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Evolução das lesões pulmonares nos últimos anos: que informação podemos retirar?

A avaliação das lesões pulmonares nos matadouros é útil para determinar o nível de comprometimento, monitorizar a sua evolução ao longo do tempo e, assim, estimar a eficácia das medidas implementadas para o controlo destas doenças.

Tanto a pneumonia enzoótica, cujo principal agente é o Mycoplasma hyopneumoniae, como a pleuropneumonia suína, causada pelo Actinobacillus pleuropneumoniae (APP), são doenças respiratórias dos suínos, com distribuição global e que provocam perdas produtivas e económicas substanciais nas explorações suínas, principalmente durante a fase de crescimento e engorda.

Principais lesões pulmonares observadas no matadouro

Nos pulmões avaliados em matadouros, as lesões mais frequentemente observadas são a broncopneumonia cranioventral e a pleurite.

A broncopneumonia cranioventral está primariamente associada à pneumonia enzoótica. Estas lesões apresentam-se como áreas de consolidação, firmes ao toque, e variam na coloração de cinzento a púrpura, dependendo da idade da lesão e de eventuais complicações bacterianas secundárias.

Processo broncopneumónico
Processo broncopneumónico

As lesões surgem aproximadamente duas semanas após a infeção e atingem o seu pico duas a quatro semanas depois.

A partir da oitava semana após a infeção, as lesões broncopneumónicas começam a regredir e a formação de cicatrizes começa a surgir.

Cicatriz

Cicatriz

A cicatrização pode estar completa 10 a 12 semanas após a infeção e, com o tempo, as lesões podem mesmo desaparecer.

Analisar a relação entre a prevalência de pulmões broncopneumónicos e a fibrose pulmonar permite estabelecer o tempo aproximado em que o lote foi afetado pelas lesões, estimando, assim, se as lesões correspondem a um processo específico.

  • Crónica: iniciou-se na primeira metade do período de engorda.
  • Aguda: iniciou-se durante a segunda metade do período de engorda.

A presença de lesões broncopneumónicas cranioventrais associadas a Mycoplasma hyopneumoniae influencia os índices de produção durante o período de engorda, resultando em graus variáveis ​​de perda no ganho médio diário, aumento da conversão alimentar e prolongamento do período de acabamento, dependendo da área do pulmão afetada pelas lesões.

A pleurite é frequentemente observada e consiste em lesões que afetam a região dorsocaudal do pulmão, principalmente associadas a formas subagudas ou crónicas de pleuropneumonia suína (APP). Manifesta-se como áreas esbranquiçadas na pleura visceral dos lobos diafragmáticos, correspondentes a depósitos de fibrina.

Pleuritis craneal

Pleuritis craneal

Pleurite cranial

Pleurite cranial

Pleurite cranial

Pleurite cranial

Pleurite dorsocaudal

Pleurite dorsocaudal

Pleurite dorsocaudal

Pleurite dorsocaudal

A pleurite também pode ser observada a afetar as áreas cranianas do pulmão, criando aderências entre os lobos pulmonares adjacentes. Estas estão geralmente associadas a processos respiratórios secundários de origem bacteriana (Pasteurella multocida, Glaesserella parasuis, Streptococcus suis, etc.) e são designadas por pleurite craniana para as diferenciar das associadas ao pneumotórax alveolar primário (PP).

Como evoluíram as lesões compatíveis com pneumonia enzoótica em Espanha nos últimos anos?

Em Espanha, após mais de 6.500 lotes e mais de um milhão de pulmões avaliados, observamos uma redução do grau de envolvimento por lesões compatíveis com Mycoplasma hyopneumoniae desde 2016 até ao presente (Tabela 1 e Gráfico 1), tanto em:

  • prevalência de pulmões afetados (de 49,96% para 23,71%);
  • área média da superfície pulmonar afetada por lesões (de 3,83% para 1,39%).

Tabela 1. Evolução das lesões pulmonares de 2016 a 2024 em Espanha

2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023 2024
Número pulmões avaliados
76.868 154.817 214.702 184.741 100.017 109.251 68.786 93.568 173.220
% Pulmões broncopneumónicos
49,96 42,64 41,50 37,60 32,34 31,11 35,56 28,65 24,33
% Superficie média afetada
3,83 3,16 2,79 2,53 2,12 2,37 2,29 1,96 1,45
% Pleurite craneal
13,24 13,90 21,36 21,15 21,30 18,28 10,11 10,08 12,67
% Cicatrizes
14,00 10,57 10,84 12,34 15,56 15,49 17,94 13,07 12,90
% Pleurite dorsocaudal
11,98 13,43 23,22 22,00 18,88 20,66 10,02 12,52 14,85
Índice App
0,34 0,37 0,60 0,59 0,53 0,60 0,29 0,36 0,41
Gráfico 1. Evolução das lesões compatíveis com Mycoplasma hyopneumoniae.

Gráfico 1. Evolução das lesões compatíveis com Mycoplasma hyopneumoniae.

Observámos um ligeiro aumento durante 2021 e 2022, possivelmente devido a co-infecções com estirpes hipervirulentas do vírus da PRRS, que geraram um aumento do grau de lesões observadas, e a um agravamento geral da saúde das explorações agrícolas em determinadas áreas.

Esta melhoria observada ao longo dos anos pode ser atribuída quer ao aperfeiçoamento das estratégias de controlo dos problemas causados ​​pelo Mycoplasma hyopneumoniae, quer ao aumento do peso ao abate e, consequentemente, da idade dos animais. Isto reflete-se, em certa medida, no facto de o aspeto das cicatrizes não diminuir tão drasticamente como a prevalência das lesões, antes pelo contrário, parece manter-se igual ou até mesmo aumentar. Assim sendo, é possível que muitas das lesões tenham cicatrizado e, assim, não sejam observadas no abate como lesões broncopneumónicas, mas sim como cicatrizes.

Em animais sistematicamente abatidos em idades mais avançadas, como os porcos ibéricos ou as porcas de refugo, é comum observar-se um grande número de cicatrizes, sem que se observem lesões broncopneumónicas.

E quanto à pleurisia? Como evoluiu?

Em relação à pleurite dorso-caudal associada à APP, não se observa um padrão claro de evolução, pelo contrário, existem flutuações na prevalência das lesões. De 11,98% em 2016, subiu para 23,22% em 2018, antes de diminuir para os níveis anteriores em 2022. No entanto, parece haver um novo aumento no nível de lesões durante os dois últimos anos avaliados (Tabela 1 e Figura 2).

Gráfico 2. Evolução das lesões compatíveis com Actinobacillus pleuropneumoniae.

Gráfico 2. Evolução das lesões compatíveis com Actinobacillus pleuropneumoniae.

No caso das lesões associadas à APP, o aumento da prevalência de lesões observado a partir de 2018 pode estar relacionado quer com a redução geral do uso de antibióticos durante as fases de transição e engorda, quer com o aumento do período médio de lactação ocorrido nesses anos. Contudo, esta variação na prevalência e gravidade das lesões dificilmente segue um padrão claro, dada a existência de diferentes serotipos com graus variáveis ​​de virulência, cuja prevalência também evolui ao longo do tempo. Não obstante, ambos os factores podem estar relacionados, sendo que seriam necessários estudos adicionais que associem a gravidade das lesões à prevalência de diferentes serotipos de APP para determinar esta relação.

A importância da análise ao nível da exploração

Embora o estudo da evolução das lesões pulmonares numa determinada área ou país nos possa ajudar a analisar a evolução da saúde respiratória em geral, o estudo individualizado numa exploração ou cadeia de produção é importante porque permite estimar o grau de impacto destas doenças nos índices de produção e, por vezes, é a única forma de monitorizar como evolui a eficácia das medidas implementadas para controlar estas doenças, especialmente no caso do Mycoplasma hyopneumoniae, uma vez que os índices de produção podem ser afetados por outros fatores não necessariamente relacionados com a doença.

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