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Caso clínico: Paraqueratose ampliada por um elevado conteúdo em DON

Este caso resolve um problema de aparecimento de lesões cutâneas devida à existência de micotoxinas

7 Setembro 2009
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Descrição da Exploração



A exploração é de ciclo fechado com 100 porcas e encontra-se situada em França numa zona de média densidade suína.

O maneio realiza-se em 7 bandas e desmama-se aos 28 dias.

Desde há 2 meses, que a ração para os porcos de engorda se fabrica na própria exploração enquanto que a das porcas e de primeira e segunda idade continua a ser comprada.

Os porcos engordam-se em pavilhões com slat total e ventilação dinâmica alojados em parques de aproximadamente 30 porcos por parque e 4 parques por sala.


Situação sanitária

  • A maternidade é positiva para PRRS (vacinação de porcas em bandas com vacina viva).
  • Vacinação dos leitões desmamados contra Mycoplasma mediante injecção monodose.
  • Streptococcus suis : positiva (prevenção mediante incorporação de amoxicilina na ração de primeira idade).
  • Rinite: positiva (está-se a realizar a vacinação)


Aparecimento do Caso



A meados do mês de Abril (semana 15) e após a observação de lesões cutâneas localizadas nas patas traseiras em 2 lotes de animais de 130 e 150 dias de vida, o suinicultor entra em contacto conm o veterinário. Ao aparecimento das lesões soma-se uma diminuição do consumo de alimento e parece que os animais tardam mais em atingir o peso de mercado.


Visita à Exploração



Visitam-se as engordas que é onde apareceram os problemas.

Os porcos apresentam importantes lesões dérmicas, sobretudo ao nível dos jarretos que se estendem ao nível dos presuntos afectando aproximadamente 10% dos animais. Pode falar-se de hiperqueratose nos porcos mais afectados. Durante os últimos 15 dias observou-se diminuição do consumo assim como menor crescimento.


Não se observa hipertermia: tira-se a temperatura rectal de 4 porcos com lesões dérmicas obtendo temperaturas de 38,5 ºC, 38ºC, 38,2ºC e 38,6ºC, respectivamente.

Desde há 2 meses os porcos a partir das 12 semanas de vida alimentam-se com ração fabricada na exploração cuja composição é a seguinte:

Ração crescimento
Ração engorda
Trigo
Soja 48
Colza 00
Milho
Linho
Premix 3%
Polpa de beterraba


69,9
10,9
6,2
5
4
3
1

Trigo
Soja 48
Milho
Colza 00
Polpa de beterraba
Linho
Premix 3%
68,6
7,6
7
5,4
4,4
4
3

Os porcos de engorda recebem um aporte mineral específico a partir da semana 12 de vida (finais de Março) que se incorpora a 3%. Antes utilizava-se um premix indicado para todas as espácies incorporado igualmente a 3%: os animais recebieram, pois, este premix geral durante aproximadamente 8 semanas.


Hipóteses de diagnóstico e exames complementares



Hipóteses

As primeiras hipóteses que se colocam são as seguintes:

  • Desequilíbrio em oligoelementos e vitaminas.
  • Micotoxinas no trigo.
  • Canibalismo devido a problemas de ventilação, elevada densidade....
  • Circovirose.


Exames complementares

O veterinário decide realizar os seguintes exames complementares:

• Análises do trigo em amostras recolhidas de diferentes pontos do silo.
• Comparação dos dois premixes (todas as espécies e específica para suínos).
• Revisão do sistema de ventilação.
• Em caso de morte de algum animal, realização da autópsia para histologia.


Resultados dos Exames Complementares



Comparação premix suíno/todas as espécies

O premix para múltiplas espécies parece ser pobre em vitaminas e oligoelementos em comparação com o premix específico para porcos. É muito possível que os animais tenham sofrido uma carência.

Análises de presença de micotoxinas no trigo

Os resultados mostran uma contaminação moderada por zearalenona e muito importante por deoxinivalenol (DON).

O conteúdo em zearalenona para os porcos em fase de crescimento e engorda deve ser inferior a 100 ppb enquanto que o conteúdo em tricotecenos tipo B, grupo ao que pertence o DON, deve ser inferior a 250 ppb. Acima das 1000 ppb, a matéria-prima considera-se de elevado risco. A análise dá como resultado 0,200 mg/kg de zearalenona e 1,03 mg/kg de DON.


Conclusões



Tendo em conta a forte contaminação por DON do trigo e que este representa 66% da ração, pode-se pensar que a presença de micotoxinas debilitou de forma importante os animais. Esperava-se encontrar tricotecenos tipo A (incluída a T2), micotoxinas que são responsáveis na maioria dos casos de problemas dérmicos, contudo, o DON em doses altas pode causar também lesões na pele. Por outro lado, o baixo conteúdo de zinco do premix para todas as espécies que foi fornecido durante os dois primeiros meses pode ter contribuído para estas lesões na pele que poderiam classificar-se de "paraqueratose".

Esta paraqueratose está relacionada com a deficiência de zinco, com a modificação da relação Zn/Ca e a amplificação deste fenómeno devido à grande contaminação por micotoxinas.


Medidas Tomadas



Decide-se incorporar um captador de micotoxinas em fortes doses durante 3 semanas para depois passar a dose de manutenção até finalizarem as existências de trigo.

O suinicultor decide dotar-se também de um aspirador que permita eliminar o pó e as cascas do trigo que são muito ricas em micotoxinas.


Evolução do caso

Desde a incorporação do captador de micotoxinas (durante os primeiros 15 dias) as lesões dérmicas retrocederam e não apareceu nenhum novo caso. O consumo começa a aumentar. Os primeiros lotes têm um menor peso (85 kg em vez dos 92 kg habituais) com uns 10 dias de atraso.


Comentários



Numa exploração de ciclo fechado com 100 porcas aparecem lesões cutâneas localizadas nas patas traseiras em 2 lotes de animais de 130 e 150 dias de vida. Após as investigações pertinentes detectam-se elevadas concentrações das micotoxinas zearalenona e deoxinivalenol (DON) no trigo utilizado para o fabrico da ração.

Trata-se de um caso de paraqueratose ampliado por uma forte contaminação do trigo com DON.

A deterioração repentina da situação sanitária desta exploração, as lesões pouco frequentes e a magnitude do fenómeno, que coincidem bastante bem com a mudança na alimentação 2 meses antes (passando da compra de ração para o fabrico na própria exploração) facilitou o diagnóstico, sendo a ideia inicial a seguinte:

• Destaca-se a presença de micotoxinas no trigo (matéria-prima predominante na formulação da alimentação): a primeira ideia é a possível presença de micotoxinas devido à rejeição da ração, à heterogeneidade e às lesões na pele de forma rara (hiperqueratose).
• Frente à paraqueratose: investigam-se os premixes utilizados já que em princípio o premix utilizado não era específico para suínos e não se adaptava a esta espécie, em particular no que diz respeito à concentração de Zn e parecia apresentação um desequilíbrio importante respecto aos oligoelementos.
• Pensa-se investigar a possível presença de circovirose mas finalmente descarta-se essa hipótese.
• Também se considera haver factores de risco associados ao canibalismo: ventilação, sobrecarga ...

A resposta clínica confirma a suspeita:

A incorporação de um capturador de toxinas na ração deu uma muito boa resposta clínica: pôde-se observar uma rápida recuperação da ingesta de ração (certamente relacionada com a incorporação do fixador de micotoxinas) e nenhum caso novo de paraqueratose (na realidade uma mistura equilibrada de oligoelementos e adaptada à espécie suína tinha sido administrada desde há 3 semanas). As lesões foram retrocedendo lentamente, sem mortalidade. De todas formas, a heterogeneidade perdurou um tempo.

Decide-se manter o fixador de micotoxinas até à próxima colheita, durante a qual se realizará uma nova análise do trigo.

O suinicultor decide adquirir um aspirador para o pó que permita eliminar as impurezas que frequentemente são ricas em micotoxinas.

Doutores S. HELIEZ, A. LEMISTRE, M. GOSSELIN
Cabinet Vétérinaire FLANDRE
35 - LECOUSSE

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