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Caso clínico: Surto de diarreia pós-desmame no Leste da Europa

Os responsáveis pela área de transição dos sítios de desmame-engorda têm sérios problemas de diarreias nos últimos lotes, pelo que se colocou um grupo de técnicos e veterinários a trabalhar em equipa.

19 Julho 2012
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Descrição da exploração

A exploração deste caso pertence a um grande integrador e está situada nas planícies agrícolas romenas, no sudeste da Europa. A exploração começou há vários anos, numas antigas instalações da era comunista que se adaptaram para a criação moderna de porcos. As ampliações foram feitas por empresas especializadas na construção de explorações. As explorações de porcas encheram-se com 10.000 primíparas de uma empresa de genética inglesa. Estas porcas tinham 20% de genética Meishan, pelo que apresentavam um temperamento e um comportamento maternal excelentes. Nos últimos 5 anos realizou-se uma expansão, adquirindo 2.000 porcas de uma empresa de genética alemã; estes animais tinham um crescimento e uma conversão melhor, mas eram mais excitáveis e agressivas.

Alguns pavilhões de porcas eram positivos a estirpes europeias de PPRS, enquanto que o resto eram negativos. O controlo de PCV2b realiza-se mediante a vacinação dos leitões. A exploração é positiva à maior parte de doenças enzoóticas da Europa, incluindo gripe suína, Lawsonia e disenteria suína.

As porcas e as primíparas recebem vacinas comerciais contra E. coli (antígenes fimbriais K88 [F4], K99 e 987P), parvovirus, erisipelas e leptospirose. Os leitões vacinam-se às duas semanas de vida contra Mycoplasma e circovirus suíno com vacinas comerciais monodose.

A exploração está integrada com um grande fabricante de rações e um grande matadouro, pelo que a gestão tem uma configuração de "camadas múltiplas". Desde a fábrica de rações decidiu-se implementar algumas das recomendações europeias sobre aditivos da ração. Portanto recentemente se reduziram as doses de óxido de Zinco da ração de iniciação para menos de 200 ppm.

Sistema desmame-engorda

Os leitões desmamam-se tanto das primíparas como das multíparas aos 24 dias. A grande dimensão desta exploração faz que cada transição receba 2.000 leitões semanais. Cada sítio localiza-se numa área aisolada, a mais de 20 km de outras explorações. As instalações de desmame-engorda são excelentes, como pode ver-se na seguinte figura.

Figura 1. Típica nave de nueva construcción del este de Europa rodeada de fincas agrícolas.

Figura 1. Típico pavilhão de construção nova do Leste da Europa rodeada de explorações agrícolas.

Aparecimento do caso

Os responsáveis pela área de transição dos sítios de desmame-engorda têm sérios problemas de diarreias nos últimos lotes, pelo que se colocou um grupo de técnicos e veterinários a trabalhar em equipa.


Dando uma volta pelas transições realiza-se uma inspecção do aquecimento, sanidade e ventilação e dos gráficos de mortalidade de cada parque e as totais para estabelecer a mortalidade de cada secção. Leva-se a equipa aos parques afectados, onde podem observar a presença de diarreia (figura 2).

Figura 2. Diarrea amarilla y acuosa en proyectil en lechones de 5 semanas.

Figura 2. Diarreia amarela e aquosa em esguicho em leitões de 5 semanas.

A equipa confirmou clíiicamente que muitos leitões, apresentam diarreia amarela e aquosa em esguicho entre 7 a 14 dias após o desmame. Oos animais mantêm-se razoavelmente alerta, mas aprecia-se um aumento da mortalidade.

Recolheram-se amostras desta diarreia nos parques afectados do desmame e fizeram-se necropsias a uns quantos leitões com diarreia severa; observaram-se áreas intestinais congestionadas e dilatadas com conteúdo aquoso como se vê na figura 3.

Figura 3. Necropsia de un lechón afectado, nótese la dilatación de las asas del intestino delgado y grueso.

Figura 3. Necropsia de um leitão afectado, nota-se a dilatação de áreas do intestino delgado e grosso.

Enviaram-se para o laboratório algumas amostras frescas de fezes e intestinos. O diagnóstico diferencial nesta fase inclui E. coli, Salmonella, PCV, Lawsonia, TGE, PED e rotavirus.

Alguns dias depois receberam-se os resultados. Em conversas com o laboratório, confirmou-se que o cultivo das amostras intestinais em sangue e ágar McConkey apresentam crescimento de grandes colónias puras de coliformes Gm -, fermentadores de lactose, indol positivos, oxidase negativos e beta-hemolíticos. As reacções de aglutinação indicam a presença do antígene fimbrial K88 [F4] ++ típico de Escherichia coli enterotoxigénica (ETEC).

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Veterinary Laboratories AgencyAA

Veterinary Laboratories Agency
East Europe branch

Data de recepção 07/09/2010
Data de recolha 29/08/2010
Case Vet
Espécie / Raça Suíno / LW Landrace
Sexo / Idade Mixed / 4 weeks
Amostras Fezes x 10, Intestinos X 4

23jd
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Relatórios 1 e 2

Espécies Ref amostra Zona Isolado Ref Isolado
Suína 4 semanas Fezes E coli spp hemolítico IS23-00173
4 semanas Intestino E coli spp hemolítico IS23-00174

Soma-se uma informação de sensibilidade para a E coli hemolítica isolada do animal 4 semanas # 00174

Resultados do test: S - Sensível R - Resistente

Antibiótico Conteúdo do disco Resultado
Apramicina 15 µg S
Espectinomicina 25 µg S
Neomicina 10 µg S
Amoxicillina / Ácido clavulânico 30 µg S
Trimetoprim / Sulfametoxazol 25 µg S
Ampicilina 10 µg S
Enrofloxacino 5 µg S
Tetraciclina 10 µg R

Notas laboratoriais:

  1. Os organismos sensíveis à neomicina costumam ser sensíveis à framicetina.
  2. A ampicilina e a amoxicilina têem uma actividade similar.
  3. A enrofloxacina elege-se para representar as fluoroquinolonas permitidas (danofloxacina, marbofloxacina e enrofloxacina).
  4. Em geral há resistências cruzadas entre o grupo das tetraciclinas.

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Análise de resultados

Os sinais clínicos, necropsias e resultados laboratoriais sugerem que Escherichia coli entero-toxigénica (ETEC) colonizou o intestino de muitos leitões justamente depos do desmame, causando as típicas alterações celulares e a diarreia aquosa e amarela. A vacina de antígene fimbrial de E coli utilizada em porcas e primíparas proporciona uma imunidade lactogénica contra ETEC em leitões neonatos mas não protege a partir do desmame – ou seja, quando os leitões deixam de consumir anticorpos maternais.

A incidência de infecções por ETEC em porcos desmamados desceu a valores muito baixos desde os anos 80 com a introdução de óxido de Zinco na ração a níveis suficientes (1.500 a 3.000 ppm) nas dietas de iniciação. O óxido de Zinco tem uma acção específica antibacteriana ao danificar as membranas bacterianas e permitir a saída de conteúdo. Contudo, as recentes iniciativas legislativas europeias destinadas ao cuidado com o meio ambiente limitaram o seu uso geral limitando o seu uso nalgumas explorações.

Na exploração deste caso, a redução do uso do óxido de Zinco abaixo dos níveis efectivos comportou rapidamente o aparecimento de infecções clínicas por ETEC.

Medidas tomadas

A exploração começou a utilizar os antibióticos indicados pelo antibiograma na ração e na água na transição para limitar as perdas em mortalidade e produção. Utilizou-se sulfato de neomicina administrado oralmente a 100 ppm nalguns focos com pouca incidência de recuperação clínica. A colistina é considerada por alguns como o fármaco de eleição contra ETEC, sem uma indicação clara de resistências noos isolados Europeus. Contudo, a magnitude do problema nesta exploração comportava que a medicação de todos os leitões de focos recorrentes, tendo em conta a grande variedade de sítios desmame-engorda, com focos recorrentes cada 2 - 3 semanas, era cara e logisticamente difícil.

Voltou-se a incorporar o óxido de Zinco nas dietas de iniciação a níveis eficazes segundo prescrição veterinária e os sinais clínicos e as perdas reduziram-se em 2 semanas em todos os sítios.

Os sinais clínicos de alguns dos focos sugerem que havia estirpes de ETEC positivas a vero-toxina (shiga-like toxin) em alguns dos pavilhões.

As estirpes de E. coli e ETEC são um organismo frequente que se considera “incrustado” na maioria das explorações de porcos, presumivelmente nos parques, corredores, efluentes... Esta natureza integrada explica a sua presença constante em surtos e quando não se tomam as medidas adequadas.

Fizeram-se alguns progressos para uma vacina efectiva contra os problemas de ETEC ao desmame, por exemplo uma vacina que se está a desenvolver no Canadá e que se baseia num cultivo puro de E. coli avirulento, sem toxinas. Ao administrá-la aos leitões, une-se às células intestinais e activa a resposta do animal. Os anticorpos multiplicam-se rapidamente e previnem a colonização das bactérias ETEC patogénicas no intestino.

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