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Caso clínico: Mortes súbitas de porcas por electrocussão

A verificação das instalações é fundamental para evitar problemas com os animais. Neste caso, a deficiência da instalação electrica estava a provocar mortes

1 Fevereiro 2006
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Descrição da Exploração



Trata-se de uma exploração de ciclo fechado, de uns 20 anos de idade, com 175 porcas LD x LW onde se produzem leitões para venda directa e engorda para matadouro.

A exploração foi crescendo à medida que as necessidades iam surgindo, pelo que não pode ter perfeitamente as condições de higiene e movimento dos animais, apesar de que os donos tenham tentado adaptar os lugares de alojamento a um programa higio-sanitário.

Na exploração já se têm dado casos de mortes súbitas por doenças de aparecimento esporádico, como clostridiose ou salmonelose.



Aparecimento do Caso



O responsável pela exploração avisa-nos porque começaram a aparecer porcas mortas sem sintomatologia aparente.


Visita à Exploração (dia 0)




No momento da visita encontramos um animal morto há umas 6 horas, sendo esta a terceira porca morta em 24 horas.

Realizamos a necroscopia da mesma, onde se constatam os seguintes sinais:

  • Presença de espuma no focinho, sanguinolenta.
  • Ligeira protrusão da mucosa rectal.
  • Extremidades rectas, em posição semi-forçada.
  • No figado descubrimos vesículas gaseosas, em toda a sua superfície, com uma coloração pálida.
  • Anatomia patológica típica de infecção por clostridiose.

Perguntamos ao tratador se o resto das porcas tinham morrido em situações similares, e com sintomas parecidos, ao que ele respondeu que não, que as outras duas porcas morreram na maternidade, antes do parto, sem sintomas aparentes, e sem ter relação com problemas ante-parto.

Como não temos os cadáveres, não se realiza a investigação.

Perguntando ao encarregado pelo resto dos animais da exploração, informa-nos que não há problemas específicos, salvo as tosses, ou as pequenas diarreias ocasionais de leitões desmamados, ou de recém-nascidos, mas que respondem perfeitamente aos tratamentos aplicados.

Medidas aplicadas

Dado o historial da exploração, onde todos os anos aparecem casos de mortes súbitas por clostridios, e a boa resposta aos tratamentos antibióticos aplicados, sugerimos o tratador que faça uma medicação na ração mediante antibioterapia adequada.

O mesmo tempo relembramos como se devem usar as vacinas coli-clostridium, que se aplicam correctamente (30 dias pré-parto), e apontamos para a possibilidade de vacinação das porcas, no caso de que os casos de mortes continuem a aparecer, apesar da medicação.

Nova chamada

Voltam a avisar-nos de novo, devido à morte de uma porca, apesar de estar a comer ração medicada.


Visita à Exploração (dia 18)



Vamos à exploração e observamos o cadáver do animal, que apresenta uma ligeira zona de petequias na zona inguinal e alguma espuma na boca, não no focinho.

Realizamos a necroscopia do animal e a única coisa que encontramos é um processo de pneumonia enzoótica, de grau 1, sem mais sinais, o que não nos dá nenhuma pista sobre a possível causa da morte, já que não existem indicios de que tenha sido um clostridium, como nos casos anteriores.

Dado que o cadáver não nos fornece mais dados, começamos a perguntar ao tratador sobre outras possíveis causas de morte. Este indica-nos que as mortes acontecem num local determinado (é a terceira porca que morre no mesmo sítio), e que, geralmente, as porcas da maternidade em questão estão sempre "alerta".

É curioso, indica, que as porcas de uma fila não param de se mexer, enquanto que as da fila em frente têem certas dificuldades na toma de alimentos, mas não de forma continua, e sempre com maior moderação que as porcas da outra fila.

Visitamos então a sala de partos, e constatamos que as porcas da direita se encontram levantadas, e afastadas do comedouro, enquanto que as da esquerda estão deitadas, menos uma que morde as barrass.

Quando o filho do dono quer aproximar-se de uma das porcas que permanecem de pé, sofre uma descarga eléctrica na mão, que o obriga a soltar a jaula.

Constatamos posteriormente que existem duas derivações de electricidade; a primeira, que afecta as jaulas da zona direita, onde a voltagem é quase igual à de trabalho (220 volts), sendo a da esquerda de menor intensidade, ainda que seguramente esta tensão variaria com as diferentes circunstâncias da exploração, afectando de maneira diferente os animais, não sendo assim na zona direita, onde a tensão se mantinha igual, e onde as caracteristicas de alojamento dos animais (depois da refeição, com solos mais ou menos molhados, etc), variariam a intensidade da corrente, produzindo as baixas descritas anteriormente.


Conclusões



É evidente que os animais estavam a sofrer um choque eléctrico, devido à derivação da corrente eléctrica, como consequência da instalação defeituosa por parte do próprio tratador que, à medida que foi necessitando de espaço, ia construíndo as zonas da exploração, e instalando todo o material que necessitava, sem aplicar as medidas de protecção necessárias.

Por outro lado, ao encontrar os sinais de anatomia patológica que indicavam uma clostridiose na porca morta na gestação, não deu possibilidade de pensar noutro agente etiológico diferente, sobretudo dado o historial prévio da exploração.

Foi uma sorte que o problema que provocou as mortes súbitas das porcas não tivesse provocado um problema similar nos trabalhadores que tratavam dos animais.



Comentários



O caso que nos ocupa este mês apareceu numa exploração de ciclo fechado, com uns 20 anos de idade dedicada à produção de leitões para venda directa e engorda para matadouro, onde apareceram porcas mortas, em princípio sem sintomatologia aparente.

Após a visita constatou-se que os animais estavam a sofrer um choque eléctrico, consequência de uma instalação defeituosa que o próprio tratador que, em função das novas necessidades tinha ido construíndo novas zonas da exploração e instalando todo o material que necessitava, sem aplicar as medidas de protecção necessárias.

Em geral, as condições de maneabilidade das explorações, sobretudo na zona onde trabalhamos, foram-se deteriorando com o tempo e, possivelmente, com a evolução dos preços de mercado, que influenciam os suinicultores, fazendo com que estes tentem reduzir custos, muitas vezes nas zonas e locais onde menos devem de os reduzir.

As explorações com mais de 20 anos, e que foram acrescentando zonas de criação à medida das suas necessidades, na maioria dos casos são realizadas pelo mesmo tratador, que constrói as paredes, põe a canalização, e realiza as instalações eléctricas, sem demasiadas protecções.

Estas instalações não se isolam convenientemente, e dão lugar a fugas, especialmente após as lavagens, ou obras complementares que se acrescentam ao lado das já existentes.

Ainda que não seja demasiado frequente, as porcas podem sofrer um choque eléctrico, devido a que entram em contacto com fugas eléctricas produzidas por essas derivações, e que confundem os possíveis problemas infecciosos, dado que os sintomas próprios da electrocussão não são excessivamente evidentes.

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