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Caso clínico: Exposição so Micoplasma: sim ou não?

As análises laboratoriais são um importante instrumento para ajudar ao diagnóstico sanitário da exploração. Contudo há que ter cuidado na sua escolha

30 Agosto 2003
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Descrição da exploração



Descrição da exploração

Trata-se de uma exploração de multiplicação com 1800 porcas que serve primíparas como fonte de genética para várias explorações comerciais. O caso clínico aparece na unidade 1, a unidade de recria.

A exploração encontra-se isolada correctamente e o nível de biosegurança é considerado elevado. Os animais que entram na exploração alojam-se num edifício separado, mas este está unido à unidade de mães - conta com medidas de biosegurança (observações, provas, fluxos de pessoal) para prevenir a introdução de doenças por parte dos animais de substituição.

A exploração começou a funcionar há 6 meses e desde a sua entrada em funcionamento foi negativa para PRRSV e Micoplasma. É também negativa para a doença de Aujeszky, Rinite atrófica, Brucelose e Actinobacillus pleuropneumoniae. Os clientes desta exploração querem primíparas de substituição negativas para PRRSV/Micoplasma. Na unidade de mães, todos os meses se analisa o estado dos animais relativamente a PRRSV, Micoplasma, doença de Aujeszky e Brucelose enquanto que na transição e engorda mensalmente se analiza para PRRSV e Micoplasma. De forma rotineira observam-se minuciosamente possíveis sinais clínicos e realizam-se exames post-mortem.



Aparecimento do caso



Aparecimento do caso


A primeira indicação da existência de um problema veio após a análise de sangue rotineira dos animais de substituição na unidade de quarentena. Das 150 primíparas que entraram na exploração seleccionaram-se de forma aleatória 20 que foram analisadas 30 dias depois da sua entrada para presença de PRRSV e Micoplasma. Todas as primíparas analisadas foram negativas para PRRSV mas 1/20 era positiva para Micoplasma mediante o Tween 20 (Test ELISA) e voltou a ser positiva mediante DAKO ELISA (duas novas análises da mesma amostra).


No mesmo dia foram analisadas para Micoplasma 15 primíparas da unidade de engorda e 15 porcas da unidade de mães. As primíparas da engorda foram todas negativas mediante Tween 20 enquanto que 3/15 das porcas foram positivas mediante Tween 20 mas negativas por DAKO ELISA.


Desenvolvimento do caso



A estratégia para confirmar ou negar a presença de Micoplasma na população de primíparas isoladas implicou quatro passos:

  • Voltar a analisar o animal suspeito de ser positivo para Micoplasma - submeter uma amostra nova a DAKO ELISA.
  • Abate do animal suspeito de ser positivo - tomar uma amostra de tecido pulmonar e submetê-lo à reacção à cadeia de polimerase (PCR) e avaliação histológica.
  • Recolha de zaragatoas nasais de 20 animais próximos ao suspeito e colocá-los em poços de 3 para realizar uma PCR.
  • Analisar, mediante DAKO ELISA, 60 animais da unidade de isolamento e 30 da unidade de recria.

Aproximadamente uma semana depois da primeira análise no isolamento, o animal identificado como positivo para Micoplasma foi abatido e analisaram-se as amostras de soro e tecido. O resultado de DAKO ELISA para esta segunda prova foi negativo. Contudo, a PCR realizada em zaragatoas bronquiais foi positiva para Micoplasma. Para confirmar estes resultados da PCR, a prova foi repetida com uma nova zaragatoa da mesma amostra de pulmão. A repetição da PCR foi negativa. Ao mesmo tempo, as zaragatoas nasais dos 20 animais próximos foram submetidos a PCR para a detecção de Micoplasma em pool de 3 amostras - todos os pool foram negativos.

Também se tomaram amostras de sangue do sítio 1. Recolheram-se 60 amostras da unidade de quarentena e 30 da exploração de recria. As 90 amostras foram negativas para Micoplasma mediante DAKO ELISA.


Resolução do caso


Finalmente decidiu-se abandonar a utilização da prova Tween 20 para o diagnóstico de Micoplasma e utilizar no seu lugar a prova DAKO.

Mensalmente realizou-se uma amostragem estatístico (Micoplasma, DAKO) nas populações de mães e de primíparas na fase de engorda obtendo resultados negativos.

As observações durante o abate, os sinais clínicos e as necropsias rotineiras não sugeriram presença de Micoplasma.

Comentários


A exploração, de 1.800 porcas e que vende primíparas a explorações comerciais, encontra-se isolada correctamente e o nível de biosegurança considera-se elevado. O problema apareceu quando após uma análise rotineira dos animais de substituição na quarentena apareceu um animal positivo para Micoplasma.

Para a exploração é primordial prevenir a exposição ao Micoplasma nos seus clientes. Na realidade, neste caso o risco imediato foi mínimo porque os animais na fase de transição e engorda encontravam-se em locais distintos. A serologia e a ausência de sinais clínicos indicaram que não existia nenhum problema no sítio 2. Além do mais, não houve transferência directa de porcos do sítio 1 para as explorações dos clientes nem tampouco houve, durante o período em questão, transferência de porcas de substituição do sítio 2 para os clientes.

Neste caso os pontos básicos são os seguintes:

  • Os resultados positivos de PCR não puderam ser reproduzidos.
  • Os resultados positivos de DAKO ELISA não puderam ser reproduzidos.
  • Não se observaram sinais clínicos da doença na unidade de isolamento, exploração de mães, transição ou engorda.
  • Os resultados da PCR realizada nas amostras de zaragatoas nasais dos animais que tinham estado em estrito contacto com o animal suspeito de ser positivo foram todos negativos.
  • Os resultados do DAKO ELISA realizado em amostras de primíparas da unidade de isolamento e porcas da exploração de mães foram todos negativos.

¿Como pode resultar o teste positivo e depois negativo? A PCR realizou-se com zaragatoas bronquiais de uma secção do pulmão e existem duas respostas a esta pergunta:

  1. A primeira PCR (positiva) contaminou-se na recolha, processo ou prova, o que significa que na realidade o animal era negativo e não houve exposição ao Micoplasma.
  2. A segunda PCR (negativa) realizou-se numa amostra de pulmão que, por alguma razão, não estava infectada por Micoplasma, o que significa que o primeiro teste (positivo) era o verdadeiro indicador e em consequência o animal estava infectado e a exploração estava exposta ao Micoplasma.

Devido ao facto que o laboratório foi incapaz de reproduzir os resultados, pode-se assumir que existiu uma contaminação cruzada no laboratório.
¿A exploração encontra-se realmente exposta ao Micoplasma? De acordo com os resultados da segunda prova junto com a ausência de sinais clínicos (> 60 dias), não houve exposição. Nunca existiu um verdadeiro risco, ainda que se tenha investido muito esforço, tempo e dinheiro para encontrar a verdade. Finalmente, o diagnóstico confirmando a negatividade da exploração durante um período prolongado validou os resultados.

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