As genéticas modernas de alto rendimento necessitam uma nutrição precisa desde uma idade precoce para preparar as reprodutoras para um rendimento ideal e mantê-lo ao longo das suas vidas produtivas, permitindo-lhes expressar plenamente o seu potencial.
As reprodutoras actuais são mais produtivas (Figura 1) e mais pesadas, apresentando, por isso, maiores necessidades nutricionais. Por terem sido seleccionadas para serem mais magras, têm menos reservas de gordura corporal do que as reprodutoras de genótipos não melhorados. As reprodutoras actuais são menos resistentes aos desafios ambientais, imunológicos e nutricionais (Silva et al., 2009 e 2013).


Gráfico 1: Evolução dos Nascidos Totais por ninhada na base de dados BDporc desde 2008 até 2024. É apresentada a média e os diferentes percentis. Ver secção Comparador de dados reprodutivos na 3tres3.
A selecção para a prolificidade afecta negativamente o estado catabólico da porca durante a lactação e, consequentemente, o rendimento das suas ninhadas (Foxcroft, 2008). Isto requer um maneio nutricional mais preciso.
Vitaminas: maior produtividade = maiores necessidades
As vitaminas são essenciais para a vida e bem-estar animal. Desempenham funções metabólicas, facilitando tanto a síntese como a degradação dos nutrientes.
A maioria não pode ser sintetizada pelos animais, pelo que devem ser obtidas através da dieta (suplemento vitamínico). Uma ingestão sub-óptima ou deficiente de vitaminas acarreta o risco de impedir a produtividade ideal e até mesmo levar a sinais e perturbações de deficiência clínica.
Dada a rápida evolução das principais genéticas, os requisitos mínimos de referência tornaram-se obsoletos e necessitam de ser actualizados (Tabela 1). Diversas empresas de melhoramento genético desenvolveram as suas próprias recomendações para garantir que os seus animais satisfazem as necessidades nutricionais decorrentes do seu crescente potencial genético. Estes requisitos acrescidos devem ser combinados com as limitações legais existentes (vitamina A 12.000 UI e vitamina D 2.000 UI na União Europeia).
Tabela 1. Requisitos mínimos de vitaminas para porcas gestantes (elaboração própria)
NRC 2012 |
PIC | DanBred | Topigs | Média | ||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Vit A (UI/kg) |
4 000 | 9 920 | +148% | 10 000 | +150% | 10 000 | +150% | +149% |
Vit D (UI/kg) |
800 | 1 985 | +148% | 2 000 | +150% | 1 800 | +125% | +141% |
Vit E (UI/kg) |
44 | 66 | +50% | 60-100 | +82% | 80 | +82% | +71% |
Á. fólico (mg/kg dieta) |
1,3 | 1,3 | - | 2,5 | +92% | 4,0 | +207% | +99% |
Vit B6 (mg/kg) | 1,0 | 3,3 | +230% | 3,2 | +220% | 3,5 | +250% | +233% |
Minerais
Os minerais são necessários para uma saúde óptima e para o desenvolvimento de funções fisiológicas normais (crescimento, manutenção, reprodução).

Figura 2: Componentes da produtividade da porca. Papel dos oligoelementos. (Close 1999). Nota: USPs: proteínas secretoras uterinas). Ver artigo Uso de microminerais orgânicos nas dietas para porca na 3tres3.
Tal como acontece com as vitaminas, as necessidades mínimas aumentaram (Tabela 2) e a deficiência pode afectar tanto a porca como a sua descendência.
Tabela 2. Necessidades mínimas de minerais vestigiais para porcas gestantes (elaboração própria)
NRC 2012 |
PIC | DanBred | Topigs | Média | ||||
---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Fe (ppm) | 80 | 130 | +62,5% | 90 | +12,5% | 100 | +25% | +84% |
Zn (ppm) | 100 | 120 | +20% | 100 | - | 110 | +10% | +10% |
Cu (ppm) | 10 | 18 | +80% | 15 | +50% | 15 | +50% | +53% |
Mn (ppm) | 25 | 50 | +100% | 40 | +60% | 50 | +100% | +99% |
Se (ppm) | 0,15 | 0,3 | +100% | 0,3 | +100% | 0,3 | +100% | +100% |
Mas na formulação devem ser também consideradas as limitações legais existentes devido aos aspectos ambientais:

- Cobre: 25 mg
- Zinco: 150 mg
- Selénio: 0,5 mg
Dadas as maiores necessidades por parte dos animais e uma limitação nos níveis de inclusão, aumenta a necessidade de incorporar ingredientes de maior biodisponibilidade, sendo interessante o uso de minerais orgânicos.
Problemática actual:
Observa-se que as principais causas de eliminação/retirada e abate das reprodutoras são devidas a problemas por falhas reprodutivas e locomotoras (tabela 3):
Tabela 3. Percentagem de porcas abatidas e causa de abate
Hadaš et al. | Engblom et al. | Balogh et al. | Wang et al. | |
---|---|---|---|---|
Falha reprodutiva | 34,0 | 26,9 | 47,0 | 34,65 |
Problemas de aprumos | 27,0 | 8,6 | 25,0 | 10,53 |
Mau rendimento | 18,0 | 9,5 | N/A | 5,0 |
Problemas mamários | 8,0 | 18,1 | N/A | 6.71 |
Velhas | 1,0 | 18,7 | 7,0 | 1,56 |
Outros | 10,0 | N/A | 5,0 | 2,26 |
Belkova et al. 2022
Vamos detalhar como, com uma nutrição vitamínica e mineral ideal, podemos reduzir estes problemas.
A vitamina D melhora a biodisponibilidade e a digestibilidade do cálcio e do fósforo, participando no metabolismo de ambos os minerais. É sintetizada pela luz solar (indisponível nos animais alojados) e deve ser incorporada na dieta (suplemento vitamínico). A forma habitual de ingestão de vitamina D é a vitamina D3, que, após ingestão e absorção, é hidrolisada no fígado e entra na corrente sanguínea como metabolito circulante 25(OH)D3 (Figura 3).

Figura 3. Metabolismo e função da homeostase do cálcio. Adaptado de Zieminska et al. 2021.
Quando a função hepática está abaixo do ideal, o fígado actua como um estrangulamento e a síntese de 25(OH)D3 fica comprometida, resultando em níveis plasmáticos abaixo do ideal.
A 25(OH)D3 pode ser fornecida através de um suplemento vitamínico, contornando este estrangulamento e garantindo assim níveis plasmáticos ótimos (Figura 3).

Figura 4: Níveis plasmáticos de 25-OH-D3 em função da origem dietética e momento do ciclo reprodutivo (36 porcas monitorizadas durante 4 ciclos; 9 porcas por tratamento; 5 recolhas de amostra de sangue por ciclo). Weber, 2013.
Como é que a presença de vitamina D afecta os processos?
A vitamina D, especialmente a forma 25(OH)D3, melhora a biodisponibilidade, aumentando a digestibilidade do cálcio e do fósforo e participando no metabolismo de ambos. Assim sendo, a sua presença afecta os processos em que estes minerais participam, tais como:
- a saúde óssea e articular;
- processos reprodutivos em que o cálcio está envolvido.
Quer melhorar a saúde óssea? Explore a interacção entre o cálcio, o fósforo e a vitamina D.
Um maior nível circulante de 25(OH)D3 melhora a mineralização e força óssea
Figura 5: Evolução da qualidade do osso em função da fonte de Vitamina D e dose (estudo realizado em porcos de crescimento-engorda). Fonte: Simões Nunes et al. 2006 (não publicado).
Cálcio: um anti-nutriente muito necessário
Para optimizar a saúde óssea, é essencial uma relação cálcio/fósforo adequada. Devemos controlar a ingestão de carbonatos considerando a relação cálcio/fósforo, como indicado em muitas recomendações nutricionais de diferentes grupos genéticos (Tabela 4).
Um excesso de cálcio nas rações tem um impacto negativo na digestibilidade de outros nutrientes, especialmente o fósforo.
Tabela 4. Recomendações nutricionais “genética Danbred”
Necessidades multíparas | Gestantes | Lactantes |
---|---|---|
EN (KCal/kg) | 2 200 | 2 400 - 2 450 |
PB (%) | 12-14 | 15-17 |
FND (%) | 18-24 | 14-15 |
Fibra solúvel (%) | 5-6 | 4,5 |
Ca / P (analítico) | 1,3 - 1,5 | 1,3 - 1,5 |
P digestibilidade standart (%) | 0,30 | 0,35 |
Lisina DIE (%) | 0,50 - 0,52 | 0,95 - 1,02 |
Metionina + Cisteína (DIE) / Lisina (DIE) (%) | 0,68 | 0,60 |
Treonina (DIE) / Lisina (DIE) (%) | 0,74 | 0,65 |
Triptófano (DIE) / Lisina (DIE) (%) | 0,19 | 0,20 |
Isoleucina (DIE) / Lisina (DIE) (%) | 0,58 | 0,55 |
Valina (DIE) / Lisina (DIE) (%) | 0,72 | 0,75 |
Problemas reprodutivos: a necessidade de ter Cálcio disponível
A falta de cálcio disponível na corrente sanguínea (hipocalcemia) é um dos principais problemas com que as porcas se deparam na fase mais próxima do parto. Este problema afecta:
- o início da produção de leite;
- contrações musculares deficientes, resultando em partos mais lentos e difíceis, aumentando o número de nados-mortos;
- rendimento e viabilidade da ninhada.
Portanto, garantir a disponibilidade de cálcio através de concentrações plasmáticas adequadas de 25(OH)D3 tem um impacto tremendo no rendimento reprodutivo:
- melhora a dinâmica do parto, reduzindo o intervalo de expulsão entre leitões (Figura 6);
- a maior disponibilidade de cálcio no início da lactação leva a uma produção de leite mais rápida, o que tem um efeito positivo no desempenho e na viabilidade da ninhada.

Figura 6: Efeito do modo de administração da Vit D e suas doses na dinâmica do parto.
Tabela 5: Efeito da forma de administração de vitamina D no rendimento reprodutivo.
Vitamina D3 | 25OH-D3 | P | |
---|---|---|---|
Número de porcas | 5 422 | 5 413 | - |
Abortos | 168 | 112 | <0,01 |
Leitões desmamados | 10,94 | 11,26 | <0,01 |
Peso ao desmame (kg) | 6,34 | 6,48 | <0,05 |
Mortalidade pré-desmame | 9,28 | 6,81 | <0,05 |
Melhorando a biodisponibilidade dos minerais
Por último, assegurar a biodisponibilidade dos minerais (uso de minerais orgânicos ”MO” face a inorgânicos “MI”) tem efeitos positivos sobre a incidência dos principais problemas locomotores e reprodutivos comentados (figura 7):
Figura 7. O uso de minerais orgânicos, com maior biodisponibilidade, tem efeitos em determinados parâmetros que determinam o rendimento reprodutivo.
Uma formulação cuidadosamente equilibrada, apoiada em tecnologias que melhoram a disponibilidade de nutrientes, irá satisfazer as elevadas exigências de produção dos animais actuais, que têm uma margem fisiológica reduzida, ao mesmo tempo que cumpre com as rigorosas regulamentações em vigor.