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Caso clínico: Evolução das baixas na engorda de uma exploração de ciclo fechado com baixo nível sanitário

Nas engordas é onde os porcos atingem o seu máximo valor económico. Elevadas taxas de mortalidade implicam elevados prejuizos podendo ter multiplas causas

5 Janeiro 2004
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Descrição da exploração




Trata-se de uma exploração de ciclo fechado de cerca de 230 porcas. Está situada em Espanha, numa zona com verões quentes e invernos frios com abundantes nevoeiros.

Em Junho de 2000 a exploração tinha um efectivo de 90 reprodutoras que se ampliou até chegar às 230 actuais em Novembro do mesmo ano.

Para engordar os porcos dispõe-se de dois pavilhões velhos, um de 260 lugares e outro de 300, e um pavilhão novo em "comboio" de 5 módulos. Cada módulo tem capacidade para 120 animais.

Os currais têm capacidade para 15 animais, a alimentação faz-se com uma tolva tipo holandesa excepto no pavilhão mais velho, o de 260 lugares de capacidade, em que a alimentação se faz com vagoneta.

A ventilação é natural, o controlo das janelas faz-se de forma manual.

Não há capacidade suficiente para engordar todos os leitões produzidos, pelo que:

  • Parte da produção deve engordar-se fora da exploração.
  • É habitual que os animais estejam alojados com densidades maiores do que o aconselhado.

Não se pode realizar o maneio tudo dentro-tudo fora em nenhuma das áreas de produção: maternidade, desmame ou engorda.

O perfil sanitário é baixo. A exploração é positiva a PRRS, ADV, Pneumonia Enzoótica e Sarna. Na engorda aparece sintomatologia própria de síndrome de emagreciemnto pós-desmame (PMWS).

Faz a reposição desde um multiplicador externo con animais de 60, 80 e 100 kg.



Baixas na engorda: antecedentes




Desde o princípio de 2002 o número de baixas na engorda vão aumentando.


Pode-se constatar que morrem mais machos do que fêmeas.





Baixas na engorda: distribuição




Registram-se os machos e as fêmeas que morrem em cada pavilhão. Ao avaliar as baixas desde Janeiro até Outubro por pavilhão e expressá-las em percentagem relativamente à capacidade de cada um, podemos observar:


A percentagem de baixas vai desde 11,92 até 31,67.

A relação machos mortos relativamente a fêmeas vai desde 1,38 até 5,33, com um valor médio de 2,91.



Situação actual




No pavilhão 1 há menos baixas, e há menos baixas porque morrem menos machos. O nível de baixas de fêmeas é parecido ao dos outros pavilhões enquanto que o de machos é praticamente metade.

Ao nível ambiental os novos módulos são melhores que os velhos pavilhões de engorda. A única diferença está no sistema de alimentação: vagoneta contra as tolvas.

Ao necropsiar as diferentes baixas apresentam-se lesões próprias de: colibacilose, doença de Glässer, ileíte, circovirose porcina e úlcera gástrica. Acompanhando estas lesões, invariavelmente pode-se apreciar: hipertrofia do coração, acumulação de líquido na cavidade torácica e abdominal e edema pulmonar. De forma ocasional ruptura hepática.



A falha cardíaca é uma lesão mais própria de machos do que de fêmeas, mas desconhecemos a sua causa.




Medidas tomadas



Para tentar controlar a situação tomam-se medidas a diferentes níveis:

1. Tomam-se medidas para melhorar a sanidade, especialmente para o controle das doenças respiratórias. Parece claro que os problemas derivados da insuficiência cardíaca se agravarão com os problemas respiratórios.

2. Tenta-se pôr em prática o maneio tudo dentro- tudo fora nas diferentes áreas de produção com pouco êxito. O nível produtivo da exploração é cada vez maior, estão-se a produzir cada vez mais leitões, cada vez falta mais espaço nas engordas.

3. Tomam-se medidas para manter as condições ambientais adequadas, presta-se especial atenção a manter boas ventilações. Más ventilações exigem maior trabalho ao coração.

4. Tomam-se medidas para evitar situações stressantes. Minimiza-se o número de vezes que se recolhem os leitões na maternidade, maximiza-se o número de tratamentos na água e na ração...

5. Faz-se uma prova aplicando soroterapia na 1ª semana de vida como medida de controlo do Sindroma de emagrecimento.



Comentários



Sabemos muito pouco do Síndrome de Falta de Crescimento dos Porcos.

Para o seu controlo há que trabalhar no máximo possível de frentes : sanitário, maneio, bem estar ...

A evolução da exploração após um ano é a seguinte.


Parece que dois anos depois estamos praticamente na mesma.

Mas só parece;

  • O número total de baixas mais ou menos mantém-se mas há mais animais na exploração.
    • Desde Julho há dois módulos de mais 120 para evitar depender de engordas externas.
    • A produtividade das porcas foi aumentando até aos 24,2 leitões desmamados por porca no último ano.
  • A relação de baixas de machos relativamente a fêmeas mudou.


Cronologia:

- Maio 2002. Intensifica-se o plano de desparasitação, ao aparecerem lesões próprias de infestação por Ascharis numa partida de porcos no matadouro.

- Junho 2002. Implanta-se a vacinação nas reprodutoras contra a PRRS com vacina inactivada, com a finalidade de tentar controlar possíveis recirculações.

- Setembro 2002. Após uma entrada de primíparas a exploração desestabiliza-se. Decide-se alterar o plano de reposição. No novo plano entraram, a cada dois meses, 14 leitoas com três semanas de vida e 14 leitoas de 7 semanas de vida.

- Setembro 2002. Mudança da vacina contra a ADV. A decisão toma-se após aparecerem problemas respiratórios graves. Há muitas baixas (mês record de baixas em 2002) coincidindo com o mês em que aparece um surto claro da doença, é a primeira vez que o número de fêmeas mortas se aproxima ao de machos.

- Dezembro 2002. Primeira entrada de primíparas segundo o novo plano.

- Dezembro 2002. Começa-se a realizar soroterapia na 1ª semana de vida só aos machos. Trata-se de um ensaio.

- Princípios do ano 2003, intensifica-se o controle das doenças respiratórias na engorda. A associação de problemas respiratórios com problemas cardíacos só pode agravar a situação.

o Fevereiro 2003. Começa-se a aplicar a vacina monodose contra a Pneumonia Enzoótica ao desmame.

o Março 2003. Primeira vez que as análises contra ADV nas engordas são negativas para o vírus de campo.

o Praticamente não aparecem animales com sinais de circovirus nas engordas.

- Abril 2003, a doença de Aujeszky deixou de recircular nas engordas.

- Maio 2003, faz-se soroterapia a machos e fêmeas.

- Verão 2003 (Junho, Julho, Agosto). É um verão muito duro, o forte calor complica muito a situação das engordas;

o Os porcos crescem pouco, aumenta a densidade ao faltar espaço.

o Estão a fazer-se novos lugares de engorda, acumulam-se leitões nos desmames para poder aproveitá-las o quanto antes.

o O calor potencia os problemas cardíacos. O número de machos mortos aumenta enquanto que o de fêmeas se mantém estável.

o Em França estima-se que morreram mais de 3000 pessoas devido à onda de calor. E porcos?

- Setembro 2003, a meados do mês deixa de se fazer soroterapia devido a que parte do pessoal está de férias. Melhora muito a situação dos leitões no desmame. Parte da equipa pensa que pode ser devido a que a soroterapia controlava engordas mas descontrolava desmames. Decide-se deixar de fazer soroterapia por um tempo.

- Setembro 2003, a ração dos leitões incorpora, de novo, Óxido de Zinco.

- Janeiro 2004, ????

Muitos somos os que vemos porcos diariamente, mas poucos são os que registam o que vêem. Temos que agradecer a todo o pessoal que colabora no registo de dados e a aplicação de maneios que complicam a vida na exploração, sem eles muita informação não se conheceria nunca.

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