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Evidências crescentes sobre fitogénicos: fortalecem a resiliência dos leitões ao desmame

Um dos principais desafios durante o desmame é a diarreia pós-desmame, que afeta quase 25% dos leitões dos países europeus. Uma estratégia promissora para promover a resiliência e ajudá-los a lidar com o stress do desmame pode incluir, entre outros, o uso de fitogénicos.

O desmame representa um dos momentos mais críticos na vida de um leitão. Após o desmame, os leitões apresentam frequentemente uma quebra na ingestão de ração e alterações na microbiota intestinal, o que pode levar a um desequilíbrio no ambiente intestinal, também conhecido como disbiose bacteriana. Isto aumenta a suscetibilidade a agentes patogénicos como a Escherichia coli enterotoxigénica (ETEC). Esta estirpe de E. coli, especialmente os tipos F4 e F18, é a principal causa de diarreia pós-desmame, afetando quase um em cada quatro leitões na Europa.

Tradicionalmente, os antibióticos e as doses elevadas de óxido de zinco (ZnO) têm sido utilizados para controlar os desequilíbrios intestinais e combater as infeções durante este período. No entanto, com a proibição do uso de antibióticos nas rações pela União Europeia (2006) e a mais recente proibição do uso terapêutico de ZnO (2022), os suinicultores foram obrigados a adotar novas práticas de maneio e nutrição. Neste contexto, os fitogénicos surgem como uma alternativa interessante.

Definição e mecanismos de ação

Os fitogénicos são compostos bioativos de origem vegetal, como óleos essenciais, ervas, especiarias e outros extratos botânicos. Estas substâncias são há muito reconhecidas pelos seus efeitos benéficos para a saúde humana e animal e estão agora a ganhar força como uma ferramenta fiável para auxiliar os leitões durante o desmame (Madesh et al., 2025). No entanto, os seus mecanismos de ação dependem das substâncias ativas envolvidas. Outros parâmetros, como o género da planta, a sua localização, o clima, a colheita e o método de produção, influenciam o tipo e a concentração das substâncias ativas e são essenciais para a sua obtensão (Biswas e Kim, 2025).

Para maximizar a eficácia de uma solução fitogénica, é importante compreender que, dentro de uma única planta, existem efeitos sinérgicos entre diferentes substâncias. Além disso, existem efeitos sinérgicos dentro do mesmo grupo de substâncias e entre grupos de substâncias. A combinação destes efeitos desencadeia múltiplos mecanismos de ação.

Benefícios dos fitogénicos para os leitões

Os fitogénicos podem promover a ingestão de ração, o crescimento e a saúde gastrointestinal dos leitões desmamados (Figura 1).

Figura 1. Mecanismos de ação de diferentes fitogénicos
Figura 1. Mecanismos de ação de diferentes fitogénicos

Os fitogénicos incluem uma grande variedade de compostos bioativos com múltiplos mecanismos de ação:

  • podem interromper a comunicação (quorum sensing) de bactérias indesejáveis, ajudando a reduzir a formação de biofilmes;
  • podem servir como locais de ligação alternativos, impedindo a adesão das bactérias ao revestimento intestinal;
  • substâncias fitogénicas específicas podem ajudar a reduzir a permeabilidade intestinal, promovendo a absorção eficiente de nutrientes e fortalecendo a resiliência geral dos animais;
  • fitogénicos específicos podem aumentar a capacidade do organismo de neutralizar as espécies reativas de oxigénio, como demonstrado pelo aumento da atividade de enzimas antioxidantes essenciais, como a superóxido dismutase (SOD) e a glutationa peroxidase (GPX), juntamente com a redução dos níveis de malondialdeído (MDA), um marcador da peroxidação lipídica.

Validação científica dos fitogénicos

Para ajudar a mitigar os desafios pós-desmame, como a diarreia pós-desmame em leitões, compostos fitogénicos específicos, como óleos essenciais (p. ex., carvacrol), especiarias (p. ex., curcuma) e plantas mucilaginosas (p. ex., feno-grego), demonstraram um potencial significativo em pesquisas anteriores (dados internos).

Por exemplo, um estudo revelou que o carvacrol reduziu a adesão de Streptococcus suis à mucosa intestinal de leitões. Outros estudos indicaram que o feno-grego pode modular a adesão de bactérias indesejáveis ​​(Axmann et al., 2021; Badia et al., 2012).

Estão também em curso trabalhos para ligar o conhecimento científico com aplicações práticas na exploração. Um estudo recente em Espanha demonstrou os benefícios significativos da utilização de uma mistura fitogénica durante o desmame. Os leitões que receberam a solução fitogénica apresentaram:

  • aumento de 7,8% na ingestão média diária (IDA);
  • aumento de 15% no ganho médio diário (GMD)
  • melhoria de 3,6% no indíce de conversão (IC);
  • redução da mortalidade e abate de 7,6% para 4,9%.

Foram realizados quatro ensaios em vários países (Alemanha, Holanda, Espanha e República Checa), com uma duração que variou entre 21 a 42 dias, um peso inicial entre 6 e 8 kg e uma dose de 1 kg/t de uma mistura de ervas, extratos vegetais e óleos essenciais das famílias Lamiaceae, Schisandraceae, Zingiberaceae e Fabaceae.

Em janeiro de 2025, um estudo revisto por pares (Torres-Pitarcho et al., 2025) corroborou estas descoberts. Neste ensaio experimental, os leitões desafiados com F4-ETEC no 10º dia pós-desmame e suplementados com uma solução alimentar fitogénica (SAF) baseada na dose de 1 kg/t desta mistura apresentaram níveis significativamente mais baixos de excreção bacteriana nos dias 13, 14 e 16 pós-desmame, em comparação com o grupo controlo (Figura 2). O grupo fitogénico apresentou também uma menor duração da diarreia e uma melhor consistência fecal e histomorfologia jejunal como resultado da suplementação com SAF (Figura 3).

O objetivo foi avaliar esta mistura fitogénica em leitões desafiados com E. coli. A nossa hipótese era manter o rendimento estável ou mesmo aumentar, e em particular a ingestão de ração, e reduzir os efeitos negativos da exposição à E. coli, como a incidência de diarreia, a excreção de E. coli e as alterações na morfologia intestinal. Na análise destes parâmetros, todos os mecanismos de ação referidos desempenharam um papel significativo.

Figura 2. Efeito da inoculação com F4-ETEC (ao 10º dia pós-desmame) e da percentagem de leitões que eliminaram a bactéria (Fonte: Torres-Pitarch et al., 2025). Letras diferentes em cada dia representam diferenças significativas (p
Figura 2. Efeito da inoculação com F4-ETEC (ao 10º dia pós-desmame) e da percentagem de leitões que eliminaram a bactéria (Fonte: Torres-Pitarch et al., 2025). Letras diferentes em cada dia representam diferenças significativas (p<0,05). CP = controlo positivo (colistina), CN = controlo negativo, SFP = solução alimentar fitogénica. A colistina (Colisol 250.000 UI/ml) foi utilizada como controlo positivo e aplicada na água de bebida entre o 8º e o 14º dia pós-desmame. A colistina foi utilizada como referência contra a E. coli, mesmo com as restrições atuais quanto à sua utilização.
Figura 3. Efeito do tratamento e da sua interação com o dia na consistência fecal ao longo do período experimental. A inoculação ocorreu ao 9º dia após o desmame. CP = controlo positivo, CN = controlo negativo, SFP = solução alimentar fitogénica.
Figura 3. Efeito do tratamento e da sua interação com o dia na consistência fecal ao longo do período experimental. A inoculação ocorreu ao 9º dia após o desmame. CP = controlo positivo, CN = controlo negativo, SFP = solução alimentar fitogénica.

Conclusão

Os fitogénicos abrangem uma grande variedade de compostos bioativos que podem atuar através de múltiplos mecanismos, e a investigação crescente destaca os seus benefícios para a resiliência e produtividade dos animais de produção. Estas vantagens incluem a promoção da ingestão precoce de ração, o apoio à eficiência digestiva e à função imunitária, a modulação da microbiota intestinal e o fortalecimento do estado antioxidante.

Evidências crescentes e um conhecimento mais aprofundado sobre os fitogénicos melhoram a nossa capacidade de enfrentar os desafios pós-desmame, especialmente durante os primeiros 14 dias críticos. Este conhecimento está a impulsionar o desenvolvimento de soluções fitogénicas inovadoras e comercialmente viáveis. Muitas destas novas soluções alimentares são formuladas com tecnologias avançadas, como a microencapsulação, para proteger a estabilidade e a biodisponibilidade dos compostos ativos até chegarem ao intestino do leitão.

Em resumo, embora os fitogénicos sejam frequentemente aplicados a baixas taxas de inclusão, os seus mecanismos de ação específicos podem ter um impacto significativo na nutrição animal. Ao tirar partido destes efeitos, os fitogénicos podem desempenhar um papel vital na redução do impacto da diarreia pós-desmame e no reforço da resiliência e do rendimento dos leitões.

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