviados para o Ásia.

Por outro lado, os chineses tendo bem a noção das dificuldades que passaram para poder abastecer o mercado de carne de porco vinda da Europa, e com receio de que os portos europeus entrem em colapso por falta de gente para neles trabalhar devido ao aumento de infectado por Covid-19, aumentaram as suas compras de carne de porco e este comportamento ajuda a equilibrar, e muito, o mercado do porco na U.E.

Neste momento, a maior incerteza no mercado europeu é a possibilidade de que a Peste Suína Africana chegue à Alemanha. A semana passada foi declarado um foco de PSA numa exploração polaca com mais de 30 mil cabeças, mas que se situa a apenas 12km da fronteira com a Alemanha. Se aparece algum foco de Peste na Alemanha, o mercado europeu irá ressentir-se fortemente e esperam-se grandes descidas da cotação. Isto só não acontecerá caso a Alemanha já tenha conseguido convencer os chineses para aceitarem a regionalização do país e assim poderem continua a enviar carne de porco de zonas da Alemanha onde não há focos de Peste. Veremos o que nos trará o futuro próximo no que diz respeito às questões da sanidade animal.

No que dia respeito aos mercados, a Espanha desceu a sua cotação nesta quinzena, desta feita foram 0,067€/kg PV (+0,07€/kg carcaça) para 1,49€/kg PV (1,986€/kg carcaça). Os pesos baixaram cerca de 100g mas mantêm-se 3kg acima do peso do ano passado.

Na Alemanha, a cotação baixou 0,13€/kg carcaça para 1,89€/kg carcaça. A oferta de porcos continua a ser limitada, mas o pânico levou a esta descida acentuada da cotação. Neste momento o mercado já se encontra estabilizado e voltaram as manutenções na cotação. O peso médio baixou 200g para 96,8kg. O consumo na Alemanha está dividido em dois. Por um lado, não há consumo de pás por parte dos restaurantes, que estão fechados, mas aumentaram muito as vendas no retalho e isso favoreceu o mercado alemão.

Na Holanda a cotação desceu 0,10€/kg carcaça passando para 1,95€/kg carcaça. O medo de uma queda abrupta do mercado está a desaparecer e este volta a ter alguma normalidade. As vendas estão com um bom ritmo, o que favorece o mercado do porco.

Na Bélgica a cotação desceu 0,11€/kg PV para 1,30€/kg PV.

Na Dinamarca a cotação desceu 0,08€/kg carcaça fixando-se em 1,83€/kg carcaça. Os fornecimentos estão relativamente normais, apesar de haver alguns atrasos que são facilmente aceites pelos clientes. Há grandes reduções de vendas para a restauração, mas aumento no consumo dos lares dinamarqueses. Por outro lado, as compras chinesas estão a dar grande ânimo ao mercado da carne de porco europeia.

Em França a cotação desceu 0,027€/kg carcaça passando a cotação para 1,542/kg carcaça. Os pesos desceram 150g para 95,98kg (menos 130g que na mesma semana de 2019). As vendas de carne são relativamente complicadas devido ao encerramento dos restaurantes e de haver grandes problemas em termos de transporte em França. Há alguma cautela no mercado devido a todos os problemas ligados às medidas de contenção à Covid-19. As próximas semanas serão cruciais para definir os próximos capítulos do mercado francês do porco.

Com tanta incerteza e dificuldade, teremos que esperar pela evolução da propagação da Cond-19 e da não propagação da Peste Suína Africana para situar o mercado e tentar prever qual será o seu comportamento para os próximos meses.

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