X
XLinkedinWhatsAppTelegramTelegram
0
3
Leia este artigo em:

Comportamento alimentar após o desmame: podemos melhorar com o maneio?

Quando se desmamam, os leitões encontram facilmente o comedouro, mas aqueles que não tiveram acesso ao creep feed durante a lactação não reconhecem a ração como alimento.

O desmame supõe um forte stress para os leitões e com grandes implicações tanto na saúde como no desempenho. A interrupção da ingestão de nutrientes é o fator mais importante, porque predispõe o animal a sofrer de problemas intestinais. De facto, estudos sobre infeções por E. coli que tiveram lugar no Nutreco Swine Research Centre mostraram que as consequências da infeção dependem da quantidade de alimento ingerida anteriormente à mesma: os animais que comiam abaixo das suas necessidades de manutenção ficavam realmente doentes, enquanto que aqueles que o faziam acima dessas necessidades apresentavam somente sintomas. Portanto, o comportamento alimentar é fundamental para a saúde dos leitões, e uma melhor compreensão do mesmo pode conduzir a sugestões para reduzir o stress ao desmame.

Ensaios com sistemas eletrónicos de alimentação em leitões desmamados ao final da manhã, e com acesso ao creep feed antes do desmame, forneceram alguma informação nova sobre o comportamento alimentar. Com alguma surpresa, verificamos que os leitões não tiveram dificuldades em encontrar a ração: quase todos (95%) colocaram a cabeça no comedouro nas primeiras 4 horas após o desmame. Metade destas visitas, no entanto, não resultou no desaparecimento da ração (fig. 1). A percentagem de visitas eficazes aumentou para 80% após 2 dias (fig. 1). Por isso, levou muito mais tempo para os leitões consumirem o equivalente a uma refeição (10 gramas; com base num consumo de 150-200 g/dia nos primeiros dias após o desmame e 15-20 visitas ao comedouro/dia): 45% dos leitões não fez isso no dia do desmame.

Visitas ao comedouro e visitas em que desaparece ração nos primeiros dois dias após o desmame de leitões que tiveram acesso ao creep feed durante a lactação

Figura 1. Visitas ao comedouro e visitas nas quais a ração desaparece nos primeiros dois dias
após o desmame de leitões que tiveram acesso ao creep feed durante a lactação.

Os dados também mostram claramente que os leitões param de comer durante a noite (fig. 1), apesar de, durante a lactação, serem amamentados frequentemente durante a noite. Isto sugere que os períodos de amamentação noturna são iniciados pela porca, mas que intrinsecamente o leitão tem um ritmo dia-noite. Torrey (2004) experimentou acordar os leitões recém desmamados usando gravações de grunhidos de porcas. Porém, isto levou a um aumento do consumo de água em vez de ração e não teve efeitos positivos no desempenho.

Uma questão interessante é o que acontece nas primeiras vezes que o leitão mete a cabeça no comedouro. Uma análise cuidadosa dos registos de desaparecimento do alimentos mostra que, na verdade, muito pequenas quantidades de alimento desaparecem nas primeiras visitas (96% dos animais geraram desaparecimento de ração durante as 4 primeiras horas após o desmame), mas estas são muitas vezes seguidas por um período de recusa do alimento. Em quase metade dos animais, o consumo substancial de ração não é iniciado até ao dia seguinte. Este comportamento tem a ver com com uma neofobia alimentar (aversão a provar alimentos novos). Os animais que estão a morrer de fome na selva quando confrontados com um novo alimento, só o provarão em função da fome que tenham. Só depois de "testarem" que este novo alimento é saudável, voltarão e comerão mais. Os padrões de consumo de ração dos leitões parecem corresponder muito a este; muitos leitões consomem apenas uma pequena quantidade (gramas) de ração nas primeiras horas após o desmame, mas somente após a confirmação de que este alimento é seguro vão consumir uma quantidade apreciável e, finalmente, mudar para um padrão de consumo de ração regular. Observações feitas com leitões alojados individualmente encaixam com uma neofobia alimentar: normalmente 5-10% dos leitões vai recusar-se a comer durante dias, exceto uma pequena quantidade de alimento ao desmame. Isto terá consequências graves para a sua própria saúde. Só depois de mostrar que a ração é segura, misturando-os com outros leitões que comem ou, após proporcionar-lhes uma dieta completamente diferente, voltarão a comer ração. Se a neofobia alimentar, na verdade, desempenha um papel importante nos leitões recém-desmamados, então é mais uma vez um sinal de que é preciso ensinar os leitões a comer a sua dieta de transição antes do desmame e que precisamos de fazer coincidir a palatibilidade da dieta pré e pós-desmame. Avaliando o comportamento alimentar em leitões com e sem creep feed, mostrou que os leitões que tinham creep feed faziam o dobro das visitas efetivas ao comedouro (49 % aumentando para 73 % vs. 25 % aumentando para 35 %) durante o primeiro dia após o desmame (fig. 2).

Visitas com sucesso ao comedouro dos leitões, com e sem acesso ao creep feed na lactação.

Figura 2. Visitas com sucesso ao comedouro dos leitões, com e sem acesso ao creep feed na lactação.
A variação durante a noite é provocada pelo número baixo de visitas ao comedouro.

Estos dados também levantam a questão do momento do dia em que os leitões devem ser desmamados. O desmame à primeira hora da manhã dar-lhes-ia mais tempo antes do anoitecer para aprenderem a comer. Desmamar ao início da tarde pode dar ao leitão a oportunidade de provar a ração antes de anoitecer; na manhã seguinte já constatou que o alimento é seguro e pode começar com um padrão de consumo regular. Os ensaios para testar o momento ideal para o desmame são poucos: apenas um estudo de Ogunbameru (1992) em que o desmame ao entardecer (8 pm) resulta em leitões que eram quase 1 kg mais pesados aos 28 dias pós-desmame em comparação com os desmamados às 8 am.

Conclusões

Os padrões de consumo de ração em transição mostram que os leitões têm pouca dificuldade para encontrar o comedouro. No entanto, especialmente os leitões que não foram expostos ao creep feed, não reconhecem a ração como um alimento. Aparentemente, provam-no inicialmente antes de desenvolverem um padrão de alimentação normal, o que sucede nos dias seguintes. Durante este período existe um risco levado de que os leitões adoeçam, que pode resultar numa recusa permanente da comida. Treinar os leitões antes do desmame com um pré-starter de alta qualidade deveria facilitar a transição e reduzir o risco de complicações de saúde. O ideal é que o creep feed e o pré-starter sejam feitos para ter a mesma palatibilidade, de tal forma que os leitões não o experimentem como um novo alimento. Acima de tudo, tanto o creep feed como o pré-starter devem ser formulados pensando acima de tudo na palatibilidade.

Comentários ao artigo

Este espaço não é uma zona de consultas aos autores dos artigos mas sim um local de discussão aberto a todos os utilizadores de 3tres3
Insere um novo comentário

Para fazeres comentários tens que ser utilizador registado da 3tres3 e fazer login

Não estás inscrito na lista A web em 3 minutos

Um resumo semanal das novidades da 3tres3.com.pt

faz login e inscreve-te na lista

Não estás inscrito na lista A web em 3 minutos

Um resumo semanal das novidades da 3tres3.com.pt

faz login e inscreve-te na lista