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Caso clínico: Disenteria na Reposição

Disenteria nas porcas de reposição

7 Agosto 2007
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Descrição da Exploração



Trata-se de uma exploração de ciclo fechado com capacidade para 230 porcas, 600 leitões nas baterias, e 900 porcos de engorda, só se engorda a metade da produção. A exploração é negativa a APP, sarna, e positiva a Aujeszky, PRRS, Pneumonia Enzoótica e também se vêem animais que apresentam sintomatologia de atraso no crescimento (PMWS). O sistema de maneio é em bandas de duas semanas, com tudo dentro-tudo fora por salas em toda a exploração.

Existem umas boas medidas de biosegurança: apesar que nunca entrem dentro da exploração, todos os veículos passam por um arco de desinfecção. Os visitantes tomam duche e mudam de roupa antes de entrar na exploração.

A quarentena está situada a 2 km de distância, onde as porcas de reposição entram com 23 kg de PV, e aí permanecem 4 semanas no mínimo. À terceira semana realiza-se uma análise ao sangue. Se o resultado é negativo a PRRS, as porcas introduzem-se num local de adaptação, situado dentro da exploração mas separado do resto das porcas produtivas. Neste local adaptam-se as porcas à situação da exploração mediante o contacto directo com lotes de primíparas anteriores ou com porcos de engorda e transição. Durante esta adaptação, as porcas são desparasitadas, vacinadas e revacinadas de Aujeszky.

Aos 95-100 kg as porcas são levadas para uns parques contiguos à gestação de porcas produtivas ainda que sem entrar em contacto directo com elas. Aqui, faz-se o despiste do cio diariamente e cobrem-se mediante monta natural com machos vasectomizados. Também são vacinadas duas vezes de PPV-MR e outra vez de Aujeszky. Quando faltam uns cinco dias para a data do terceiro cio, as porcas são colocadas numa zona com jaulas para se habituarem às jaulas ainda que continuem sem entrar em contacto directo com as porcas multíparas. A partir dos 40 dias após a cobrição, todas as porcas de um mesmo lote entrarão em contacto na área da gestação confirmada.

Aparecimento do Caso



Na 5ª feira, 10 de Outubro (dia 0), poucas semanas depois de mudar um grupo de 24 primíparas do local de adaptação para os pátios e jaulas anexas à gestação, observa-se uma primípara a ponto de ser coberta, na zona de jaulas anteriormente comentada, com diarreia sanguinolenta, além de que a porca está magra, peluda e parece anémica. Há uns dias que não comia.

O encarregado da exploração pensa que se trata de uma úlcera gastrointestinal ou um caso de ileite pelo que decide enviá-la para o matadouro o mais cedo possível sem dar maior importância. Contudo, o animal vai melhorando a ao fim de 4 dias voltou ao seu nível de ingestão habitual. Tudo continua normal na exploração, até que 10 dias depois morre a primípara que estava ao lado da primeira, sem sintomatologia aparente excepto anorexia. Por ser Domingo, o encarregado decide não realizar uma necropsia e pensa que pode dever-se a uma infecção por Clostridium novyi.

No daa 14 ao despistar cios às primíparas dos parques, observa uma primípara com diarreia e muito abatida. Trata-se este animal com tilosina. No dia seguinte observa-se outra primípara, do local com jaulas, com manchas sanguinolentas nas fezes e sem presença de muco, fezes tingidas de uma cor ligeiramente rosada ainda que não se vejam manchas de sangue fresco. O animal é tratado com tilosina.

Durante todos estes dias não se observou nenhum animal do local de adaptação que apresente nenhum sintoma, nem as primíparas nem os porcos utilizados para as adaptar. Tampouco se observam problemas no resto da exploração.

Decide-se chamar imediatamente o veterinário responsável.


Visita à Exploração



Esse mesmo dia (15 depois de observar os primeiros sinais) quase todas as primíparas dos parques e os 4 machos da exploração se encontram afectados; apresentam fezes com sangue fresco, muco e material necrótico; também se observam algumas porcas com anorexia e magras. Contudo, o grau de afectação é variável: alguns animais estão deprimidos e praticamente não se levantam, enquanto que outros não pareciam estar afectados.

 

 

 

Medidas Tomadas



Extraem-se amostras fecais para a sua posterior análise e durante os três dias seguintes (15, 16 e 17) administra-se tiamulina aos animales afectados. No sábado limpam-se todos os pátios.

A partir desta primeira visita do veterinário decide-se utilizar três pares de botas distintos: um para andar pela zona de parques e jaulas das primíparas, outro para estar nas gestações e maternidades e um último par de botas para as baterias e engordas. Também se decide não entrar na zona das primíparas até ao final do dia e utilizar roupa limpa no dia seguinte.


Acompanhamento



Durante a semana seguinte já não se observa diarreia e todos os animais estão recuperados, estão activos e comem normalmente.

No dia 24 de Novembro recebem-se os resultados das análises que confirmam a suspeita:

Deas 14 amostras remetidas, 13 eram positivas ao isolamento e identificação mediante a prova da PCR a B. hyodisenteriae.

No dia 27 de Novembro observa-se a primeira porca multípara com diarreia sanguinolenta. Trata-se durante 3 dias seguidos com tiamulina. No dia seguinte aparecem mais 4 porcas com diarreia, todas na gestação contigua aos locais das primíparas. Tratam-se todas as porcas como medida de prevenção e a partir da 2ª feira 11 de Novembro a ração de gestação vem medicada con tiamulina 100 ppm.

Até ao momento não se viram afectados outros animais da exploração.

 

Comentários



A maioria dos surtos de disenteria produzem-se pela entrada de animais portadores, normalmente reposição, numa exploração livre. Neste caso esta possibilidade parece improvável já que a quarentena é suficientemente grande, e os animales ainda passam por uma adaptação onde não se observaram problemas de nenhum tipo em nenhum momento. Isto sugere-nos que o inicio do surto não foi a reposição apesar que as porcas nulíparas tenham sido as primeiras a mostrar sinais uma vez que foram mudadas para os pátios e jaulas de detecção de cio. Outra possibilidade são os visitantes, mas nesta exploração não parece uma via nada provável de contágio de doenças: todos os visitantes tomam banho e mudam de roupa antes de entrar e nenhum veículo entra na exploração apesar que haja um arco de desinfecção.

Se descartamos a entrada da doença pela reposição e as visitas, ficam-nos os vectores biológicos e mecânicos. Aparte do porco, B. hyodysenteriae pode infectar outras espécies de forma transitória e sem que se desenvolva um quadro clínico, como os cães, roedores e algumas aves. Além do mais, outros animais podem actuar como vectores mecânicos, já que se demostrou que as moscas podem "transportar" esta bactéria nas suas patas até 4 horas.

Na exploração do caso apresentado há umas boas medidas de biosegurança mas não se pode evitar a presença de gatos. Estes gatos podem ter estado em contacto com fezes contaminadas de outras explorações e posteriormente entrar em contacto com as porcas da exploração, provocando o surto observado.

Outra possibilidade, é que na exploração já houvesse uma infecção por uma estirpe pouco patógena de B. hyodysenteriae que não tivesse provocado sinais clínicos. Alguma situação stressante, como possa ser a detecção de cios diária, poderia ter provocado que se manifiestem os sinais clínicos e que se excrete de forma massiva a bactéria provocando novas infecções nas porcas vizinhas. O curso da doença durante as próximas semanas determinará qual pode ter sido a origem.

Possibilidades de erradicação

Ainda que se tenham desenhado vários protocolos, a erradicação da disenteria porcina é muito difícil. A B. hyodysenteriae pode chegar a resistir nas fezes durante mais de 60 dias e frequentemente os programas não são efectivos porque os animais se re-infectam. Também há que ter em conta o papel dos vectores (biológicos e mecânicos) pelo que todos os protocolos de erradicação devem contemplar programas de desratização e tentar evitar a entrada de cães, gatos e aves.

Todo o programa de erradicação deve de adaptar-se às possibilidades de cada exploração. No caso da erradição sem despovoamento; se as medidas necessárias de maneio e higiene não podem ser cumpridas rigorosamente, é preferível não colocar a hipótese da erradicação já que as possibilidades de fracassar são muito elevadas.

O despovoamento é uma alternativa muito drástica mas frequentemente necessária para eliminar a disenteria de uma exploração.

 

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