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Caso clínico: Surto Respiratório causado por Haemophilus parasuis

As engordas costumam ter muitos problemas respiratórios, principalmente em zonas de elevada densidade. Neste caso foram provocados por Haemophilus parasuis

5 Setembro 2005
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Descrição da exploração



Trata-se de uma antiga exploção de mães reformada para engorda numa zona com alta densidade suína. A exploração actualmente tem dois pavilhões, com uma capacidade de 450 porcos cada um, mais um pavilhão de novilhos.

A construção é a de uma engorda convencional: consta de um corredor, 7 metros de largura, ventilação natural com janelas manuais, parques de 12-15 animais, alimentação automática e uma tolva tipo holandês com um bebedouro por parque.

Os animais habitualmente chegam com pesos entre 18-20 kg e são engordados até aos 95-100kg. No pavilhão onde se apareceu o caso havia animais comprados em duas origens diferentes (híbridos comerciais LDxLWxPi). No outro pavilhão havia animais procedentes da cooperativa à que pertence a exploração, com um estatuto sanitário diferente.

Tendo em conta o grande número de explorações de porcos que há em redor, as medidas de biosegurança da exploração não são demasiado restritas, a exploração está vedada mas a porta está aberta habitualmente e há bastante movimento de pessoal, vizinhos, veterinários dos bovinos...etc.



Aparecimento do caso



Os animais, que eram procedentes das duas explorações diferentes, foram misturados homogéneamente por todos os parques do pavilhão. As explorações de origem eram negativas a Aujeszky mas não se dispunha de mais informação sobre o estado sanitário dos animais.

O caso aparece a 10 de Agosto: o tratador detecta que alguns animais começam a tossir e que têm um pouco de dispneia e mucosidade. Telefona ao veterinário que, passados dois dias, visita a exploração e confirma os sintomas observados pelo tratador. Também, observou que alguns animais apresentavam leve debilidade nas extremidades.

No mesmo dia 12 de Agosto, o veterinário telefonou-nos já que tinhamos que realizar um ensaio clínico e procurávamos um surto respiratório bacteriano causado por Mycoplasma hyopneumoniae, Haemophilus parasuis, Actinobacillus pleuropneumoniae ou Pasteurella multocida e, neste caso, suspeitou-se que o caso era compatível com uma das duas últimas bacterias pelos síntomas e o peso dos animais (uns 60 kg de média a olho).


Visita à exploração



No dia 12 de Agosto visitámos a exploração, os sintomas tinham piorado e os animais tinham diminuído a ingesta de forma importante.

Ao não encontrar nenhuma baixa, decidimos tomar dois lavados traqueobronquiais em animais que padeciam de dispneia, tosse e mucosidade. Enviámos os lavados para o laboratório para que fizessem microbiologia e antibiograma mas decidiu-se começar o ensaio sem os resultados pela gravidade dos sintomas e a evidência do caso.



Medidas implementadas



Administrou-se doxiciclina via oral na água a todos os animais do pavilhão mediante um dosificador e administrou-se tratamento injectável à base de enrofloxacina aos casos mais graves.

Os animais padeciam muito à tarde devido às altas temperaturas desse mês. Observou-se que pela noite o tratador tinha o hábito de fechar demasiado as janelas e o ar do pavilhão não se renovava suficientemente. Durante o estudio reviu-se a abertura das janelas diariamente, desta maneira regulou-se a ventilação do pavilhão para favorecer a recuperação dos animais.

Controlou-se a ingesta de água e ração aos animais durante os dias de tratamento e avaliaram-se os sintomas dos animais em cinco ocasiões durante as duas semanas seguintes ao aparecimento do caso.



Resultados do laboratório




Os resultados preliminares do laboratório chegaram via telefone no dia seguinte confirmando a suspeita de Pasteurella multocida e também fizeram outra cultura porque o laboratório observou alguns gérmenes mais nas amostras.

Durante o primeiro dia do estudo obtiveram-se 12 lavados traqueobronquiais e 12 hisopos nasais que foram levados no próprio dia para o laboratório para serem analisados.


Evolução do caso



Vários dias depois houve, no mesmo pavilhão, baixas de animais com boa condição corporal e que apresentavam sintomas respiratórios graves. A surpresa foi que na necropsia apresentaram lesões de pericardite e peritonite fibrinosa com lesões pulmonares graves, todas compatíveis com a doença de Glässer ou com Streptoccocus suis. Encontrar estas lesões pareceu-nos extranho mas confirmou-se a suspeita quando, ao cabo de uns dias, chegaram os resultados da microbiologia confirmando o isolamento de Haemophilus parasuis em 2 dos 12 hisopos nasais e em 6 dos 12 lavados traqueobronquiais. Com a análise confirmou-se que todos os Haemophilus isolados eram sensíveis à Doxiciclina.

Nesse momento também se clarificou o facto que alguns animais apresentaram certa debilidade nas extremidades. Até esse momento críamos que poderia ser devido ao mesmo estado de debilidade geral pelo processo respiratório, não porque a doença de Glässer provocase inflamação das extremidades directamente.

Os animais evoluiram correctamente com o tratamento, a temperatura dos animais se normalizou ao fim de 3 dias e os sintomas respiratórios acabaram numa semana. No gráfico seguinte pode-se observar a percentagem de animais que passaram de doentes a sãos (avaliação segundo os sintomas clínicos de um grupo de 200 animais).


Ao fim de 15 dias, no final do estudo, obtiveram-se mais amostras de exudados para confirmar que o patógeno tinha desaparecido com o tratamento antibiótico. Recolheram-se 12 hisopos nasais dos quais se isolaram dois Streptococcus suis e uma Pasteurella multocida e dos 12 lavados traqueobronquiais não se obteve crescimento bacteriano com significado patológico.


Comentários



O caso apareceu numa engorda de uma zona de alta densidade onde habitualmente se engordam animais de uma cooperativa ainda que ocasionalmente também se encha com animais de outras explorações.

Num dos pavilhões onde havia porcos de uns 60 kg de PV procedentes de duas origens diferentes apareceu um surto respiratório compatível com uma infecção bacteriana.

Inicialmente diagnosticou-se pasteurelose e o laboratório confirmou este diagnóstico a partir de um lavado traqueobronquial. Os animais receberam um tratamento de Doxiciclina na água durante 5 dias.

Contudo, ao fazer parte de um estudo clínico foram recolhidas mais amostras de exudados (12 hisopos nasais e 12 lavados traqueobronquiais) no dia seguinte. Nesta segunda recolha de amostras o laboratório isolou Haemophilus parasuis.

O facto de isolar mais Haemophilus nos lavados traqueobronquiais (6/12) que nos hisopos nasais (2/12) era compatível com o facto de que as estirpes patógenas se encontram maioritariamente na parte inferior do tracto respiratório. A mistura de diferentes origens de animais concorda também com o aparecimento da doença de Glässer (ou de Streptoccocus suis), ainda que habitualmente o aparecimento de sintomas se dá justamente à entrada na engorda.

O aparecimento de surtos respiratórios por Haemophilus parasuis é habitual entre as 6 e as 8 semanas de vida dos leitões. Nos casos que a imunidade maternal desaparece mais tarde podem-se chegar a encontrar surtos às 10 semanas de vida. No nosso caso, os animais tinham 14 semanas de vida e aproximadamente 55 kg de peso de média.

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