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Caso clínico: Problema Multifactorial na Reprodução

Além dos problemas sanitários, os problemas relacionados com o maneio alimentar pode implicar maus resultados na exploração. Foi este o caso.

1 Outubro 2007
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Descrição da Exploração




O caso que temos este mês apareceu numa exploração de ciclo fechado de 100 porcas com maneio num só sítio situada numa zona de baixa densidade suína na Normandia (França).

O maneio da exploração realiza-se em 7 bandas com desmames aos 28 dias de vida.

As primíparas de substituição assim como o sémen e o alimento são comprados no exterior.

A água que abastece a exploração é proveniente da rede pública.

A exploração é de recente construção e foi construída como complemento de uma exploração de bovinos de leite já existente.

O estatuto sanitário da exploração é o seguinte:

PRRS Negativo
Aujeszky Negativo
App Negativo
Sarna Positivo
Micoplasma Positivo








Aplica-se o seguinte plano de vacinação:

Vacina E. coli K88, K99, F41 (porcas e primíparas)
Clostridium perfringens tipo C e A (porcas e primíparas)
Parvovirose (porcas e primíparas)
Mal Rubro (porcas e primíparas)
Desparasitante Injecção subcutânea com ivermectina (5 ml/porca por cada ciclo)


Aparecimento do Caso



Se bem que já desde o seu inicio a exploração não tenha atingido os rendimentos reprodutivos esperados, durante os últimos 18 meses o índice de fertilidade degradou-se ainda mais e encontra-se entre os 40 e 80%. Com o objectivo de melhorar a situação existente, o produtor se põe em contacto com o veterinário.

Análises prévias dos dados da exploração

Antes de realizar a visita o veterinário decide examinar alguns dados relacionados com os resultados técnicos assim como exámes complementares eventuais que se tenham realizado durante os últimos 6 meses.

Se bem que o produtor não disponha de nenhum programa de gestão técnica, os dados das fichas das últimas 7 bandas inseminadas e as ecografias permitem-nos observar:

  • um índice de fertilidade de primíparas e multíparas mediocre, sem efeito do número de parto.
  • taxa de fertilidade das repetições muito abaixo (-20 a 30%) das desmamadas.
  • número de ninhadas de pequeno tamanho (<9 NT) importante (> 20%) afectando todos os números de parto de igual forma.
  • índice de nascidos mortos e mumificados elevado (11% e 5%, respectivamente).

Dos exames eventuais realizados durante os últimos 6 meses dispõem-se do seguinte perfil serológico (IHA) para parvovirus realizado há meio ano a 12 porcas de diferentes números de parto:

N° amostra
Nº parto
Títulos IHA
1
Primípara (saída da quarentena)
2560
2
Primípara (saída da quarentena)
5120
3
Primípara (saída da quarentena)
2560
4
Primípara
2560
5
Primípara
10240
6
3
10240
7
4
5120
8
5
>20480
9
5
10240
10
6
5120
11
7
>20480
12
8
5120

Visto este resultado 5 meses atrás decidiu-se revacinar a totalidade dos animais com uma vacina contra a parvovirose duas vezes com um intervalo de 1 mês.

Há seis meses atrás tinha-se realizado também uma análise da urina a 30 porcas que se encontravam no último terço da gestação detectando cerca de 50% de amostras positivas para nitritos ou turvas. Devido a este controle, o suinicultor esteve a tratar todos os animais com 400 ppm de ácido oxolínico no alimento durante 3 semanas (o tratamento finalizou há 2 meses).

Relativamente à água, os dados sobre análise bacteriológica e química são correctos.


Visita à Exploração



Quarentena

  • Cada 5 semanas entram de 4 a 6 primíparas de aproximadamente 5 meses de vida que se alojam em cama de palha.
  • Após a entrada as primíparas são vacinadas contra a parvovirose e o mal rubro, repetindo a vacinação às 3 semanas.
  • Não se realiza contaminação nem nenhuma profilaxia particular de adaptação.
  • Em 18 meses mudaram de multiplicador em 4 ocasiões.

Gestantes

  • Condição corporal satisfatória.
  • Pele suja e com crostas.
  • Numerosas rectites.
  • Fornecem-se 2 refeições diárias (2,8 kg ração/d de ração base) e 22 l. de água.
  • A slat encontra-se húmida e observa-se falta de ventilação e temperatura bastante elevada (23º C) (a visita realiza-se no mês de Dezembro).
  • Em duas bandas observadas, 25% das porcas apresentam vaginites e o tratador confirma a existência com frequência de descargas vulvares purulentas em porcas com gestação confirmada.

Maternidade

A observação realizou-se em porcas que se encontravam na semana prevista de parto detectando:

  • Porcas com prisão de ventre apesar de se lhes dar ração de gestantes até 3 dias depois do parto.
  • Durante os dias próximos ao parto é fornecida água de forma manual (as pipetas não se utilizam suficientemente).
  • Os partos são longos e em 50% dos casos é necessário tirar os leitões à mão, apesar de seguir um protocolo excessivo e sistemático associando hidrocloruro de vetrabutina (2 ml), oxitocina (2 ml) e cálcio duas vezes durante a duração do parto.
  • As porcas apresentam congestão mamária.
  • Durante a visita observam-se descargas vulvares em todas as porcas que tinham parido entre 24 e 72 h.
  • Injecta-se sergotonina de forma sistemática a todas as porcas após o parto.


Sarna
Descarga vulvar
Crostas vulvares
Rectites


Diagnóstico



Após a visita pode dizer-se que os animais apresentam um mau estado geral com parasitismo externo e interno.

As infecções urogenitais são preponderantes e não estão controladas. São clínicamente compatíveis com os problemas observados.

Em princípio o problema não seria causado por uma infecção geral; os resultados do perfil serológico para parvovirose realizado há meses atrás não pode associar-se categóricamente aos problemas observados e é necessário considerar outros factores. Além do mais, os sintomas e a evolução não são compatíveis com infecções como o PRRS ou a leptospirose.


Medidas Tomadas



Estado geral dos animais

  • Decide-se tratar todos os animais com ivermectina, tendo em conta o peso de cada animal.
  • No dia da injecção pulverizam-se as porcas e os seus alojamentos com um acaricida. Este tratamento local deve voltar a realizar-se 14 dias mais tarde.
  • Vermifugam-se todas as porcas via oral com um anti-helmíntico e repete-se o tratamento cada 4 meses.

Prevenção das vaginites

  • Rever os parâmetros dos edifícios para gestantes: diminuír a temperatura ambiental e aumentar a ventilação. Propiciar uma melhor secagem dos solos.
  • Raspar o solo duas vezes por dia durante toda a gestação e lactação. Após raspar, pulverizar com um desinfectante a parte posterior dos lugares de gestação durante 4 meses.
  • Desinfectar os lugares de gestação após tirar as porcas.
  • Realizar lavagens vaginais com gel iodado à entrada na maternidade e com um gel antiséptico não espermicida ao desmame e ao finalizar o tratamento com progestágenos nas primíparas.

Controle das cistites e endometrites

Realiza-se um novo controle urinário e levam-se a analizar 3 amostras de urina, obtendo os seguintes resultados:

Amostra
1
2
3
Gérmen isolado
E. coli
Staph. hyicus
E. coli
Contagem
10.000.000
1.000.000
10.000.000
Amoxicilina
S
S
S
TMP-Sulfa
R
R
R
Oxitetraciclina
R
R
R
Ceftiofur
S
S
S
Ácido oxolínico
S
S
R
Flumequina
S
S
R
Enrofloxacina
S
S
R
Marbofloxacina
S
S
R

Numa rotação de 7 bandas decide-se tratar as porcas com amoxicilina via oral desde os 5 dias antes do parto e até 2 dias depois assim como tratar as porcas que foram ajudadas durante o parto ou com retorno ao cio com amoxicilina via injectável.

Decide-se proporcionar às porcas níveis mais racionais de água (15 a 17 l/porca e dia).

Maneio do parto

  • Suprimir o protocolo utilizado até ao momento e sobretudo diminuir as doses de oxitocina (máximo 1 ml por porca 2 vezes durante o parto).
  • Controlar a prisão de ventre fornecendo sais de magnésio antes do parto.
  • Estas medidas devem permitir a diminuição do número de porcas às quais devemos assistir o parto.
  • Por último, a utilização de protaglandinas injectadas às 36-48 h depois do parto deve permitir reforçar a imunidade local e o esvaziar do útero.

Maneio das porcas de substituição

  • A vacinação contra a parvovirose realiza-se de forma demasiado precoce tendo em conta a idade das primíparas à entrada na exploração (a primovacinação deve realizar-se estritamente a partir dos 6 meses de vida).
  • Contaminação das primíparas mediante exposição a dejectos procedentes de porcas na maternidade e leitões mumificados a partir dos 10 dias após a entrada o mais frequentemente possível até à entrada na fase reprodutiva. Ainda que o parvovirus não pareça ser a causa principal, estas medidas são fundamentais e ajudam a imunizar as primíparas contra todos os enterovirus com tropismo genital.
  • Manter de forma fixa durante o maior tempo possível o multiplicador que corresponda aos imperativos técnicos e sanitários da exploração.

Acompanhamento da reprodução

  • Continuar a recolher dados reprodutivos analizando os resultados da fertilidade de forma separada para primíparas, porcas desmamadas e porcas com retornos.
  • Eliminar a todas as porcas que apresentem mais de 2 retornos, independentemente do número de parto.


Evolução do Caso



Após implementar as medidas acordadas os resultados melhoram rapidamente.

Na actualidade, 18 meses depois da visita à exploração, a fertilidade encontra-se abaixo dos 90% e não abaixo dos 80%.

O índice de ninhadas de pequeno tamanho desceu para 6% e a taxa de nascidos mortos para 7%.


Comentários



Este caso, apareceu numa exploração de ciclo fechado de 100 porcas com maneio num só sítio situada numa zona de baixa densidade suína na Normandia (França), descreve o aparecimento de um problema reprodutivo multifactorial com vários pontos que merecem ser discutidos:

O diagnóstico de parvovirose e os meios de luta

Segundo o veterinário, o perfil serológico realizado não permite concluir que o responsável pelos problemas observados seja o parvovirus (as primíparas entrandas parecem perfeitamente imunizadas).

Em qualquier caso, antes que revacinar todo o efectivo de forma urgente, parece importante ter em conta:

  • a inexistência de uma adaptação das primíparas de substituição ao microbismo da nova exploração, ponto chave no controle da circulação dos enterovirus,
  • uma primovacinação demasiado precoce e
  • um estado geral dos animais que não permitia obter uma eficácia real de todas as vacinações realizadas (em particular a presença de parasitismo).

O acompanhamento dos animais

Neste ponto temos que o suinicultor, querendo solucionar ele próprio os problemas de nascidos mortos, chega a multiplicar o número de intervenções necessárias utilizando demasiada oxitocina, o que leva a uma tetanização do músculo uterino que por sua vez provoca uma paragem no trabalho de parto o que leva a ter que intervir com o consequente aumento do risco de metrite.

Com a eliminação dos problemas de prisão de ventre e ao ter porcas em "boa forma", a qualidade dos partos melhorou rapidamente.

Por outro lado, este caso é ilustrativo da relação existente entre a presença de problemas de cistites e a utilização de quantidades muito elevadas de água de bebida. Neste caso, 22 litros de água no inverno é uma quantidade exagerada.

Nesta exploração coincidiram todos os elementos, excepto um excesso de porcas demasiado gordas, para favorecer o desenvolvimento de infecções urogenitais.

A análise dos resultados técnicos

Neste tipo de casos é importante por em marcha um sistema de acompanhamento banda por banda que permita:

  • realizar um primeiro diagnóstico comparando os índices de fertilidade das primíparas, desmamadas e porcas com retorno ao cio assim como poder calcular a percentagem de ninhadas de pequeno tamanho (todos os ingredientes deste caso em particular iam no sentido de uma origem infecciosa local).
  • acompanhar os resultados das medidas aplicadas.

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