Passado: antecedentes históricos da introdução do porco em África
A história da produção de suínos em África estende-se por milénios e está profundamente ligada à evolução cultural, económica e agrícola do continente. O porco doméstico não é nativo de África e foi introduzido no continente tanto consciente como inconscientemente.
A introdução do porco em África pode resumir-se em cinco acontecimentos históricos:

- primeira introdução na costa norte de África através das rotas comerciais utilizadas pelos fenícios à volta do ano 1100 a.C.;
- era da exploração e colonização europeia: a partir do século XV, foi introduzido o gado, incluídos os porcos, como fonte de alimento habitual durante as longas viagens marítimas e para o sustento das novas colónias;
- comércio transatlântico de escravos: durante este período de deslocação forçada de milhões de africanos para as Américas, os comerciantes também transportavam porcos nos barcos, como fonte de alimento tanto para eles como para os escravos;
- actividades de missionários cristãos e colonos que chegaram a África e transportavam consigo porcos como parte dos seus esforços por implantar práticas agrícolas ocidentais no continente;
- importações recentes de porcos, modernização e produção comercial: a importação de raças suínas de outros continentes, especialmente Europa e América do Norte, contribuiu para a expansão do porco em África.
Situação actual da produção suína em África
1. Estatísticas actuais da produção suína em África
População suína em África
A população total de suínos em África representa aproximadamente 4,6 % da população mundial de suínos. O quadro seguinte mostra a distribuição atual por país com populações entre 1 e 10 milhões de suínos (FAOSTAT 2023):
País | População suína estimada (milhões de cabeças) |
---|---|
Nigéria | 9,51 |
Malawi | 8,07 |
Angola | 3,55 |
Uganda | 2,63 |
Moçambique | 2,32 |
Camarões | 2,18 |
Burkina Faso | 1,78 |
Madagáscar | 1,75 |
África do Sul | 1,32 |
Zâmbia | 1,16 |
República Centro-Africana | 1,07 |
República Democrática do Congo | 1,01 |

Produção de carne de porco em África
O registo da produção de carne de porco em África, em comparação com o seu censo, reflecte o impacto dos diferentes sistemas de produção presentes nas várias regiões do continente.
Produção de carne de porco em África: países líderes em produção suína (FAOSTAT 2023)
Países | Produção estimada de carne de porco (toneladas) |
---|---|
Nigéria | 363.123 |
África do Sul | 351.560 |
Malawi | 344.550 |
Burkina Faso | 224.127 |
Angola | 169.196 |
Moçambique | 136.637 |
Uganda | 128.310 |
Camarões | 48.560 |
Tanzânia | 44.420 |
Gana | 28.820 |
República Democrática do Congo | 27.416 |
Madagáscar | 26.500 |
Zâmbia | 24.249 |
Quénia | 20.460 |
Senegal | 19.798 |
República Centro-Africana | 19.471 |
Togo | 17.154 |

A consolidação da África do Sul como o segundo maior produtor de carne de porco em África (apesar de ser o nono maior em termos de número de animais) deve-se ao elevado nível de intensificação do sistema de produção de suínos e à utilização de genética comercial de alta qualidade na região, com raças mais produtivas, o que resulta numa maior eficiência em termos de mais carne por porco, bem como em pesos de abate mais elevados.



2. Sistemas de produção suína em África
Os actuais sistemas de produção de suínos no continente africano podem ser classificados nos seguintes tipos:
- Sistema tradicional de pastoreio: os porcos são mantidos à solta para se alimentarem a si próprios, com pouca ou nenhuma suplementação. Este sistema é comum principalmente nas comunidades rurais e em algumas zonas peri-urbanas de África. Embora este método tradicional possa parecer rentável para os agricultores rurais, coloca sérios desafios que afectam tanto a rentabilidade como a sustentabilidade das explorações de suínos em África, gerando impactos negativos que representam ameaças à biossegurança, como a transmissão de doenças, riscos para a saúde pública e baixa produtividade.
- Sistema de pequenos produtores: trata-se geralmente de uma produção de subsistência a pequena escala, onde famílias individuais criam poucos porcos.
- Sistema intensivo: operação comercial na qual um grande número de porcos se mantém confinados em meio controlado, seja sobre pavimento de betão ou sistemas de cama profunda. O nível de entradas é alto neste sistema, pelo que a taxa de crescimento e a produtividade são geralmente melhores.
- .Sistema em liberdade: nalgumas regiões da África do Sul, este sistema é dominante e único, uma vez que os porcos são mantidos em grandes campos onde se podem movimentar livremente nas pastagens ou no campo. Os suínos criados ao ar livre procuram uma parte da sua alimentação na forragem e são suplementados com alimentos provenientes de fontes naturais.
- Sistema de cluster: uma abordagem organizada em que os suinicultores de uma determinada área geográfica têm acesso a um conjunto de compartimentos/casas de criação compartimentados, na sua maioria propriedade do governo ou de cooperativas. Este sistema permite que os pequenos produtores tenham acesso a algumas das instalações das explorações de maior escala, mas coloca o desafio de manter uma boa biossegurança e controlar a transmissão de doenças.
3. Desafios da produção suína em África
O sector da suinicultura em África tem um grande potencial como motor essencial da segurança alimentar, da geração de rendimentos e do desenvolvimento rural. No entanto, enfrenta vários desafios que limitam o seu crescimento e sustentabilidade. Estes desafios incluem:
- Limitações genéticas: as raças tradicionais africanas caracterizam-se, na sua maioria, por uma baixa produtividade em termos de taxa de crescimento, eficiência de conversão alimentar e rendimento reprodutivo. O acesso às raças comerciais continua a ser limitado e deve ser progressivamente alargado.
- Falta de legislação e políticas: a fraca ou deficiente aplicação das políticas e regulamentos teve efeitos prejudiciais em múltiplos aspectos, como o controlo das doenças, as normas de qualidade e segurança, as práticas de criação, os preços e as normas de mercado, entre outros.
- Infraestrutura insuficiente: a produção de suínos em África continua a ser afectada pela falta de instalações modernas, pelo acesso limitado a alimentos de qualidade e a água, por redes de transporte deficientes e por matadouros e instalações de transformação de baixa qualidade.
-
Desafios sanitários ( Peste Suína Africana e outras doenças): a PSA é a doença mais relevante que afecta a indústria suína do continente. A sua rápida propagação deve-se, em grande medida, à ausência de normativas e políticas eficazes para o controlo das explorações, a comercialização e a transferência de porcos infectados para os matadouros, o uso de desperdícios alimentares contaminados e o movimento de animais criados em liberdade.
- Preferências religiosas e dietéticas e preconceitos culturais: em muitos países africanos com uma população muçulmana significativa, o consumo de carne de porco é proibido pelos preceitos alimentares islâmicos, o que reduz o tamanho do mercado. Além disso, em certas culturas africanas, o porco não integra parte tradicionalmente da dieta, o que provoca baixos níveis de consumo inclusive em zonas sem restrições religiosas.
- Falta de conhecimento técnico e capacitação: o acesso limitado a formação e conhecimento sobre as técnicas modernas de produção suína continua a ser um desafio para os pequenos produtores, que representam a maioria em muitos países. A falta de experiência em áreas como a reprodução, a nutrição, a inseminação artificial, o alojamento e as práticas de biossegurança limitou a produtividade e dificultou a adopção de técnicas de maneio mais avançadas, o que se traduz numa menor eficiência do sistema.
- Problemas relacionados com o mercado: como por exemplo, o elevado custo das matérias-primas para a alimentação, a escassa regulação dos preços do porco (principalmente determinados por intermediários) e o acesso limitado dos produtores aos mercados formais.
A produção suína em África conta com um importante potencial de crescimento e desenvolvimento. Se forem abordados os desafios existentes e aproveitadas as oportunidades, tanto nos mercados nacionais como nos de exportação, junto com os avanços tecnológicos, o investimento, a adopção de práticas sustentáveis e o apoio de políticas adequadas, o sector poderá conseguir melhoras significativas em produtividade, rentabilidade e sustentabilidade.
Com mais de 1.400 milhões de pessoas e uma projecção de crescimento até cerca de 2.500 milhões para 2050, a procura de proteína animal, incluída a carne de porco, está a aumentar de forma constante em África. Todas estas melhorias suporão uma oportunidade para o desenvolvimento do sector suíno em África.