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Split-feeding em porcos de engorda. Tomada de decisões com a ajuda de um simulador

Vale a pena separar os animais por sexos utilizando diferentes programas alimentares para machos inteiros, fêmeas ou machos castrados?

Atualmente, no mercado da carne de porco branco, está-se cada vez mais a diferenciar dois tipos de produtos.

Por um lado, a carne de porco magra para vender em fresco, essencialmente da raça Pietrain, cujos resultados produtivos na engorda evoluíram relativamente a Índices de conversão e crescimentos para níveis muito parecidos ao do porco industrial (conversões inferiores a 2,5 e crescimentos superiores a 700 g/dia).

Por outro lado, um porco gordo e pesado, muito procurado pela indústria para presuntos, com uma infiltração de gordura que confere à carne um buquê distinto. Também aqui se conseguiram obter pesos ao abate elevados (acima de 120kg) e índices técnicos semelhantes aos que obtemos com porcos magros.

Tendo em conta esta nova situação na atual genética dos porcos, tanto a formulação como o maneio alimentar tiveram também de evoluir e ver a maneira de otimizar, tanto nos custos de produção como nos índices técnicos, para alcançar os níveis de rentabilidade mais elevados possível. Também se tiveram que explorar outras alternativas como separar os animais por sexos e utilizar diferentes programas alimentares (split-feeding) para machos inteiros, fêmeas ou machos castrados.

O normal até agora é engordar no mesmo pavilhão e com o mesmo programa alimentar tanto porcos castrados como as suas respetivas irmãs. A questão é saber se faz sentido separar os machos das fêmeas? É rentável melhorar os índices de conversão sem prejudicar economicamente o custo de reposição? Ou haverá que fazer diferentes programas de alimentação segundo se queira melhorar a conversão ou o custo de reposição?

Para responder a estas perguntas utilizámos o modelo de gestão de engordas Watson, que permite simular diferentes possibilidades nutricionais, com o foco no porco morfologicamente gordo, e procurando otimizar o custo de reposição, por ser o parâmetro que consideramos de maior importância.

Fazendo vários estudos e simulações com o mencionado modelo, excluímos, por não aportar melhoria no custo, o uso de diferentes gamas de ração relativamente à relação aminoácidos/energia em machos e fêmeas, pelo que nos centraremos na gama que menor custo consegue no conjunto do lote e simulamos diferentes possibilidades ao variar as quantidades aportadas de cada ração.

Na tabela 1 pode observar as diferenças obtidas no índice de conversão e custos de reposição, conforme estamos diante de fêmeas (♀), apenas machos castrados (⚦) ou mistura de machos castrados e fêmeas (♀ + ⚦) para as mesmas quantidades de ração pré-fixadas de um programa de alimentação de 5 rações (tabela 2).

Tabela 1. Resultados obtidos na engorda segundo se trate de fêmeas, machos castrados ou a mistura de ambos com um programa de alimentação inicial que consta de 5 rações.

  1 2 3
  ♀ + ⚦
Peso inicial (kg) 21,81 21,81 21,93
Peso carcaça quente (kg) 93,3 96,2 95,4
Peso carcaça fria (kg) 91,5 94,3 93,4
Espessura gordura dorsal (mm) 19,1 21,6 20,7
Rendimento (%) 79,8 79,9 79,9
Rendimento magro (%) 58,4 56,4 57,1
Duração engorda (dias) 115,5 115,5 115.5
Peso vivo saída exploração 117,1 120,5 119,5
Ganho médio diário (g) 830 860 850
Consumo médio diário (kg) 2,03 2.33 2,14
Índice de conversão (IC) 2,45 2,71 2,52
Custo reposição (€/kg) 0,591 0,649 0,605

 

Tabela 2. Quantidades pré-fixadas de ração (kg) em cada uma das 5 fases do programa inicial de alimentação.

  ♀ + ⚦ g lisina SID /EN
Fase 1 20 20 20 4,1
Fase 2 50 50 50 3,7
Fase 3 70 70 70 3,2
Fase 4 70 70 70 2,9
Fase 5 30 30 30 2,7

Veremos como partindo de um programa de alimentação de 5 rações para porcos de morfologia gorda, com umas quantidades pré-fixadas com base no ótimo teórico, podemos ir fazendo diferentes simulações para ver de que forma podemos melhorar o custo de reposição, variando as quantidades de ração nas distintas fases de alimentação.

Ao separar machos castrados de fêmeas, no cenário de referência, pode observar-se que com igualdade de maneio, as fêmeas são melhores tanto no índice de conversão como no custo de reposição, se compararmos com os machos castrados ou com a mistura de machos castrados e fêmeas (tabela 1), coincidindo com outros trabalhos publicados anteriormente (Castell, Cliplef, Poste-Flyn e Butler, 2016). Os machos castrados são os que apresentam os piores resultados (tabela 1).

Se continuarmos a analisar as diferentes possibilidades com as fêmeas, vemos que o simulador otimiza os resultados (tabela 3) aumentando as quantidades de ração nas fases iniciais e diminuindo a das fases posteriores (tabela 4) em relação ao programa inicial. Assim, obtemos uma melhoria de 40 gramas no índice de conversão e a melhoria no custo de reposição poderá chegar até 0,006 € por kg reposto.

 

Tabela 3. Resultados obtidos na fase de engorda em fêmeas, otimizando as quantidades de ração proporcionadas a partir do programa inicial para melhorar o custo de reposição.

  melhor conversão

melhor custo reposição

Peso inicial (kg) 21,81 21,81 21,81
Peso carcaça quente (kg) 93,3 92,4 92,6
Peso carcaça fria (kg) 91,5 90,6 90,7
Espessura gordura dorsal (mm) 19,1 18,3 18,7
Rendimento (%) 79,8 79,8 79,8
Rendimento magro (%) 58,4 59,2 58,8
Duração engorda (dias) 115,5 115,5 115,5
Peso vivo saída exploração 117,1 116,0 116,2
Ganho médio diário (g) 830 820 822
Consumo médio diário (kg) 2,03 1,97 1,99
Índice de conversão (IC) 2,45 2,41 2,42
Custo reposição (€/kg) 0,591 0,588 0,585

 

Tabela 4. Quantidades de ração (kg) proporcionadas para fêmeas em cada uma das 5 fases do programa alimentar para melhorar o custo de reposição.

  melhor conversão melhor reposição
Fase 1 20 20 13
Fase 2 54 122 79
Fase 3 67 62 99
Fase 4 71 18 32
Fase 5 30 10 13

No caso dos machos castrados, a simulação dá resultados de sentido contrário, neste caso as quantidades a utilizar das diferentes rações aumentam nas fases finais (tabela 6); dando como resultado uma melhoria tanto no índice de conversão como nos custos de reposição. O custo de reposição chega a ser de 0,034€/kg reposto, que representa 3,4€/porco (tabela 5).

 

Tabela 5. Resultados obtidos na fase de engorda para machos castrados otimizando as quantidades de ração proporcionadas referentes ao programa inicial para melhorar o custo de reposição.

   melhor conversão melhor custo reposição
Peso inicial (kg) 21,81 21,81 21,81
Peso carcaça quente (kg) 96,2 96,3 95,9
Peso carcaça fria (kg) 94,3 94,2 93,9
Espessura gordura dorsal (mm) 21,7 21,6 22,1
Rendimento (%) 79,9 79,9 79,9
Rendimento magro (%) 56,4 56,6 55,9
Duração engorda (dias) 115,5 115,5 115.5
Peso vivo saída exploração 120,5 120,4 120,1
Ganho médio diário (g) 860 860 856
Consumo médio diário (kg) 2,33 2.25 2,21
Índice de conversão (IC) 2,71 2,61 2,58
Custo reposição (€/kg) 0,649 0,635 0,615

 

Tabela 6. Quantidades de ração (kg) proporcionadas para machos castrados em cada uma das 5 fases do programa de alimentação para melhorar o custo de reposição.

 

  melhor conversão melhor custo reposição
Fase 1 20 20 20
Fase 2 55 117 10
Fase 3 74 62 95
Fase 4 68 63 99
Fase 5 46 0 40

 

Conclusões

Com o mesmo programa alimentar e otimizando as quantidades de ração a fornecer no caso de machos castrados e fêmeas podemos concluir que, como consequência dos diferentes níveis de velocidade de crescimento, ingestão e deposição de gordura em ambas as populações, é interessante utilizar programas alimentares diferentes. Se bem que as diferenças conseguidas não sejam espetaculares, especialmente no índice de conversão, sim, são importantes tendo em conta os volumes que movimentam atualmente as empresas do setor e, dada a escassez de margens, qualquer melhoria por pequena que seja é importante.

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