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Caso clínico: Morte súbita de porcas no final da gestação em períodos de calor

O tempo quente é umas das alturas do ano em que aumenta a mortalidade das poroas

8 Junho 2009
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Descrição da Exploração



Trata-se de uma exploração de 300 porcas que produz leitões até à saída das baterias, com um objectivo de 40 partos / 3 semanas. A zona de gestação dividida em gestação-controle até aos 35 dias de gestação e gestação confirmada a partir dos 35 dias. A gestação confirmada está dividida em 132 lugares no mesmo pavilhão da gestação-controle e 60 lugares em 2 pequenas salas próximas às maternidades.

As porcas saiem da gestação controle com 35 dias de gestação e passam para os 132 lugares do pavilhão de cima + 60 lugares do pavilhão de baixo, onde finalizam o resto da gestação.



A exploração tem cerca de 4-5% de mortalidade de porcas anual, parâmetro que hoje em dia pode considerar-se bastante frequente. Nos períodos de calor, a % de baixas tende a duplicar, mas esta tendência já é a habitual na maioria das explorações de Espanha.

A exploração iniciou a produção no ano 2002 e, a finais de 2004, mudou o tratador.

Durante o ano 2005, as baixas durante o período de calor, em vez de duplicarem como todos os anos, multiplicam-se por 5, com o que a média anual aumenta até 9%. As baixas no período de calor são súbitas e entram logo em descomposição, pelo que as suas necrópsias não fornecem demasiada informação.


Efeito do Calor e Estado Fisiológico I



Efeito do calor

Certamente, o aumento de baixas coincide com a época de mais calor, mas o verão deste ano não foi significativamente mais quente que o de outros anos, o que não justifica plenamente as baixas.



Idade das porcas

Como a exploração iniciou a produção no ano 2002, no Verão de 2005 não há porcas velhas na exploração (a maioria tem entre 2 e 5 partos). Contudo, um ano mais tarde, a situação mudou radicalmente. Temos uma alta percentagem de primíparas e de porcas velhas.



Segundo dados de Pigchamp Pro Europa na 3tres3, as porcas de mais de 5 partos têm uma maior tendência em morrer. Neste caso, a maioria das baixas eram porcas velhas.



Estado fisiológico (I)

Sobretudo morrem porcas com gestação adiantada (mais de 75 dias), coincidindo, em muitos casos, que são de um número de ciclo alto.

Data
Dias gestação Nº Ciclo
07/06/2005
78 7
24/06/2005
52 7
24/06/2005
101 3
27/06/2005
104 7
30/06/2005
lactante 7
05/07/2005
93 7
07/07/2005
108 7
10/07/2005
84 7
18/07/2005
108 2
18/07/2005
98 5
21/07/2005
desmame 4
04/08/2005
lactante 2
04/08/2005
lactante 2
05/08/2005
90 1
18/08/2005
86 6
24/08/2005
desmame 7
07/09/2005
107 5
07/09/2005
86 2
10/09/2005 87 7


Estado Fisiológico (II)



Estado fisiológico (II)

A gestação avançada é um estado que altera as principais funções vitais, pondo o aparelho cardiovascular e o respiratório numa situação limite.

• Aumenta o volume sanguíneo, o volume sistólico, o tamanho do coração e a frequência cardíaca.

• Aumenta a capacidade de ventilação ao aumentar o volume de ar introduzido por respiração e a frequência respiratória. Aumenta o consumo de oxigénio devido às exigências do útero, placenta e fetos.

Se a este facto somarmos uma elevada temperatura ambiental, a situação pode ultrapassar a capacidade de regulação do animal.

Causas patológicas de morte súbita em porcas

1. Falha cardíaco.

2. Clostridiose (C.Novyi).

3. Problema respiratório agudo: App / Pasteurella.

4. Salmonelose.

5. Úlcera gástrica.

6. Torsões órgãos internos.

7. Intoxicações.

8. Electrocussão.

As causas da 3 à 8 ficam praticamente descartadas porque não se observam sintomas nem lesões nem há outras porcas afectadas.


Observam-se lesões atribuíveis a falha congestiva do coração: Hidropericardio / hidrotorax, Congestão pulmões / edema, espuma rosa na traqueia e brônquios, fígado e baço aumentados de tamanho.


A falha cardíaca está provavelmente relacionada com as elevadas temperaturas e as porcas no final da gestação, tal e como já comentámos.

A clostridiose também pode estar a influenciar, porque costuma afectar as porcas velhas, as porcas que se empanturram (com o calor há porcas que pontualmente deixam ração que é comida por outras), no final da gestação porque se aumenta os níveis de ração.

O aumento da progesterona da porca gestante provoca uma redução da motilidade gastrointestinal, o que poderia influir na proliferação de bactérias como o Clostridium.

As situações de qualidade comprometida da água também potenciam este problema, ainda que não seja o caso desta exploração.


Efeito das férias

O Verão é sinónimo de férias de suinicultores e veterinários, o que sempre costuma levar a um aumento dos problemas em geral.

Todos estes factores estavam praticamente todos no ano anterior, exceptuando o caso do efectivo que agora está mais envelhecido.


Diagnóstico



O factor diferencial que justifica o aumento das baixas ajusta-se ao modo como se movem as porcas. Até 2005 moviam-se com 35 dias para a gestação confirmada, enchendo os 132 lugares da gestação “grande” e os 60 da “pequena”. Desta forma, só se realiza 1 movimento dentro da gestação antes de irem para a maternidade.

Contudo, em 2005 temos um tratador diferente que decide mudar o método de trabalho. Passa as porcas com 35 dias para a gestação grande e com aproximadamente 75 dias para a gestação “pequena”. Desta forma tem que fazer mais um movimento, mas torna-se mais fácil levar as porcas para a maternidade porque se encontram mais próximas.

O problema é que na gestação pequena não há ventiladores nem humidificadores, enquanto que na “grande” há. Com a mudança realizada, está-se sempre a alojar porcas no final da gestação nas salas com pior ventilação. Estas porcas são mais sensíveis às elevadas temperaturas devido ao estado fisiológico em que se encontram, além de serem mais velhas que no ano anterior.

Neste caso interagem:

1. Calor.

2. Porcas velhas.

3. Final gestação.

4. Clostridium.

5. Férias.

6. Suinicultor "teimoso".

provocando um aumento considerável da predisposição de haver morte súbita das porcas.


Comentários



Este é um caso de morte súbita de porcas devido à interacção de vários factores: Calor, déficit ambiental, porcas velhas no final da gestação, clostridium, férias do veterinário e um suinicultor um pouco “teimoso”.

A interacção entre estas distintas causas predisponentes pode justificar que durante os meses mais quentes seja habitual que se duplique a mortalidade das porcas na maioria das explorações. Contudo, nesta exploração, o nível de baixas multiplicou-se por 5 no verão de 2005.

Efeito do calor:

Como resposta ao aumento da temperatura corporal, os animais sofrem vasodilatação e aumento do ritmo cardíaco. Se os mecanismos de compensação se vêem ultrapassados, o animal morre de forma súbita por insuficiência cardíaca.

Porcas velhas:

Segundo dados de Pigchamp Pro Europa na 3tres3, as porcas de mais de 5 partos têm uma maior tendência a morrer. Esta é uma exploração que começou a produzir há 3 anos, com o qual, o seu efectivo se encontra envelhecido.

Distribuição % mortalidade porcas segundo nº parto


Estado fisiológico:

A gestação (sobretudo a partir da mitade) é um estado que altera enormemente as principais funções vitais:

Aparelho cardiovascular: O volume sanguíneo aumenta em 35% no último terço gestação (passa de 60-65 ml/Kg para 80-85 ml/Kg). Também aumenta em 45% o Volume plasmático e em 15% o Volume de eritrócitos. O Caudal Cardíaco aumenta em 30-40% a partir da metade da gestação, o que leva a que aumente o volume sistólico (em 25%), o tamanho do coração (em 12%) e a frequência cardíaca (entre 15 e 25%). Produz-se uma vasodilatação para reduzir a resistência nos vasos periféricos

Aparelho respiratório: Aumenta a capacidade de ventilação de 30 a 50% ao aumentar cerca de 40% o volume de ar introduzido por respiração (Volume tidal) e a frequência respiratória (cerca de 15%). Durante parto: pode chegar a aumentar a capacidade de ventilação em 300%. Aumento do consumo de O2 em 20% devido ao aumento das exigências metabólicas do útero, placenta e fetos. Durante o parto pode chegar a aumentar entre 40 e 75%.

Aparelho digestivo: O aumento da progesterona da porca gestante provoca uma redução da motilidade gastrointestinal. O esvaziamento do estômago é mais lento devido à compressão do útero.

Todos estes dados têm um pequeno “engano” e é que são de medicina humana. Infelizmente não dispomos destes valores para os porcos. Contudo devemos ter em conta que o porco apresenta uma elevada similitude anatómica e fisiológica com os humanos e que por este motivo se estuda o emprego dos seus órgãos para transplantes e investigações.

O que sabemos de forma específica da porca gestante é que aumenta o Volume plasmático (suavemente até ao dia 70 e muito pronunciadamente a partir daquele dia e até ao parto). O hematócrito aumenta de forma linear durante a gestação e diminui no pós-parto. Fonte: Anderson e outros (Rowett Institute, Aberdeen).

Esta situação favorece a falha cardíaca, sobretudo em porcas velhas e em épocas de calor. Inclusive a menor motilidade gastrointestinal poderia afectar o desenvolvimento de Clostridioses, devido a fermentações anómalas no intestino.

O maneio de um novo tratador acaba por complicar a situação ao alojar estas porcas no local menos apropriado da exploração devido à sua má ventilação e ausência de humidificadores.

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