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Caso clínico: Erradicação de PRRS de um centro de IA

O PRRS é um sindroma que causa graves problemas nas explorações. A existência num centro de IA é uma forma de a doença se espalhar com muita facilidade

3 Abril 2006
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Antecedentes e descrição da exploração



Durante o verão de 2004 decide-se alterar o destino produtivo de uma exploração de 600 porcas em ciclo fechado situada numa zona montanhosa da Itália central com uma baixa densidade de explorações de porcos. A referida exploração faz parte de uma estrutura de produção integrada que tem cerca de 10.000 porcas. Após larga discussão sobre as alterações a fazer, que incluem aspectos sanitários, económicos e comerciais, decide-se que a melhor solução é transformá-la num sítio 1 que possa albergar 2.400 mães. Decide-se, também, obter um estuto sanitário PRRS negativo.

No mesmo período, o grupo integrador está a construir dois centros de inseminação artificial destinados a fornecer sémen a toda a estrutura. Dos dois centros, um está pronto para alojar os machos ao mesmo tempo que se instalam as nulíparas na nova exploração vazia. Serão os primeiros machos negativos à PRRS de toda a estrutura.

Prevê-se a entrada das nulíparas para finais de Janeiro de 2005 e o inicio das cobrições a 15 de Março. A entrada de machos no novo centro será a inicios de Fevereiro.

A inicios de Janeiro de 2005, o fornecedor dos machos informa que os animais que sairão nos próximos meses estão infectado com PRRS. Após uma rápida prospecção de mercado, assume-se a impossibilidade de conseguir machos negativos à PRRS de outro fornecedor e decide-se adquirir o sémen num centro de inseminação PRRS-negativo situado noutro país comunitário e recebê-lo por via aérea 2 vezes por semana.

Por enquanto, o novo centro de inseminação permanece vazio e inutilizado. Por outro lado, enquanto que o sémen de origem externa pertence a uma linha genética da que se sabe pouco relativamente ao rendimento durante a engorda, os varrascos recentemente infectados produzem uns animais que se ajustam aos parâmetros desejados. Mas esta fonte não poderá fornecer novos machos PRRS-negativos senão dentro de 6 meses pelo menos.

Descrição da exploração

O novo centro está situado numa zona montanhosa muito isolada. A exploração mais próxima está a 10 km de distância. A biosegurança do centro é boa: vedação em todo o perimetro, vestiários com zonas limpa e suja bem delimitadas, duche obrigatório à entrada e só 2 pessoas acedem à exploração.


Evolução


Após uma longa discussão decide-se adquirir os machos positivos à PRRS para não deixar o centro vazio. O sémen destes machos se utilizará para cobrir as porcas positivas de outras explorações da empresa.



À chegada dos machos realizou-se um controle serológico e virológico com os seguintes resultados:
n° box 33n° macho Iddex Elisa s/p ratio PCR
1 2282 1,27 negativo
2 2281 1,55 negativo
3 2272 3,40 negativo
4 2304 2,20 negativo
5 2275 3,27 negativo
6 2239 2,35 negativo
7 2257 2,93 negativo
8 2238 2,45 negativo
9 2261 2,78 negativo
10 2228 2,26 negativo
11 2322 2,22 negativo
12 2308 2,72 negativo
13 2331 0,00 negativo
14 2317 2,05 negativo
15 2286 1,87 negativo
16 2252 2,43 negativo
17 2266 0,73 negativo
18 2241 1,11 negativo
19 2307 2,49 negativo
20 2251 2,06 negativo
21 2255 1,57 negativo
22 2243 1,45 negativo
23 2329 1,25 negativo
24 2334 0,99 negativo
25 2237 0,83 negativo
26 2232 0,00 negativo
27 2325 3,10 negativo
28 2279 2,64 negativo
29 2274 2,29 negativo
30 2235 2,20 negativo
31 2273 2,96 negativo
32 2377 1,83 negativo
Média 1,98



Decisão final


Decide-se continuar a monitorizar serologicamente os machos com uma periodicidade mensal e estes são os resultados do teste Elisa Iddex com os valores relativos de s/p mostrados na tabela.

O resultado do exame serológico, que após uma primeira fase de 90 dias deixava antever uma negativização progressiva de parte dos animais, evidenciou finalmente que o virus continuava activo na população.

A opinião dos veterinários foi, que esta população positiva não poderia produzir sémen negativo; pese a que as PCR não tenham detectado virus no sémen, decide-se não expôr a população de fêmeas com sémen desta procedência. Aconselhou-se vazar a exploração e repovoar com machos negativos à PRRS.
n° box n° macho Amostra
14-Fevereiro 14-Março 05-Abril 03-Maio 31-Maio
1
2282 1,27 0,91 0,84 0,53 2,53
2
2281 1,55 3,06 2,12 1,46 3,82
3
2272 3,40 3,01 2,83 2,01 2,61
4
2304 2,20 2,92 1,14 1,03 1,17
5
2275 3,27 3,01 2,34 2,07 3,68
6
2239 2,35 1,43 1,51 1,00 4,71
7
2257 2,93 3,26 2,66 1,93 3,2
8
2238 2,45 2,89 2,55 2,44 3,67
9
2261 2,78 2,82 1,70 1,38 3,81
10
2228 2,26 3,37 1,13 0,58 0,56
11
2322 2,22 3,23 1,96 1,66 1,54
12
2308 2,72 3,75 2,65 1,58 3,93
13
2331 0,00 1,01 0,00 0,00 2,94
14
2317 2,05 1,54 1,80 2,12 3,61
15
2286 1,87 1,09 1,22 0,66 1,01
16
2252 2,43 1,08 1,46 1,75 2,04
17
2266 0,73 3,23 1,63 0,64 0,58
18
2241 1,11 2,31 1,99 1,58 1,51
19
2307 2,49 3,06 1,61 1,48 4,36
20
2251 2,06 2,84 1,54 1,19 3,08
21
2255 1,57 1,60 0,68 0,47 4,24
22
2243 1,45 1,96 1,81 1,43 1,10
23
2329 1,25 0,77 0,80 0,72 0,94
24
2334 0,99 2,08 1,33 0,81 3,88
25
2237 0,83 1,13 0,44 0,00 0,00
26
2232 0,00 0,74 0,50 0,48 1,52
27
2325 3,10 3,26 1,53 1,11 3,96
28
2279 2,64 2,98 1,68 1,43 4,41
29
2274 2,29 2,89 1,19 0,66 1,12
30
2235 2,20 0,91 1,25 0,89 0,9
31 2273 2,96 1,52 1,79 1,15 4,16
32 2377 1,83 1,66 2,86 1,92 1,72
Média 1,98 2,23 1,58 1,19 2,57


Comentários



A situação deste caso deve avaliar-se tendo em conta a pressão de que o veterinário foi alvo por parte dos responsáveis de produção, que sempre têm a redução de custos como objectivo primário.

A utilização de sémen importado aumentava os custos: tratava-se de uma exploração de 2.400 fêmeas, o que implicava uns 140 animais para cobrir em cada semana, para o que eram necessárias umas 350 doses/semana. Tratava-se de uma exploração de nulíparas, num país onde não é autorizado o uso de progestágenos sintéticos. Além do mais, com duas importações por semana, a qualidade do sémen não era sempre a óptima e a produtividade podia ressentir-se.

Decidiu-se andar para trás nas exigências da produção:

- Os varrascos entraram 30 dias depois da infecção, pelo que se tratou de avaliar a virémia eventual e a percentagem de possibilidade de PRRS com os valores relativos de s/p.

- Decide-se monitorizar mediante serologia para verificar se há uma negativização natural em curso para avaliar a possível adopção de um “test and removal”.

- Considerando que a bibliografia fala de eliminações intermitentes no sémen que podem chegar a ser muito tardias (até 92 dias) e que outros trabalhos cientificos demostraram a persistência do virus até 135 dias, decide-se alargar a monitorização até aos 120 dias da presumível data de infecção.

- A partir de 5 de Abril, aos 90 dias post-infecção, os valores s/p começam a diminuir, induzindo uma previsão optimista, reforçada após as amostras de 3 de Maio.

- Como indica no próprio Iddex, a última versão do kit caracteriza-se por uma descida muito rápida dos valores de s/p relativamente às versões precedentes do mesmo kit, pelo que o optimismo não estava muito fundamentado.

- Com o aumento dos valores s/p nas amostras decisivas, pese a impossibilidade de obter uma PCR positiva, decide-se despovoar o centro de inseminação. É repovoado 30 dias após a desinfecção, com machos negativos que, 6 meses depois, todavia são negativos.

Deste caso podem extrair-se duas conclusões:

- É sempre perigoso diminuír o rigor dos protocolos sanitários.

- Não se deve sobreavaliar o significado da serologia.

Como não se pôde identificar o virus responsável da seroconversão ocorrida 100 dias após a entrada dos machos e compará-la com a sequência do virus da exploração de origem, pelo tipo de exploração podemos afirmar que provavelmente não se trate de nenhuma infecção transversal, mas sim, de uma recirculação iniciada a partir de um dos machos positivos.

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