Há três anos, a 333 lançou um inquérito para avaliar a percepção do sector sobre o risco de entrada da peste suína africana (PSA) em Espanha. Nessa altura, 70% dos participantes consideravam a PSA um risco iminente, acreditando que o vírus chegaria no prazo de três anos. Felizmente, estavam enganados. No entanto, a questão não é se chegará, mas sim quando. Portanto, a preparação continua a ser essencial. Este artigo analisa a situação actual na Europa, os principais mecanismos de transmissão, as medidas que se têm revelado eficazes e o nível de preparação de Espanha.
Cenário atual da PSA: a maior extensão da história
A Peste Suína Africana (PSA) nunca antes tinha atingido uma distribuição global tão disseminada. Na União Europeia, 13 Estados-Membros estão agora afetados. Embora países como a Bélgica e a Suécia tenham conseguido erradicar o vírus após a sua deteção inicial, a doença continua a ganhar terreno noutras regiões. Em 2024, foram notificados mais de 14.000 focos em javalis, e embora os focos notificados em suínos domésticos tenham diminuído 83%, o número de explorações afetadas continua a diminuir, especialmente nas pequenas explorações do sudeste da Europa. E o vírus está a avançar para oeste (Figura 1).


Como se expande a PSA
A Peste Suína Africana (PSA) propaga-se por duas vias principais: uma natural, mais lenta, mas constante, e outra mediada pela ação humana, muito mais rápida, imprevisível e difícil de conter.
A transmissão natural ocorre entre javalis, que funcionam como reservatório. Um exemplo é a disseminação do vírus pela região do Báltico. Os movimentos naturais dos javalis em busca de alimento ou durante o comportamento reprodutivo facilitam a propagação da infeção. O ambiente desempenha um papel determinante nesta dinâmica.
Os fatores que influenciam diretamente a direção e a velocidade do contágio incluem:
- presença de barreiras naturais: grandes rios, zonas urbanas, infraestruturas rodoviárias, etc.;
- disponibilidade de alimento;
- tipo de cobertura vegetal;
- estação do ano.
A distâncias muito curtas (<500 m), até mesmo os vetores mecânicos como a mosca-dos-estábulos (Stomoxys calcitrans) podem desempenhar um papel. Em qualquer caso, a dispersão natural não ultrapassa os 15-30 km por ano, ou seja, é muito lenta.
Qualquer novo caso que ocorra a mais de 100 km de uma área infetada será, muito provavelmente, devido à ação humana.
A disseminação mediada por humanos representa uma via de transmissão difícil de prever, capaz de levar o vírus, por exemplo, à ilha de Hispaniola (República Dominicana e Haiti) nas Caraíbas.
A introdução da Peste Suína Africana (PSA) através da atividade humana ocorre principalmente através de duas vias:
- transporte de javalis ou porcos vivos;
- transporte de produtos cárneos ou outros materiais infetados.
Sabemos como entrou o vírus? Conversas de corredor
É muito difícil identificar a causa específica da introdução de cada vírus, embora existam frequentemente especulações não verificáveis, por exemplo:
- Geórgia, 2007: atribuído a restos de comida de navios vindos de África, que poderiam ter sido utilizados para alimentar porcos criados em quintais;
- República Checa, Zlín, 2017: rumores apontam para restos de comida contaminados, presumivelmente provenientes de um país da Europa de Leste, aos quais os javalis selvagens periurbanos tiveram acesso;
- Bélgica, 2018: este surto inesperado pode ter sido devido à importação e libertação ilegais de javalis selvagens da Polónia;
- Suécia, 2023: ligado a um aterro sanitário de uma comunidade rural, frequentado por javalis selvagens.
A rota marítima representa uma ameaça real. Além do caso da Geórgia, há que considerar a possibilidade de o vírus ter chegado a Génova, Itália, através do transporte marítimo internacional. Os países com infraestruturas marítimas não devem subestimar este risco.
Medidas de controlo da PSA em javalis
A experiência europeia demonstra que o controlo da Peste Suína Africana (PSA) nas populações de javalis é possível, mas exige um esforço extraordinário. Os cenários com maior probabilidade de sucesso partilham três condições principais:
-
introdução atempada do vírus;
-
deteção precoce;
-
resposta imediata e bem coordenada.
A Suécia conseguiu erradicar a doença graças à sua deteção precoce e à aplicação imediata de medidas como a caça estratégica, a eliminação sistemática de carcaças infetadas, a rápida instalação de vedações para limitar a circulação de animais e o reforço da biossegurança nas explorações de suínos.
O controlo torna-se muito mais complexo se:
- houver um avanço da Peste Suína Africana (PSA) sob a forma de uma frente epidémica, como nos países bálticos;
- existirem múltiplos pontos de entrada independentes, como acontece em Itália;
- a deteção for tardia.
Nestes casos, as medidas de intervenção perdem a sua eficácia, o tratamento prolonga-se ao longo do tempo e os custos aumentam significativamente (Figura 2).

Que novas ferramentas podemos esperar?
Embora existam projetos promissores para o desenvolvimento de vacinas contra a Peste Suína Africana (PSA), o progresso ainda não permite a disponibilidade de uma solução a curto prazo. O mesmo se aplica à imunoesterilização com GnRH, proposta para o controlo populacional de javalis. Apesar das vantagens teóricas, o facto de a imunoesterilização necessitar de ser administrada individualmente e por injeção torna-a uma opção menos viável em animais selvagens, onde as populações são numerosas, dispersas e de difícil acesso.
A integração de tecnologias como as armadilhas fotográficas, a telemetria e até a utilização de drones está a abrir novas possibilidades. Estas ferramentas permitem obter dados fundamentais sobre a densidade, a conetividade e os padrões de movimento dos javalis, facilitando uma tomada de decisão mais informada e adaptada ao contexto epidemiológico.
Considerando o que aconteceu em países recentemente afetados, a questão óbvia é: estamos preparados para esta ameaça? Abordaremos esta questão no nosso próximo artigo.





