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Caso clínico: Falta de nascidos vivos

Descrição da Exploração Trata-se de uma exploração de cerca de 800 porcas situada nos Pirinéus (Espanha), numa zona de baixa densidade suína, afastada das áreas de produção. O problema mais grave é a falta de nascidos. Além do mais, a taxa de repetições é algo mais elevada que o esperado, a tendência nos últimos meses é de subida.

5 Junho 2011
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Descrição da Exploração



Trata-se de uma exploração de cerca de 800 porcas situada nos Pirinéus (Espanha), numa zona de baixa densidade suína, afastada das áreas de produção.

Produzem-se leitões de 8 semanas de vida, que se engordam em engordas externas.

A reposição é própria a partir de sémen. Todo o sémen vem do mesmo centro de inseminação, dado que a exploração está numa zona isolada e afastada só se recebem doses duas vezes por semana; 3ª e 6ª feiras. As doses chegam na 3ª feira porque é inviável fazê-lo às 2ªs feiras.

O estado sanitário é correcto, o alto grau de isolamento permite mantê-lo.

  • É PRRS positiva, mas mantém-se estável.
  • É PCV2 positiva, só com clínica de forma muito esporádica.
  • A mortalidade na fase de crescimento, desde o momento do desmame, não supera os 3%

O problema mais grave é a falta de nascidos. Além do mais, a taxa de repetições é algo mais elevada que o esperado, a tendência nos últimos meses é de subida.

Gráfico 1. Evolução das repetições e nascidos totais

Não há sinais de doença



Há uma certa tendência a que mais porcas do que o normal, depois do desmame, fiquem encalhadas sem entrar em cio (anoestros pós-desmame).

As primíparas apresentam mais problemas de fertilidade que as multíparas, mas acompanhando a tendência do grupo. Em geral, quando no grupo aumentam as repetições nas primíparas o efeito é maior, são excepções os meses de Agosto e Novembro.

Gráfico 2. Evolução das repetições


Na exploração não se verificam sinais de doença:

  • Os animais têm bom aspecto e condição em todas as áreas de produção.
  • A taxa de abortos no último ano é aceitável (0,9%).
  • Práticamente não há nascidos mortos nem mumificados.
  • Não há leitões débeis nem que apresentem diarreia na maternidade.
  • A relação entre repetições aciclicas e as repetições totais só supera ligeiramente os 20%.
  • A mortalidade de porcas é um pouco elevada (5,1%) mas inclui as porcas que se têm que abater na exploração porque não se consideram aptas para serem transportadas até ao matadouro.
  • As últimas serologias realizadas fazem pensar que a situação ao nível das reprodutoras mantém-se estável em relação ao PRRS.

Gráfico 3. Evolução abortos e nascidos mortos


Análise de possíveis causas de maneio



Em condições de poucos nascidos a primeira coisa que há que assegurar é que os dados se registam correctamente. Pode ser que quando se registem os dados, depois do parto já se tenham recolhido os mortos, se é assim, o problema não seria de poucos nascidos seria um problema de nascidos mortos.

Descarta-se esta possibilidade.

O passo seguinte pode ser avaliar como é a distribuição do censo. Explorações com censos desestabilizados, com muitas porcas jovens ou muitas porcas velhas são explorações com menor capacidade de produzir.

Na exploração a distribuição do censo não é perfeita mas aproxima-se bastante às condições óptimas.

Gráfico 4. Distribuição do censo em Dezembro de 2010



Faz-se um estudo para avaliar além da média de nascidos, a sua dispersão assim como para tentar avaliar se há um perfil, determinado e próprio, das porcas mais problemáticas:

  • São primíparas ou multíparas?
  • Quantos saltos se deram por cobrição?
  • Qual é a sua condição corporal?
  • Há diferenças entre as diferentes linhas genéticas?
  • ...

Não é possível encontrar um padrão problemático particular.

Avaliam-se os resultados segundo o dia de cobrição, e encontram-se diferenças significativas.

Conclusão do Caso


Normalmente as primeiras porcas que se cobrem depois do desmame são as que melhor ficam prenhas, são as que apresentam melhor fertilidade e maior prolificidade. Se se desmama à 5ª feira, é previsível que as porcas que fiquem melhor cobertas seja as cobertas na 2ª e 3ª feiras, para a partir daqui ir descendo em eficácia.

Neste caso não é assim.

2ª feira 3ª feira 4ª feira 5ª feira 6ª feira Sábado Domingo
NT/parto 11,5 12,5 11,3 11,3 11,9 11,6 11,0
NV/parto 10,9 11,6 10,7 10,6 11,3 10,9 10,4
NM/parto 0,6 0,8 0,6 0,6 0,6 0,7 0,6

A 2ª feira deixa de ser um dia óptimo para ser um dia mau.

“Curiosamente” os melhores resultados obtêm-se nos dias em que se cobre com sémen recém chegado.

Apesar dos diluidores e das câmaras de conservação, o sémen não é uma coisa que melhore com o tempo. Cobrir pela primeira vez porcas à 2ª feira, que provavelmente entraram em cio um dia antes, com sémen com três dias afecta a eficácia reprodutiva.

Quando há uns dias particularmente maus para cobrir, e não se sincronizam as primíparas, seguramente que estas nos "agarram", já que em princípio podem-se cobrir todos os dias da semana. Esta é a razão pela que o efeito de poucos nascidos se nota mais nas primíparas.

Começam-se a desmamaar porcas à 2ª feira, o que permite que ainda que os dias de chegada do sémen continuem a ser as 3ªs e as 6ªs feiras, a maioria das porcas seja coberta com sémen recém chegado.

A partir deste momento os resultados reprodutivos melhoram, primeiro observam-se melhorias na fertilidade e mais tarde no número de nascidos totais que também incrementa.







Comentários


Falta de nascidos: Como evitar o dia mau para cobrir?

O número de nascidos é um dos parâmetros que mais costumam variar nas explorações de reprodutoras. Muitos são os factores que influenciam e afectam a prolificidade. Desde sanitários até ao maneio.

A falta de nascidos na exploração obriga a verificar qual é a influência destes factores na exploração, para acabar concluindo algo que é óbvio, os dois factores que mais influem no êxito reprodutivo são:

  • Uma boa ovulação.
  • Uma boa qualidade seminal

Mas o mais importante destes dois factores é que devem estar perfeitamente sincronizados, há que dispor da melhor qualidade de sémen no momento em que se produz a melhor ovulação possível.

Nas explorações de reprodutoras foi possível intensificar graças à característica própria das porcas de entrar em cio depois do desmame, uns 4 dias depois.

A lactação bloqueia a actividade do ovário, que se inicia a partir do momento do desmame.

Quanto melhor é a lactação, melhor é o bloqueio do ovário e melhor é a entrada em cio depois do desmame.

Normalmente as porcas que primeiro e melhor entram em cio são as que melhores lactações fizeram. E estas são as que costumam ficar melhor cobertas.

Nos últimos anos melhorou-se muito o maneio nas maternidades, além de que a tendência tenha sido a de alongar as lactações:

  • A lei do bem-estar animal obriga a desmames para lá dos 28 dias de vida.
  • Começou a impor-se o maneio em bandas, na maioria dos casos aumentando os dias de lactação.
  • A capacidade de controlar o PRRS permitiu implementar uma política de transferências de leitões, básica para conseguir desmamar mais de 11 leitões por porca de forma habitual. Com lactações curtas não é possível aproveitar bem as porcas adoptantes.
  • Os problemas sanitários associados ao PCV2, antes da possibilidade de dispor de vacinas, tentaram-se controlar, com certo êxito, desmamando leitões com mais peso.

O caso é que estamos a desmamar mais e melhores leitões, o que favorece que se apresentem boas ovulações e isto influi na entrada em cio das porcas desmamadas, tendendo a adiantá-la ligeiramente.

Provavelmente este efeito de adiantar a entrada em cio é a que faz com que a taxa de anoestros depois do desmame seja maior do que o esperado, ao adiantar as porcas a entrada em cio ao Sábado ou ao Domingo, momento em que a detecção é mais difícil.

Desmamando à 5ª feira, a 2ª feira deveria ser um dos melhores dias para obter bons resultados reprodutivos mas se a ovulação se adianta um pouco
ou o sémen não está nas melhores condições
perde-se a sincronia que permite que os melhores óvulos se encontrem com os melhores espermatozóides, o que faz com que se perca efectividade no processo.

A característica de entrar em cio uns quatro dias depois do desmame (meia semana) associado com uma gestação de 115 dias (16,5 semanas) faz com que nas explorações de reprodutoras seja necessário trabalhar no fim-de-semana, ou assistindo a partos ou fazendo cobrições.

DESMAME COBRIÇÃO PARTOS
5ª feira, 30 de Dezembro de 2010 2ª feira, 03 de Janeiro de 2011 5ª feira, 28 de Abril de 2011
6ª feira, 31 de Dezembro de 2010 3ª feira, 04 de Janeiro de 2011 6ª feira, 29 de Abril de 2011
Sábado, 01 de Janeiro de 2011
4ª feira, 05 de Janeiro de 2011
Sábado, 30 de Abril de 2011
Domingo, 02 de Janeiro de 2011
5ª feira, 06 de Janeiro de 2011
Domingo, 01 de Maio de 2011
2ª feira, 03 de Janeiro de 2011
6ª feira, 07 de Janeiro de 2011
2ª feira, 02 de Maio de 2011
3ª feira, 04 de Janeiro de 2011
Sábado, 08 de Janeiro de 2011
3ª feira, 03 de Maio de 2011
4ª feira, 05 de Janeiro de 2011
Domingo, 09 de Janeiro de 2011
4ª feira, 04 de Maio de 2011

Se se quer evitar a 2ª feira como dia de cobrição e não se quer que os partos caiam ao fim-de-semana uma solução pode ser desmamar à 2ª feira.

Classicamente desmamava-se á 5ª feira para evitar ter de cobrir durante o fim-de-semana. Quando se fazia monta natural, cobrir era um trabalho entediante e laborioso, era necessário emparelhar cada fêmea com um macho o mais adequado possível o que sopunha um grande investimento de tempo, era um processo exigente no que a maneio dizia respeito.

A evolução dos sistemas produtivos fizeram com que:

  • O processo da cobrição se tenha agilizado, com o grande desenvolvimento da inseminação artificial, já não é tão problemático ter algumas cobrições ao fm-de-semana.
  • Aumentaram as tarefas que envolvem o parto, as porcas já não parem sozinhas, o acompanhamento dos primeiros dias de vida é básico para conseguir assegurar a sobrevivência do máximo de leitões nascidos.

Ante esta situação, se a tarefa de cobrir se simplificou e a de assistir aos partos se complicou parece lógico pensar que pode ser interessante trocar o momento dedicado a estas tarefas.

Desmamar à 2ª feira permitirá:

  • Ter partos à 2ª feira e toda uma semana pela frente para os atender, assegurando um bom arranque de lactação da maioria dos leitões. E já se sabe, uma boa lactação é a melhor garantia para ter uma boa cobrição no ciclo seguinte.
  • Poder despistar cios diariamente de forma intensiva estimulando ao máximo uma boa entrada em cio de todas as porcas desmamadas, podendo detectar as primeiras que entram em cio, que não devemos esquecer, são as melhores.

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