Entre as limitações fisiológicas dos leitões na fase pós-desmame (PD) está a baixa secreção de ácido clorídrico, essencial para a digestão das proteínas. Isto, aliado à ingestão de ração volumosa, dificulta o alcance de um pH gástrico entre 2 e 3. Existe um elevado risco de a proteína chegar ao intestino sem ser digerida, tornando-se substrato para o crescimento de bactérias patogénicas e, consequentemente, causando problemas digestivos.
Assim sendo, em relação à apresentação do produto, procuram-se ingredientes que forneçam nutrientes, mas também funcionalidade, com o objectivo de:

- aumentar o tempo de retenção gástrica para facilitar a hidrólise das proteínas;
- proporcionar um maior contacto entre os alimentos e as enzimas;
- reduzir a fermentação das proteínas não digeridas no intestino.
Para atingir este objectivo, podemos considerar vários factores da apresentação da ração: 1) viscosidade, 2) tamanho e distribuição das partículas, 3) tamanho dos grânulos e 4) dureza e durabilidade dos grânulos.
1) Viscosidade: Para aumentar a retenção gástrica, as propriedades reológicas das matérias-primas, como a sua viscosidade, podem ser modificadas, com o objectivo de conseguir um equilíbrio entre a segurança digestiva e o nível de saciedade, dado que, se a dieta for muito densa (pouco viscosa), o porco sentir-se-á saciado e reduzirá o consumo.
O processamento térmico permite modificar a viscosidade dos ingredientes, embora o seu efeito varie consoante o tipo de ingrediente.
Por exemplo, sob o mesmo tratamento térmico, a viscosidade da cevada e do trigo aumentou, enquanto não se observaram alterações significativas no milho (Huting et al., 2021; Figura 1). Isto deve-se ao maior teor de polissacarídeos solúveis não amiláceos presentes na cevada e no trigo, em comparação com o milho. Devido à sua maior solubilidade, estes compostos aumentam a viscosidade após o processamento térmico, o que pode levar a um maior tempo de retenção gástrica.

No entanto, Martens et al. (2019) demonstraram que o processo de digestão gástrica altera as propriedades físico-químicas do alimento, dificultando a previsão do seu comportamento no trato gastrointestinal. Um estudo recente avaliou o potencial das propriedades reológicas do alimento para prever o tempo de retenção e a segregação do conteúdo digestivo ao longo do trato gastrointestinal. Os resultados indicaram que a capacidade de retenção de água dos alimentos pode ser útil para prever a segregação do conteúdo digestivo no estômago, enquanto as propriedades reológicas dos alimentos não conseguiram prever o seu comportamento ao longo do trato intestinal (Dorado-Montenegro et al., 2025).
2) Tamanho da partícula: Controlar o tamanho das partículas da ração é importante porque influencia a função gástrica e intestinal, a digestibilidade e a saúde gastrointestinal. Estudos científicos recentes mostram que, no início da fase de transição, as rações moídas grosseiramente podem ser benéficas para promover a retenção gástrica e reduzir o risco de patologias digestivas. Mas a que valores nos referimos por moagem grosseira? Warneboldt et al. (2016) obtiveram valores de pH gástrico de 2,5 com uma dieta de farinha grossa com 53% de partículas > 1 mm, enquanto que com uma dieta granulada com 54% de partículas < 0,2 mm, o pH gástrico foi de 5. Outros estudos observaram que, em termos de saúde intestinal, a inclusão de 4% de sêmea de trigo moído grosseiramente (1088 µm) reduz a adesão de E. coli durante as 2 semanas de PD e aumenta a produção de ácidos gordos de cadeia curta no intestino delgado distal (Molist et al., 2010).
Recomenda-se o controlo do tamanho e distribuição das partículas, trabalhando com dietas que contenham entre 7,5% e 10% de partículas com um tamanho superior a 1,5 mm para promover a saúde gastrointestinal dos leitões após o desmame.
Durante o processo de granulação, o tamanho das partículas é reduzido devido às forças físicas e térmicas. Naeem et al. (2024) observaram um aumento de 124% nas partículas inferiores a 0,5 mm após o processo de granulação.
A análise da distribuição do tamanho das partículas após a granulação é complexo, mas crucial para a saúde digestiva e para a produtividade.
Naeem et al. (2024) desenvolveram uma equação de previsão para o tamanho das partículas pós-granulação com base no tamanho das partículas pré-granulação, embora a sua aplicação prática seja difícil devido à variabilidade na qualidade da matéria-prima. Por outro lado, a Vestyllands Andel criou o “VA SizeMatters”, em 2021, um sistema automatizado de medição do tamanho das partículas para cada lote de produção. Assim sendo, temos ferramentas, como a equação de previsão e o sistema automatizado de medição do tamanho das partículas, que, quando combinadas, podem ser úteis.
3) Tamanho do granulado: Na produção suína, a maioria dos leitões recebe ração em grânulos pequenos (1,8 mm de diâmetro) durante os primeiros dias pós-parto (DP). No entanto, estudos científicos mostram que os leitões preferem grânulos de 12-13 mm em comparação com grânulos de 2-3 mm (Van den Brand et al., 2014; Clark et al., 2015), e observou-se um maior crescimento e ingestão de ração, com menor mortalidade aos 21 dias DP, em leitões alimentados com grânulos de 9x12 mm em comparação com grânulos de 4x4 mm (Craig et al., 2020).
4) Dureza e durabilidade do granulado: De acordo com os resultados até agora referidos, os leitões após o desmame preferem um granulado com moenda grossa, com grânulos grandes, que também cumpram os padrões de qualidade de durabilidade e dureza, com valores superiores a 95% e 1,8–2,3 kg/mm, respectivamente. De facto, observou-se um aumento no consumo de ração durante todo o período de desmame à medida que a dureza da ração foi reduzida de 3,1 para 1,8 kg/mm (Molist et al., 2021).

Neste ponto, surge a seguinte questão relativamente à qualidade dos grânulos: podemos obter grânulos de alta qualidade com partículas grandes e grossas? Se os cereais forem moídos grosseiramente para reduzir o teor de partículas finas após a granulação, a qualidade dos grânulos pode ser negativamente afectada, uma vez que as partículas grossas criam "pontos fracos" na estrutura do grânulo (Thomas e van der Poel, 1996).
Uma possível estratégia para alcançar a estrutura desejada é combinar um moinho de martelos com um moinho de rolos. Observou-se que a durabilidade dos grânulos diminui com a moagem mais grosseira do milho num moinho de martelos, em comparação com a moagem num moinho de rolos em diferentes tamanhos (Vukmiroic et al., 2015, Figura 2).

Por outro lado, outra estratégia para obter grânulos de elevada qualidade poderá ser aumentar a distância entre o rolo e a matriz. Na prática, são utilizadas distâncias de 0,3 a 0,5 mm, mas observou-se que o aumento desta distância para 1,15 e 2 mm mantém a qualidade dos grânulos, mesmo com o aumento do diâmetro de moagem por martelo de 3 para 6 e para 9 mm (Vukmiroic et al., 2016, Figura 3). No entanto, este aumento da distância pode levar ao entupimento da prensa, à redução da velocidade de produção e ao aumento do consumo de energia.

Reflexões gerais
Durante os primeiros dias após o desmame, é essencial estimular a ingestão de ração, fornecendo simultaneamente um alimento rico em nutrientes e com propriedades funcionais que promovam a saúde gastrointestinal, a digestão e a absorção de nutrientes. De acordo com estudos recentes, e em termos de apresentação da ração, um alimento que promova a retenção gástrica e estimule a ingestão pós-desmame, ao mesmo tempo que protege a saúde digestiva, traduz-se numa ração granulada de tamanho grande, com dureza intermédia de 1,8–2,3 kg/mm e perfil de moagem grossa (7,5–10% de partículas maiores que 1,5 mm). No entanto, este tipo de ração apresenta um desafio de fabrico.

