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Caso clínico: Glasser

Diversos problemas podem causar mortalidade nas engordas. Neste caso foi a Lawsonia a causadora dos mesmos

5 Março 2007
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Descrição da Exploração



Trata-se de uma exploração de ciclo fechado, com cerca de 20 anos de idade, com 750 porcas LD x LW onde se produzem leitões para engorda e abate.

A exploração possui umas instalações bastante velhas, onde se fez pouca manutenção, e se foi construíndo à medida que as necessidades iam crescendo, tendo pouco cuidado com as exigências tanto de carácter higiénico, como de tomada de ar para a ventilação, resultando que o ar procedente de uns pavilhões, é o que ventila outros pavilhões, especialmente entre pavilhões de gestação e desmame.

Dado que a pior zona da exploração é a que corresponde às maternidades, reconstrói-se esta zona totalmente, dotando a mesma de um pavilhão corrido, onde se alojam 180 porcas, com umas separações mínimas, e manejando por filas, em vez de ser por lotes.

Segue-se uma tabela de vacinações simples, contra a doença de Aujezsky, em todo o efectivo, e parvovirus e mal Rubro após o parto.

Os leitões são imunizados contra micoplasma com duas doses de vacina.


Aparecimento do Caso



O responsável da exploração avisa-nos porque morreram um terço dos leitões nas baterias, com uma diarreia profusa, uma semana após o desmame.

Na visita à exploração podemos observar como os diferentes grupos de leitões apresentam um aspecto lamentável, começando já nos leitões com 48 horas após o desmame, até aos animais com três semanas de estadia nas salas, com parques cheios de fezes diarreicas, de cor acastanhada, animais desidratados, com pêlos hirsutos, descoloração da pele, colocados nos cantos dos parques, e presença de fezes em toda a superfície corporal. Havia alguma presença de dispneia, e tosses discretas. Havia alguns animais com artrite, mas não eram os casos mais importantes.

Dado que tinhamos antecedentes de casos de PRRS noutras épocas da exploração, tomamos as seguintes amostras:

• Água da zona das baterias
• 10 amostras de soro de leitões de 3 semanas
• 10 amostras de soro de leitões de 8 semanas
• 12 amostras de fezes e zaragatoas de recto, 4 de 8 semanas, 4 de 6 semanas e 4 de 5 semanas

Realizamos a necropsia de várias baixas daquele mesmo dia, onde observamos sobretudo a presença de enterite, com intestinos inflamados, cheios de um conteúdo amarelado, mas desigual, dependendo dos animais, e do momento da morte, não observando problemas respiratórios, se bem que alguns pulmões possam apresentar um aspecto matizado, com zonas de broncopneumonia intersticial, que poderiam indicar presença de vírus, sem chegar a ser muito intensos.


Análise e Tratamentos



Com as amostras recolhidas, fazem-se as seguintes determinações:

• Potabilidade da água
• Níveis de PRRS em ambos grupos
• Níveis de Lawsonia intracellularis, vírus entéricos, salmonela, espiroquetas, (B. pilosicoli), disenteria (B. hyodisenteriae) e coli enteropatógeno.

Até que não se obtenham resultados, aconselham-se os seguintes tratamentos:

• Colistina + lincomicina na água de bebida, para os animais alojados na actualidade nas baterias.
• Injecção com fluoroquinolona ou tulatromicina aos mais afectados, para observar que grupo de animais responde melhor a ambos tratamentos.
• Aconselha-se que todos os animais desmamados nas próximas semanas sejam injectados no momento do desmame com os mesmos antibióticos.


Visita à Exploração (dia 7)



No momento da visita encontramos uma descida ligeira das percentagens de baixas, mas com resultado irregular, de modo que apesar de que pareça que há uma ligeira melhoria, não parece que o processo se tenha detido.

Abrem-se novos leitões mortos na noite anterior, e confirmam-se os sinais anteriormente descritos, sem mais nenhuns novos dados.


Resultados das Análises



Segundo os boletins de análise recebidos, nas amostras podem-se apreciar os seguintes processos:

• Cerca de 70 % dos leitões de 3 semanas possuem anticorpos contra o vírus de PRRS, reduzindo-se para 50 % em animais de 8 semanas. Desta maneira, há uma percentagem importante de leitões que não apresentam anticorpos, e portanto são susceptíveis ao vírus. Por outra parte, entendemos que há na exploração sub-populações de porcas sensíveis ao PRRS, o que nos indicaria que a exploração tem uma desestabilização importante, podendo haver casos de surtos de doença em animais não expostos anteriormente, e portanto mais sensíveis.

• Para apoiar o diagnóstico, e tratar de determinar até que nível o problema está a afectar os animais, decide-se realizar um control das proteínas de fase aguda (PFA), já que o nível das mesmas, nos pode indicar o grau de stress a que estão submetidos os animais, quer pelo efeito de um processo infeccioso, quer por efeitos climáticos ou de alojamento, ou ainda por uma combinação de ambos. A proteína de fase aguda mais fiável é a PigMAP; pelo que se escolhe como marcador do stress. 100 % dos leitões apresentam uns níveis de PigMap superior a 2 em todos os casos, o que nos corroboraria a presença de um processo infeccioso que gere a produção de proteínas do stress, incrementando-se nas 8 semanas, que poderíamos entender como efeito da recirculação do vírus, e/ou a presença de outros patógenos nesse momento. Tampouco descartamos que parte destes altíssimos níveis de proteína nos indiquem problemas de alojamento, especialmente de qualidade da ventilação, tanto em quantidade como em qualidade do ar, e a impossibilidade de realizar um sistema “tudo dentro-tudo fora” eficaz.

• Há presença de animais positivos a Lawsonia, apesar da medicação que já tinham os leitões no momento em que se recolheram as amostras (amoxicilina e colistina).

• A água é potável.

Não se aconselham novas medidas medicamentosas, já que as indicadas são as de eleição para os problemas identificados.

Únicamente se sugere, dada a presençaa de Lawsonia, que se aplique a vacinação oral em vários lotes, e que se compare com lotes anteriores não tratados, mas este aspecto é rejeitado, devido à complicação da aplicação da vacina.


Visita à Exploração (dia 20)



Leva-se a cabo noutra exploração do mesmo suinicultor, devido aos imensos problemas que estava a ter na exploração velha, decide-se enviar um grupo de 200 leitões para as baterias da exploração nova, para ver se havia os mesmos problemas que anteriormente, com outro tipo de alojamento.

Ao fim de 48 horas, as baixas començaram a aparecer, mas ao realizar a necropsia das mesmas, observamos claramente na zona torácica uma poliserosite fibrinosa, com pericardite, e presença de fibrina amarelada em toda a superfície pulmonar e cardíaca.

Na zona abdominal, observamos uma peritonite fibrionsa, com material fibrinoso sobre a superfície do fígado e entre as asas intestinales.

Dadas as observações de vários animais com as mesmas lesões, concluímos que estão afectados por Haemophillus parasuis, estando frente a uma doença de Glasser aguda.

Ao observar este problema, recomendamos que se vacinem os leitões imediatamente com uma vacina comercial, mantendo as medicações anteriores, mas aplicando amoxicilina na água, acompanhada de colistina, para prevenir possíveis problemas colaterais.

Além deste tratamento, acompanha-se a ração com um acidificante, de forma continua, e durante duas semanas adiciona-se paracetamol no premix, com a finalidade de realizar uma prova de melhoria de aspecto.

Também se aconselha a vacinação e revacinação das porcas com vacina viva de PRRS, e fornecem-se umas tabelas de vacinação e adaptação de porcas nulíparas na exploração, já que provêem de uma exploração livre de PRRS e não se leva a cabo nenhuma acção neste sentido.

De uma mortalidade de 20% de animais nas duas primeiras semanas, passou-se, umas 8 semanas depois, para valores de 10 % e de 5 % ao cabo de 24 semanas.

Não obstante, o maneio deve ser muito cuidadoso, já que no momento em que algumas das medidas adoptadas não é levada a cabo rigorosamente, os problemas voltam a surgir, se bem que não com a intensidade das primeiras semanas.


Conclusões



Na exploração, no momento de començar com os problemas mais agudos, conviviam os seguintes problemas:

O PRRS, especialmente em grupos de nulíparas, que se iam instalando na exploração a intervalos irregulares, que procediam de uma exploração livre de PRRS, que não eram vacinadas nem adaptadas, e que portanto apresentavam ninhadas infectadas, com baixos níveis de anticorpos, não só para este vírus, como para o resto de processos.

Doença de Glasser, a qual encontrava um nível excelente de falta de imunidade em certos grupos de leitões, o qual proporcionava semana de problemas muito intensos, com mortalidades súbitas de um grande número de leitões, aos quais não se lhes observava nenhuma lesão típica da doença, e grupos com maior taxa de imunidade, que apresentava menores percentagens de mortalidade, mas muito alta morbilidade.

Este processo desencadeou-se na nova exploração, devido a que se trasladou um grupo de leitões mais protegidos, que com o stress da mudança permitiu a presença das doenças típicas, com lesões macroscópicas evidentes, que não puderam ver-se nas condições iniciais.

Lawsonia intracellularis, complicando os processos anteriores, se bem que num plano discreto.

A redução dos casos de baixas é muito evidente, desde que se aplica a vacinação, e ao mesmo tempo se reduz a pressão de infecção da exploração mediante o tratamento dos leitões, se bem que o facto de não ter um sistema “tudo dentro-tudo fora” na maternidade nem o desmame, assim como as condições de alojamento dos leitões desmamados, dificultam muito a possível erradicação e controle da doença.


Comentários



Os problemas de baixas de uma exploração de 750 porcas por acima de 20 %, fazem com que o responsável nos avise, e nos apresente os antecedentes. Os animais que observamos nas baterias apresentam diarreia, tosses ligeiras, pêlo hirsuto, descoloração e mortes fulminantes.

Nas necropsias não podemos observar nenhuma lesão que nos possa dar mais pistas que as que já observámos com os animais vivos, pelo que recolhemos amostras de soro, água e fezes, para realizar uma bateria de análises que possam esclarecer os problemas que observamos.

No final das mesmas, podemos constatar a presença de:

PRRS
Lawsonia intracellularis

Devido à persistência dos problemas, apesar dos tratamentos, faz-se uma mudança de leitões entre explorações, que provocam umas mortes onde se podem observar lesões concordantes com problemas de doença de Glasser, e que antes não se observavam por serem problemas sobreagudos, com mortes súbitas sem dar tempo à proliferação de fibrina.

Após este segundo quadro, complementa-se o tratamento antibiótico anterior, e aplicam-se as seguintes medicações:

• Amoxicila + colistina na água
• Fluoroquinolona injectável aos animais mais afectados
• Vacinação e revacinação à totalidade do efectivo de reprodutoras com vacina viva de PRRS
• Vacinação, revacinação e programa de adaptação às nulíparas, antes da sua integração na exploração
• Vacinação dos leitões contra a doença de Glasser
• Acidificação da ração

Desde os 26 % de mortalidade ao início do processo, esta reduziu-se para 10 % às 8 semanas, e para 5 % às 24 semanas. Não obstante, dados os problemas de alojamento e infraestrutura da exploração, no momento em que nalguna semana não se cumpram todos os requisitos indicados, costuma haver aumentos pontuais de mortalidade, que são rapidamente controlados mediante medicação injectável.

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