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Caso clínico: Alergia à Serradura

A utilização de sarradura e aparas na cama dos animais pode ser confortável mas pdoe trazer prioblema de mortalidade. Vê em que situações isso pode ocorrer

6 Junho 2005
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Descrição da exploração



Na realidade, neste caso deveriamos descrever três explorações dado que nos ocorreu em três engordas que se encontram na zona noroeste de Espanha. As três engordas são algo diferentes entre si:

Engorda1: 1 só pavilhão de 300 lugares (tolva tipo holandesa em seco) ventilação natural automática

Engorda2: 2 pavilhões de 600 lugares c/u (tolva em seco de 2 bocas) ventilação natural automática

Engorda3: 3 pavilhões de aprox. 600 lugares c/u (tolva em seco de 2 bocas) ventilação natural automática

O problema deu-se numa só nave, precisamente a que está mais distante das outras 2 (a uns 200 metros)

Em cada uma das engordas se realiza o tudo dentro/tudo fora. A limpeza, desinfecção e desratização são cumpridas em cada uma delas previamente à entrada do lote seguinte. Todos possuem 2 silos por pavilhão e encontram-se em zonas de densidade alta no primeiro caso e média nos 2 segundos. Encontram-se distantes entre si aproximadamente uns 20 a 30km. Todas elas têm um veterinário responsável contra a doença de Aujeszky e recebem um acompanhamento periódico em função das necessidades e/ou do tempo disponível.

Os animais são positivos à maioria das doenças típicas a nivel das engordas: NE, APP, PRRS, influenza, sarna, lawsonia, etc… As engordas encheram-se com 5 origens diferentes, duas das quais de explorações negativas a Aujeszky e as outras 3 de explorações com uma prevalência inferior a 10% no momento do aparecimento do caso.



Aparecimento do caso



Em finais de Setembro de 2004 estava prevista uma visita de rotina a uma das engordas (engorda 1) um dia depois da entrada dos animais dado que provinham de uma origem conflitiva com um historial de problemas digestivos graves (disenteria, ileíte, etc). Antes de realizar a visita o suinicultor telefona para dizer que tinha havido 2 baixas. Realiza-se a visita, tendo-se verificado um quadro “muito raro” onde se observa algo de sintomatologia nervosa (descoordenação), anorexia, apatia, aparentemente febre e também uma dispnea muito visível. Esta visita acontece pela manhã e à tarde decidimos voltar dado que tivemos a notícia que na engorda 2, que também teve entrada no dia anterior, apareceram os mesmos sintomas. Decide-se visitar, pois, novamente a engorda 1 e obviamente a 2.

Primeira visita (quinta-feira 30-09-04)


Foto 1

Nesta primeira visita, que no caso da engorda 1 é já a segunda num mesmo dia, o caso complica-se rapidamente. Na engorda 1, na visita da parte da tarde, deparamo-nos com a surpresa de mais 4 baixas além das 2 anteriores. Os animais mortos apresentam um aspecto muito mau no que concerne à condição corporal (foto1).

Com efeito, no dia anterior haviamos presenciado nós mesmos a carga no sítio de origem e os animais não apresentavam qualquer problema. O peso médio de entrada foi de 24,4kg. Os restantes animais apresentava um estado bastante lamentável, com animais magros e com aparência de terem um estado febril e com muito frio (foto2) dado serem ainda 14:00h e a temperatura interior rondava os 24ºC. Havia 2 parques pontuais, neste caso os dois últimos tanto do lado direito como do esquerdo, onde não se observaba nenhuma sintomatologia. Podiam-se apreciar algumas fezes muito pastosas e inclusive líquidas mas em pouca quantidade. Outro detalhe curioso era que vários animais apresentavam o focinho com uma cor avermelhada (foto 3)


Foto 2

Foto 3

Foto 4

Foto 5

Lógicamente realizamos a necropsia e nos deparamos com o facto de ver que todos os animais tinham comido e além disso, em grandes quantidades, seguramente pelo facto de que se tratava dos maiores e de melhor condição. Há que recordar que no momento da primeira visita um dos sintomas mais aparentes era a anorexia. Estava claro que antes da visita os animais tinham comido e alguns, por certo, muito mais que o habitual.

Mas de todos os detalhes, o mais curioso e estranho foi o encontrado a nível pulmonar. Num primeiro momento os pulmões pareceram-nos quase perfeitos e não parecia haver nenhum problema que pudesse relacionar-se com actino ou com uma pneumonia qualquer. Uma observação mais detalhada, motivada pela clara dispneia que se podia observar na maioria dos animais, permitiu-nos ver que em todas as baixas se podia ver enfizema pulmonar em forma de borbulhas de ar por todos os lóbulos pulmonares ainda que não em grande quantidade (foto 5).

Observamos tambem alguma fibrina a nível da cavidade abdominal e ao nível dos rins podiam-se ver zonas pálidas (como se se tratasse de enfartes) ao nível da zona cortical (fotos 6 e 7)


Foto 6

Foto 7

A visita à engorda 2 era, pois, muito rigorosa e não ficámos surpreendidos por ver o mesmo problema:

Imagens da nova visita

Em 16-2-2005 um dia depois de se ter enchido a engorda 3, recebemos um aviso de que havia alguma coisa que não funcionava e que os porcos faziam “coisas esquisitas”. Esta informação obrigou-nos a uma visita imediata na que se confirmava o quadro descrito 5 meses antes. Desta vez tudo se tornou muito mais fácil.




Foto1
Foto 2

Os animais entrados com muito bom peso tinham sido visitados inclusive na noite anterior dado que se tiveram que ajustar os sistemas de aquecimento. A pessoa que fez esta modificação dise-nos que estavam perfeitamente e não dava crédito ao facto de que menos de 24 horas depois houvesse 99% dos animais num estado lamentável como o descrito anteriormente. Durante a visita realizaram-se duas necropsias nas que se verificaram as mesmas lesões e o característico enfisema pulmonar (foto 1). Do mesmo modo os animais que ainda estavam vivos apresentavam o mesmo quadro com anorexia, dispneia, focinhos avermelhados, ausência de tosse, etc.

E definitivamente o que nos conduziu a um diagnóstico sem paliativo foi o facto que também esta vez (como tinha sucedido na engorda 1) havia dois parques nos quais o tipo de aparas era distinta do resto. Estes dois parques encontravam-se em perfeito estado. A diferença das aparas (foto 2) era clara. Uma de tipo branco e mais fina (a da esquerda) que não nos causou nenhum problema. A outra, mais grossa e avermelhada, proveniente de madeiras tropicais (direita na foto) foi, sem dúvidas nenhumas, a causante de todos estes problemas.

Não sabemos a ciência certa se é alguma componente da própria madeira tropical ou talvez algum produto que se lhe junta, mas o que está claro é que o contacto e sobretudo a sua ingestão nos causaram um quadro de tipo alérgico com consequências desastrosas. Neste último caso de Fevereiro assim que vimos a situação retirámos de imediato as aparas. Cremos que a rapidez de reacção permitiu que ao fim de poucos dias a situação tivesse voltado à normalidade. Nos anteriores casos os animais passaram 2 noites em contacto e consumindo as aparas.


Comentários



Às vezes o trabalho bem feito não dá recompensas a curto prazo mas o tempo vem-nos dar a razão.

Este caso "moeu-nos" a cabeça durante algum tempo e num primeiro momento deixou-nos um sabor agridoce dado que não pareciam confirmar-se os diagnósticos que com muito boa metodologia foram realizados por toda a gente que contribuiu para solucionar o caso.

O aparecimento do caso deu-se numas entradas para 2 engordas diferentes e distantes entre si cujas origens também eram diferentes deram-nos os mesmos problemas com a mesma sintomatologia. Uns problemas que podem ser descritos como muito graves. Um com 5 e o outro com 3% de mortalidade dentro dos 3 primeiros dias de engorda, cremos que não podem qualificar-se de outra forma.
Em ambas as engordas encontramo-nos com animais que apresentavam uma intensa dispneia, estavam muito magros e com um aparente quadro febril assim como mortes súbitas e, em alguns animais, observou-se um quadro com sintomas de descoordenação. As necropsias não nos tiravam muitas duvidas: pulmões aparentemente sãos, estomâgos cheios, alguma fibrina na cavidade abdominal e pouca coisa mais.

As primeiras medidas tomadas deveram-se a uma anammese profunda assim como uma resposta rapidíssima por parte de toda a equipa que não conseguiu contudo tirar-nos da duvida num primeiro momento. Medicaram-se (com aspirina e amoxicilina) e injectaram-se os animais, mudou-se-lhes a ração (à qual se incorporou ivermectina) no mesmo dia do aparecimento dos problemas e realizaram-se múltiplas visitas às diferentes explorações. Finalmente decidiu-se retirar todas as aparas que ainda estavam nas duas engordas e varrer todos os parques onde ficasse algum resto das mesmas. Esta decisão tomou-se depois de constatar que era o único ponto em comum que tinham as explorações afectadas. Havia mais pontos em comum com outras engordas e claro com as explorações de origem dos animais, mas nenhum dos restantes apresentou, em nenhuma ocasião, nenhum tipo de problema.

A evolução do caso não foi muito favorável. Nenhuma das medidas tomadas conseguiu resolver o problema de uma só vez. A sintomatologia foi desaparecendo progressivamente mas tão lentamente que se juntou com as problemáticas habituais que de tipo respiratório e/ou digestivo podem aparecer em muitas das engordas de hoje em dia. Assim que, aparentemente, o caso ficou encerrado.

A resolução do caso deu-se aproximadamente 5 meses depois. De novo a mesma sintomatologia apareceu-nos numa engorda. Desta vez tudo foi muito mais rápido e fácil. De novo, em dois parques, repartiu-se um tipo de aparas diferentes do resto (branca em vez de tropical). Foram os dois únicos não afectados. Desta vez, no próprio dia, 4 pessoas em questão de poucas horas retiraram todas as aparas e por sorte apenas houve a lamentar 3 baixas.

Ficava claro que a suspeita que tinhamos se confirmava. As aparas de tipo tropical foram as causadoras dos problemas que tivemos nas outras engordas. Naquela ocasião. os animais estiveram em contacto e consumiram muito mais quantidade que neste último caso. Com efeito e como medida preventiva já tinhamos deixado de gastar aparas de tipo tropical até que por um erro voltámos a tê-la nesta engorda. Há ampla informação na internet sobre os problemas de tipo alérgico que podem produzir as madeiras de origem tropical. Não sabemos se são os produtos com que se tratam, algum composto da própria madeira ou o facto de as haver ingerido mas no nosso caso ficou bem patente que foram as responsáveis desta grave situação que nos causou tantos problemas.

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