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Quatro anos de PSA em Itália: lições aprendidas e perspetivas

Quase quatro anos após a detecção do primeiro caso de peste suína africana em Itália, a epidemia continua a representar um desafio complexo para a saúde animal e para a gestão da vida selvagem no país. Desde janeiro de 2022, o vírus surgiu em quatro áreas geográficas distintas, todas resultantes de introduções independentes de origem antropogénica, ocorridas em diferentes momentos e em diferentes contextos ambientais.

Situação atual

O norte de Itália (Piemonte, Ligúria, Lombardia, Emília-Romanha e Toscânia) continua a ser o epicentro original e a área mais problemática. Após a sua introdução, o vírus da peste suína africana (PSA) espalhou-se rapidamente entre a população de javalis, facilitado pela continuidade do habitat, elevada densidade populacional e topografia complexa. As áreas sob restrições aumentaram dos 1.000 km² iniciais para mais de 21.000 km² atualmente. Este aumento de vinte vezes desde 2022 reflete que as medidas iniciais de contenção não conseguiram o efeito desejado.

A região metropolitana de Roma, onde a doença foi introduzida em abril de 2022, através da atividade humana, representa um caso de erradicação bem-sucedida. O encerramento das passagens subterrâneas sob a circular (Grande Raccordo Anulare), juntamente com a vigilância passiva intensiva e o despovoamento seletivo realizado exclusivamente através de armadilhas, permitiu a eliminação do vírus num período relativamente curto (último caso no verão de 2023). Hoje, a capital italiana está oficialmente livre da doença.

No centro e sul de Itália (Campânia, Basilicata e Calábria), duas introduções distintas provocaram dois pequenos focos, sem uma expansão significativa das áreas de restrição. Estas áreas abrangem aproximadamente 5.000 km², embora a situação pareça menos crítica do que no norte. Na Campânia e na Basilicata, a baixa sensibilidade do sistema de vigilância impede a exclusão completa do vírus, enquanto a Calábria está a progredir no sentido da erradicação da doença.

No total, as áreas afetadas ultrapassam agora os 25.000 km², sendo o norte o principal foco de preocupação e Roma o exemplo de uma estratégia eficaz.


Foto 1. Mapa de surtos de PSA

Fundamentos da gestão

A experiência internacional demonstrou que o controlo da peste suína africana (PSA) em javalis requer uma sequência lógica de ações:

  1. travar a onda epidémica e impedir a propagação geográfica do vírus.
  2. estimular a letalidade natural do vírus, permitindo que a epidemia reduza drasticamente a densidade da população infetada;
  3. reduzir a população restante, uma vez que o vírus já tenha causado um colapso demográfico, de forma a prevenir um rápido ressurgimento.

Estes princípios só são aplicados de forma eficaz se acompanhados por duas ferramentas essenciais: cercas funcionais para limitar a propagação do vírus e vigilância passiva generalizada para monitorizar a sua evolução, identificar a transição para a fase endémica e certificar a erradicação.


Foto 2. PIG BRIG - Inovadora armadilha para javalis do ISPRA.

O que funcionou e o que não

No norte de Itália, a estratégia implementada foi inconsistente e fragmentada. O cerco não foi concluído a tempo, o despovoamento foi desigual e mal coordenado e a vigilância detetou muito menos cadáveres do que o esperado. Em muitos casos, a descoberta dos mesmos, foi relatada pelos cidadãos, em vez de através de sistemas de busca estruturados.

Em contraste, em Roma, a implementação rigorosa das medidas recomendadas demonstrou que uma abordagem unificada e atempada pode funcionar. Uma cadeia de comando clara, a cooperação interinstitucional e a comunicação transparente possibilitaram a erradicação num curto período.

Nas regiões centro e sul do país, as medidas têm sido implementadas de forma mais gradual, cautelosa e consistente. Embora a ausência de novos casos positivos seja encorajadora, o sistema de vigilância ainda tem de ser reforçado para confirmar a verdadeira erradicação do vírus na Campânia e na Basilicata.

Um problema generalizado, presente em todas as áreas, é a fragmentação de poderes. As decisões regionais nem sempre estiveram alinhadas com a estratégia nacional, o que levou a atrasos e incoerências. A resistência local ao cerco ou à suspensão da caça também tem frequentemente abrandado as intervenções essenciais.

Lições e perspectivas

O futuro do combate à peste suína africana (PSA) em Itália depende da capacidade de construir uma visão unificada que diferencie claramente a gestão do vírus nos javalis da dos suínos domésticos.

No sector pecuário, as prioridades — biossegurança, controlos e vigilância — estão bem estabelecidas. Em relação aos javalis, no entanto, a abordagem continua mais reativa e inconsistente.

Para melhorar, a Itália deve:

  • definir uma estratégia nacional clara, acordada por todos os níveis de governo;
  • invistir na vigilância passiva e na comunicação de riscos, ferramentas essenciais para o envolvimento das principais partes interessadas, incluindo os caçadores e o público;
  • manter a consistência e a continuidade na tomada de decisões, evitando mudanças devido a pressões locais ou perceções sociais.

As experiências mais bem-sucedidas — como a de Roma — demonstram que, quando as ações são rápidas, coordenadas e bem comunicadas, é possível erradicar o vírus.

Consulta o "guía de doenças" para mais informação

Peste Suína AfricanaA Peste Suína Africana é uma das doenças virais mais importantes nos porcos. É uma doença sistémica e é de notificação obrigatória na maioria dos países do mundo.

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