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Caso clínico: Patologia infecciosa devida a influenza e micoplasma

Os problemas respiratórios observados na exploração são muito complexos e associam-se com diversos agentes patógenos. Neste caso foi influenza e micoplasma

5 Fevereiro 2007
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Descrição da exploração


Trata-se de uma exploração de ciclo fechado com 100 porcas e maneio em dois sítios: um sítio para reprodução onde os leitões permanecem até aos 28 dias de vida (8 kg) e outro sítio situado a 3 km onde se alojam os animais entre o pós-desmame e a engorda.

A exploração encontra-se situada em França, numa zona com elevada densidade suína.

Tanto os animais de substituição como as doses de inseminação e o alimento são comprados fora da exploração.

A água utilizada para ambos sítios é proveninente do mesmo furo.

Estatuto sanitário:

Em princípio desconhece-se o estatuto sanitário para a maioria dos patógenos, com excepção do vírus da doença de Aujeszky, para o qual a exploração é negativa e para o qual se tem um controle regular. De todas as formas, devido à situação geográfica, é provável que a exploração sejaa positiva para PRRS e Micoplasma, ainda que não se observem sinais clínicos.

Plano profilático:

Porcas e primíparas:

- Autovacina contra E coli K88 e K99

- Clostridium perfringens tipo C

- Parvovirose

- Mal rubro

- Rinite atrófica devido a problemas clínicos durante o ano anterior

Antes do presente problema na exploração, a principal entidade patológica era a colibacilose devida a E. coli K88 com episódios regulares em todas as idades entre 15 a 100 dias. Com a instauração da vacinação das porcas e o facto de ter na engorde apenas animais procedentes de mães vacinadas assim como a realização de uma revisão completa do maneio, o problema retrocedeu de forma importante até se converter em episódico.


Aparecimento do caso e visita à exploração



Após ter de novo graves perdas na fase de engorda, o suinicultor decide pôr-se em contacto com o veterinário. Se bem que neste caso não se observem diarreias, a partir dos 60 dias de vida observa-se tosse seguida de emagrecimento e morte em 10% dos animais.

Pós-desmame

Os animais encontram-se alojados numa sala com 4 parques de 20 animais cada um sobre slat total. São respeitadas as normas zootécnicas (2 bebedouros por parque e 6 cm de comedouro/animal).

O sistema de ventilação tem um bom rendimento e funcionamento.

Os leitões apresentam um bom aspecto após o desmame com um peso de entre 8,5 a 9 kg (28 dias). Os animais agrupam-se em função do seu tamanho e alimentam-se com ração com um suplemento de colistina (120 ppm), oxitetraciclina (1000 ppm) e flubendazol (15 ppm) durante 2 semanas. Os lotes nunca se misturam.

Até aos 60 dias de vida os leitões não apresentam nenhum sinal patológico nem respiratório nem digestivo. Contudo, nos leitões de mais idade (75 dias de vida no momento da visita) observa-se tosse. Além de que 8 animais de uma banda de 89 apresentam dispnea e emagrecimento. Decide-se tomar a temperatura rectal de 5 animais doentes observando em todos uma hipertermia moderada entre 39,5 e 40,5°C enquanto que em 5 porcos não doentes a temperatura rectal é normal.


Engorda

Nesta fase os animais encontram-se alojados sobre slat de betão com 4 parques por banda. Cumprem-se também as normas zootécnicas com 2 bebedouros tipo chupeta para os parques e 5 cm de comedouro/porco.

Os porcos são agrupados de novo à entrada de engorda em função do seu tamanho.

O sistema de ventilação, tal como no pós-desmame, rende e funciona perfeitamente.

Nas duas bandas de animais mais jovens presentes na engorda podem-se observar as consequências dos sinais clínicos observados no final do pós-desmame: 7% dos porcos das duas bandas morreram e entre 4 a 5% são porcos de pouco valor económico, observa-se tosse relativamente seca.

O resto dos animais têm um desenvolvimento normal e nas bandas de maior idade (onde todos os animais doentes já morreram), não se detecta nenhum sinal patológico.

Necropsias

No dia da visita são necropsiados 2 porcos que se encontram no início da patologia observando-se:

- hipertrofia generalizada dos gânglios.

- nefrite intersticial.

- pneumonia massiva com consistência gomosa com uma pontuação de 20/28 nos dois animais.

- hepatização dos lóbulos apicais e cardíacos.



Exames complementares e medidas aconselhadas



Decide-se enviar os pulmões para o laboratório para realizar bacteriologia, PCR para PRRS e histologia para PMWS.

Programa-se também um controle pulmonar no matadouro e utilizam-se 7 leitões de 10 semanas de vida e 7 de 17 semanas para determinar a presença de PRRS e micoplasma.

O diagnóstico clínico e o estudo necroscópico orientam para uma doença de origem misto viral (PMWS+/-PRRS) e bacteriano (Mycoplasma hyopneumoniae).

À espera dos resultados das análises e tendo em conta o diagnóstico clínico prévio determinado, o veterinário recomenda um tratamento com aspirina durante 3 dias e com lincomicina durante 7 com o objectivo de reduzir os sintomas .


Resultados dos exames complementares



1- Controle no matadouro

Realiza-se em 66 porcos 8 dias depois da visita à exploração

Pontuação
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
>10
% de pulmões
20
6
12
10
6
5
2
1
3
0
0
2

A pontuação média do lote é de 2,3/28. Não se observa pleuresia mas sim um importante número de depressões cicatriciais (>20% de lote).

2- Resultados serológicos

O perfil serológico é o seguinte:

Idade M hyo (ELISA DAKO) PRRS (ELISA IDEXX)
1 10 semanas Negativo Negativo
2 10 semanas Negativo Negativo
3 10 semanas Negativo Negativo
4 10 semanas Negativo Negativo
5 10 semanas Negativo Negativo
6 10 semanas Negativo Negativo
7 10 semanas Negativo Negativo
8 17 semanas
Positivo
Negativo
9 17 semanas Negativo Negativo
10 17 semanas Negativo Negativo
11 17 semanas
Positivo
Negativo
12 17 semanas Negativo Negativo
13 17 semanas
Positivo
Negativo
14 17 semanas Negativo Negativo


3- Resultados da análise laboratorial dos pulmões

Nos dois pulmões analizados só se isolou Streptococcus suis.
A histologia mostra, em ambos os animais, uma broncopneumonia intersticial de aspecto viral acompanhada de uma sobre-infecção bacteriana.
A marcação imunohistoquímica para PCV2 resultou negativa mas positiva para influenza.
A PCR para PRRS é negativa.


Conclusões e medidas tomadas



Os resultados dos exames e análises orientam para uma patologia infecciosa devida a uma associação de influenza e micoplasma.

Vistos os resultados propõe-se tomar as seguintes medidas:

- prevenção das hipertermias com paracetamol na alimentação durante as duas últimas semanas de pós-desmame e a primeira de engorda

- tratamento com clortetraciclina + sulfamidas nos lotes não vacinados contra micoplasma 3 dias cada 15 dias desde as 8 semanas de vida e até às 14

- vacinação monodose de micoplasma aos 7 dias de vida a partir dos próximos desmames.


Evolução do Caso



Durante os 6 meses seguintes ao caso, os problemas clínicos e as perdas reduziram-se notavelmente. No final dos 3 meses seguintes o suinicultor terminou a medicação com paracetamol por iniciativa própria e os tratamentos antibióticos nos porcos vacinados contra micoplasma como já se tinha previsto.

Ao cabo destes 6 meses, a patologia reinicia-se com sinais associados a tosse, subidas de temperatura e nervosismo (lutas entre animais chegando inclusive à morte dos animais mais débeis).

Realiza-se um novo controle no matadouro obtendo resultados muito satisfatórios (pontuação média 0,3/28, 86% indemnes).

O perfil serológico realizado a porcos de 9, 15 e 25 semanas de vida resulta completamente negativo para PRRS mas positivo para influenza às 25 semanas (e negativo às 15 semanas).

- Dentro deste contexto e tendo em conta que só se destaca uma circulação gripal, aconselha-se a vacinação contra a gripe às 6 semanas e 10 semanas de vida.

- Prescreve-se também, como medida complementar, a desinfecção ambiental mediante nebulizador em frio duas vezes por dia em todas as salas de engorda utilizando um produto pouco nocivo à base de trocloseno (derivado do cloro).

Um ano depois, o suinicultor não modificou este plano de profilaxia mas mostrou em repetidas ocasiões o desejo legítimo de parar a vacinação. Contudo, este representaria um risco impossível de quantificar.


Comentários



Este caso, aparecido numa exploração de ciclo fechado situada numa zona de alta densidade suína de França, onde aparecem graves perdas na engorde e se observa, a partir dos 60 dias de vida, tosse seguida de emagreciemento e morte em 10% dos animais, ilustra-nos vários pontos que merecem ser discutidos:

Diagnóstico clínico e inclusive necrópsico

Como mostra este caso, os problemas respiratórios observados na exploração são muito complexos e associam-se com diversos agentes patógenos.

A necropsia dos dois animales por si só realizada durante a primeira visita à exploração não teria permitido concluír o papel primário do vírus da influenza.

A quem a imagem apresentada na descrição do caso indicou a presença de lesões de origem gripal e micoplásmica?

As possibilidade de analises para a influenza

Segundo o veterinário, as análises de laboratório na definição do diagnóstico da influenza suína são frequentemente decepcionantes :

- As análises serológicas mediante IHA são específicas para o genótipo mas, pode-se estar seguro que são capazes de detectar, por possíveis reacções cruzadas, todos os genótipos que circulam? Como explicar os resultados serológicos negativos e as imunohistoquímicas positivas para a mesma exploração?

- O ELISA permite detectar, à priori, a presença de anticorpos dirigidos contra todos os vírus do tipo A mas, tem-se suficiente informação sobre este campo? De todas as formas (e ainda que isto não tenha sistematicamente um interesse como o discutido a seguir), não permite conhecer o genótipo preciso em questão e pode eventualmente detectar genótipos não patógenos.

- O cultivo sobre embriões apresenta vários inconvenientes (sensibilidade, custo) com um prazo de resposta para a classificação incompatível com a prática diária.

- A imunohistoquímica e a imunofluorescência são duas ferramentas de diagnóstico individual interessantes mas ainda sem precisão do genótipo e dificilmente explorável para estudos de dinâmica das infecções numa exploração.

- LA histologia desgraçadamente e com frequência não é conclusiva por si só.

Determinação do genótipo

Cientificamente e/ou epidemiologicamente falando, pareceria necessário e inclusive indispensável conhecer o genótipo em questão. Contudo, para o suinicultor e o veterinário, a resposta é, frequentemente, diferente já que o genótipo em questão não vai modificar de forma muito importante as medidas propostas.

As alternativas terapeuticas

Além das medidas técnicas (alojamento, ventilação...), as medidas médicas a tomar são poucas, frequentemente caras e o retorno do investimento difícil de calcular tendo em conta que a patologia gripal pode ter aspectos muito diferentes. Não obstante, algumas medidas são, frequentemente, indispensáveis como por exemplo a utilização de antipiréticos para os casos agudos (ou inclusive os anti-infecciosos para o controle das sobre-infecções). A vacinação antigripal dos leitões raramente se utiliza, em parte porque afortunadamente não costuma ser necessária para os casos que evoluem rapidamente e também porque a sua eficácia é bastante discutível (por exemplo, na luta contra a infecção devida a H1N2). Por último, as nebulizações ambientais são, segundo o veterinário, uma ajuda muito valiosa no maneio de casos complicados limitando o contágio lento de sala para sala e a infecção crónica.

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