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Caso clínico: PMWS com presença de Pasteurella e micotoxinas

A presença de atrasos no crescimento poucos dias após a entrada na engorda, dificuldades respiratórias e o aumento da mortalidade podem ter várias causas

26 Janeiro 2009
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Descrição da Exploração



A exploração que nos ocupará este mês é uma exploração de ciclo fechado com 250 porcas que se encontra situada na Bretanha francesa. Realiza um maneio em 7 bandas cada 3 semanas e desmama aos 28 dias. A exploração utiliza primíparas de auto-substituição. Relativamente à alimentação, os porcos de engorda alimentam-se com ração fabricada na própria exploração enquanto que a ração para porcas e de primeira e segunda idade é comprada.

A exploração encontra-se distribuída da seguinte forma:


Estatuto sanitário

PRRS
Positivo
Actinobacillus pleuropneumoniae
Positivo
Streptococcus suis
Positivo
Rinite
Positivo
Mycoplasma hyopneumoniae
Positivo








Profilaxias realizadas

Mycoplasma hyopneumoniae Vacinação dos leitões às 4 semanas de vida (monodose)
PRRS Vacinação dos leitões às 6 semanas de vida
PCV2 Vacinação das mães 3 semanas antes do parto


Aparecimento do Caso



Após observar, desde há vários meses, atrasos no crescimento aos 10 a 15 dias após a entrada na engorda, bem como dificuldades respiratórias e mortalidade na última banda, o suinicultor decide levar vários animais para o laboratório e chama o veterinário.


Resultado das Primeiras Necrópsias



O suinicultor leva para o laboratório 3 porcos de engorda de aproximadamente uns 50 kg de peso.

Lesões observadas

Porco 1
Porco 2
Porco 3
Aspecto exterior Dermatite severa Nada relevante Dermatite mais leve
Cavidade torácica

- Coração: nada relevante
- Reacção ganglionar generalizada
- Broncopneumonia purulenta

- Coração: nada relevante
- Reacção ganglionar generalizada
- Pleuresia

- Coração: nada relevante
- Reacção ganglionar generalizada
- Pneumonia severa com abcessos e pleuresia
Cavidade abdominal Nefrite Presença de fibrina ao nível do fígado, baço e intestinos Nada relevante


O quadro lesional apresenta-se muito heterogéneo.

Análises bacteriológicas

Porco 1
Porco 2
Porco 3
Isolamentos e identificações Escherichia coli em amostras de pulmão Pasteurella multocida em amostras de pulmão Escherichia coli em gânglios traqueo-bronquiais
Pasteurella multocida, Streptococcus suis 8 e Actinobacillus pleuropneumoniae B1S12 em pulmões

O exame bacteriológico também se apresenta muito heterogéneo.


Visita à Exploração


Porcas de substituição
Ao haver auto-substituição não existe quarentena e as primíparas são transferidas directamente da engorda para o pavilhão de gestação.
Gestação
Fertilidade correcta, cerca de 85% e boas entradas em cio.
Bom estado corporal das porcas.
Devido à ausência desde há um mês de um trabalhador da exploração, o suinicultor reconhece que tem um certo atraso nas vacinações.
Maternidade

Maneio das maternidades tudo dentro-tudo fora.
Os lugares de maternidade são sobre slat de plástico com placa de aquecimento ao nível dos ninhos de forma que o conforto para os leitões é óptimo.
Não se observa nenhum problema em particular.

Baterias
Presença de tosse seca, desde há uns 15 dias, nos leitões no final de transição.
Esta tosse apareceu pouco depois e de forma brusca nos porcos de engorda.
Engorda
Observa-se tosse em quase todas as salas desde há aproximadamente umas 3 semanas, junto com uma diminuição do apetite, se bem que os animais não pareçam muito abatidos e tampouco apresentem febre.
A banda de porcos de 40 - 50 kg parece a mais afectada já que se observa também emagrecimento e dispneia. Alguns animais apresentam febre (temperaturas tomadas em 5 animais: 40,9 ; 40,1 ; 40,3 ; 41 ; 40,7°C).
As perdas estimadas na engorda são próximas a 8% durante os últimos 2 a 3 meses, principalmente durante o primeiro mês de engorda.

Necropsia de um porco de 40 kg não tratado

Porco de 40 kg
Aspecto exterior - Emagrecimento brusco
- Dispneia
- Febre (40,7°C)
Cavidade torácica - Coração: nada relevante
- Presença de fibrina nos pulmões
- Pneumonia (15/28)
- Gânglios traqueo-bronquiais hipertrofiados
Cavidade abdominal - Diarreia crónica
- Mucosa cecal congestionada
- Gânglios inguinais esbranquiçados e hipertrofiados

Amostras recolhidas:

  • Pulmões: Bacteriologia, histologia
  • Gânglios inguinais: PCR quantitativa para PCV2
  • Milho e trigo utilizados para a alimentação dos porcos para presença de vomitoxina


Diagnóstico Diferencial



Os sinais respiratórios (tosse seca) e a diminuição do apetite no final do crescimento e inicio da engorda desde há aproximadamente 3 semanas evocam a presença de um vírus, provavelmente o vírus da influenza (SIV).

Por outro lado, os sinais de emagrecimento brusco aos 40 kg de peso e a presença de certas lesões macroscópicas observadas durante a necrópsia como a dermatite, nefrite e hipertrofia dos gânglios inguinais faz pensar na presença de PMWS.


Medidas Tomadas



Nesta fase as medidas tomadas são dirigidas para o tratamento dos sintomas.

Tratamento da febre:

  • Paracetamol a uma dose de 30 mg/kg/dia durante 3 dias em todos os porcos de engorda assim como nos porcos no final da fase de crescimento. Este tratamento deverá realizar-se durante 10 dias na banda de animais que apresentem maiores sinais de emagrecimento.

Tratamento das infecções secundárias:

  • Desinfecção do ambiente em todas as salas uma vez por dia até à diminuição dos sinais respiratórios.
  • Na banda mais afectada (com dispneia) tratamento também com doxiciclina à razão de 10 mg/kg/d durante 5 dias.


Resultados das Análises



Bacteriologia

Isola-se Pasteurella multocida
dos pulmões.

Histologia

Deplecção linfóide histiocitária moderada com presença de células gigantes e raras inclusões basófilas intracitoplásmicas em cacho.

Conclusão: discretas lesões compatíveis com uma circovirose.

PCR quantitativa para PCV2

A carga genómica foi de 7,6x1010 cópias virais sendo o limite máximo de significância de 107. A amostra foi, pois, positiva.

ELISA DON

Milho: entre 970 e 1390 ppb
Trigo: 1800 ppb

Na produção suína os resultados interpretam-se da seguinte forma:

  • < 150 ppb : levemente contaminado
  • 150-200 ppb : medianamente contaminado
  • 400 – 1000 ppb : significativamente contaminado
  • 1000 ppb : muito contaminado

As duas amostras são, pois, também positivas.


Medidas Propostas



Medidas zootécnicas

Aconselha-se evitar ao máximo a mistura de animais:

  • ao desmame (sobretudo os leitões procedentes de porcas de primeiro e segundo parto e os das porcas de terceiro parto ou superior),
  • à entrada na engorda.

Por vários motivos, parece difícil neste momento propor outras medidas como a desinfecção, o aquecimento das salas, etc. De todos modos, espera-se que isto mude no futuro e que se possam tomar novas medidas zootécnicas.

Plano de vacinação

Devem respeitar-se as datas de vacinação, de forma especial, a vacinação contra o circovirus.

Alimentação

Decide-se incluír um captador de micotoxinas na ração numa dose elevada (1 kg/T).

Vacinação dos leitões contra a circovirose

Ensaia-se uma vacinação dos leitões com uma injecção 1 mês antes do aparecimento dos sinais clínicos, ou seja, por volta das 8 a 9 semanas de vida.

Nas bandas não vacinadas

  • Paracetamol: 20 mg/kg/d durante 15 dias 1 semana depois da entrada na engorda, ou seja, antes do aparecimento dos sintomas.
  • Doxiciclina: 10 mg/kg/d durante 5 dias no caso de tosse ou dispneia (a Pasteurella isolada é sensível a este antibiótico).
  • Isolamento dos animais doentes na enfermaria.


Evolução do Caso



Entre a primeira e a segunda semana após a visita desapareceram os sinais gripais enquanto que o emagrecimento e a mortalidade continuaram após o primeiro mês. Observou-se uma diminuição das baixas que passaram de 10 para 6%, aproximadamente, e dos sinais de deterioração das bandas tratadas preventivamente com os anti-inflamatórios. Observaram-se todavia alguns leitões magros e febris.

As bandas vacinadas mostraram um melhor aspecto e pode-se constatar uma diminuição das bajas (3 a 4% sobre todo o período de engorda) assim como ausência de falta de crescimento.


Comentários



A presença de atrasos no crescimento poucos dias após a entrada na engorda, assim como dificuldades respiratórias e o aumento da mortalidade na última banda numa exploração de ciclo fechado faz com que o suinicultor se ponha em contacto com o veterinário.

Após realizar várias necrópsias detecta-se a presença de Escherichia coli, Streptococcus suis 8 e Actinobacillus pleuropneumoniae isolando Pasteurella de uma amostra de pulmões. Observa-se também gânglios traqueo-bronquiais e inguinais hipertrofiados, dermatite, nefrite e deplecção linfóide. Estes últimos sinais fazem pensar em PMWS. Por outro lado, a analise do milho e do trigo utilizados para a elaboração da ração na própria exploração dá como resultado uma elevada presença de micotoxinas.

Este caso de PMWS complicado pela presença de Pasteurella e de micotoxinas na ração merece os seguintes comentários:

1) Sobre o aparecimento da doença

São vários os factores que puderam favorecer o aparecimento dos sinais clínicos observados:

A falta de rigor nas vacinações

Esta falta de rigor, sobretudo no referente à vacinação contra o circovirus, pôde favorecer certa heterogeneidade do nível imunitário do efectivo, favorecendo assim o reaparecimento do PMWS. Seria necessário revacinar todo o conjunto de porcas 2 vezes com um intervalo de 1 mês.

A qualidade da alimentação

A DON inibe em parte a síntese de proteínas e de ADN levando a uma alteração mais ou menos severa da imunidade dos leitões. Esta diminuição geral da imunidade é um factor que ajuda ao desenvolvimento de agentes patógenos que se encontram em contacto com o organismo.

A infecção viral

A infecção viral, provavelmente gripal, comportou-se certamente como um factor agravante.

2) Sobre o diagnóstico

A observação e a descrição dos sintomas é muito importante neste tipo de casos já que o tratamento, num primeiro momento, é essencialmente sintomático. Quanto antes se intervenha (este não foi o caso), antes se pode diminuir a pressão de infecção e favorecer o regresso ao equilíbrio.

O envio de amostras para o laboratório para histologia e PCR quantitativa para PCV2 permite orientar ou inclusivamente confirmar, na maioria dos casos, o diagnóstico.

3) Sobre as medidas tomadas

O tratamento com os anti-inflamatórios não esteroideos parece ser essencial já que a hipertermia é responsável em grande parte pelos sinais de emagrecimento observados. O paracetamol está particularmente indicado já que permite o tratamento durante um largo período (superior a 10 dias) sem risco de provocar úlceras.

A vacinação dos leitões contra o circovirus permite ter uma reactividade superior e oferece igualmente a possibilidade de um diagnóstico "terapêutico".

Para finalizar, não deve esquecer-se que o nível imunitário das porcas (e sobretudo a sua homogeneidade) tem também a sua importância e que a vacinação das porcas é uma medida de estabilização a lango prazo.

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