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Caso clínico: Diminuição da produção de sémen por falta de água

A água é um factor essencial na produção suína. A falta de água criou sérios problemas no centro de IA da exploração trazendo alterações na fertilidade

30 Março 2003
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Descrição da exploração



Trata-se de uma exploração de ciclo fechado, com venda de leitões sobrantes por falta de espaço suficiente para engordar, com uma capacidade de 490 porcas.

Possuem centro de inseminação, com vários varrascos, onde obtêm sémen para a exploração e para fornecer a outra exploração perto.

Centro de inseminação Alojamento de varrascos

Conta com boas medidas de biosegurança, estando as naves separadas, e observando-se certos protocolos de desinfecção entre elas. Os camiões de carga de animais não penetram na zona limpa, mas os de ração sim. Ainda que não tenha demasiada importância, já que estes veículos são utilizados pela mesma empresa para distribuír a ração fabricada por eles mesmos, e sómente entram nas explorações próprias.

Têm um programa de reposição de porcas mediante a produção de F1 procedentes de avôs, sendo estes controlados em 100 % à entrada, que sempre se realiza com quarentena, em naves separadas mais de 1 km. da exploração.

Varrasco finalizador Varrasco avô

O pessoal que trata destes animais têm um protocolo de desinfecção prévio à entrada e à saída da nave de quarentena, e o mesmo procedimento se leva a cabo com os varrascos de reposição para o centro de inseminação artificial.

É uma exploração que já visitamos noutras ocasiões devido a problemas de PWMS nos leitões, encontrando algumas vezes positividade a PRRS (em 26/4, 2 positivas em 15 soros), e encontraram-se leitões positivos ao Circovirus em 17/9, ainda que negativos a PRRS.

Aparecimento do caso (dia 1)



O responsável da exploração avisa-nos de que existe um problema com os varrascos do centro, os quais, segundo a sua opinião, estão a dar poucas doses, já que não ultrapassam as 8-15 por varrasco e dia, e não existem grandes diferenças entre animais, se bem que haja dois varrascos mais velhos, que têm mais problemas que os restantes.

Este problema vem-se arrastando desde o começo do verão, ainda que naquele momento se observem animais mais produtivos que outros, e as diferenças entre quantidade de doses são mais aparentes.

Realizámos uma inspecção dos varrascos, classificando-os segundo o estado de carnes, mas não observámos que existam problemas de baixo peso ou má-nutrição, com as lógicas diferenças de estado de carnes entre animais, que são mais evidentes entre varrascos finalizadores, e varrascos avôs (para produção de híbridas F1).

Também avaliámos o estado da cama e o alojamento geral dos animais, mas não observámos nenhum detalhe que nos pudesse indicar algum problema em concreto. Os varrascos comem duas vezes por dia, o equivalente a 3 Kg de ração/animal e dia, e no momento da visita há água nos bebedouros, com um caudal superior aos 2 l/min.

Na revisão do centro de inseminação, observámos sómente que há que mudar a água do banho maria, já que se encontra bastante turva. Observámos também algumas anomalias no controle de temperatura da câmara de conservação, mas nada de especial em relação à quantidade de doses.

Laboratório de processamento de sémen Manequim de recolha

Perguntando ao encarregado pelo resto da exploração, indica-nos que há os problemas habituais, sobretudo nos leitões desmamados, onde últimamente se vêem agravados os processos de PWMS, e falta de apetite. Não há outra sintomatologia, como abortos, repetições, etc.

Medidas preliminares



Colhemos uma amostra de sangue do varrasco mais afectado pela redução do nº de doses, e sugerimos o uso de um estimulante da produção espermática, para tentar elevá-la a doses normais, fazendo "finca pé" em que desde o començo do tratamento, até que se possam observar alterações significativas, podem decorrer 6-10 semanas.

Também sugerimos que se colham amostras de sémen puro, se congelem e se enviem para o laboratório de análise para determinar se existe a presença de vírus SRRP e vírus Aujezsky. Foram enviadas 8 amostras de varrascos poucos dias após a visita.

Resultados das análises (dia 10)



Tanto os resultados da serologia do varrasco, como os dados dos ejaculados dos 8 varrascos apresentam resultados negativos à presença de anticorpos contra vírus SRRP, e negativos à presença dos vírus PRRS e Aujezsky.


Para ter maior certeza, realiza-se a detecção do vírus de campo no sémen, para diferenciar possíveis excreções de vírus vacinal, também com resultado negativo.

Continuamos a sugerir o uso do tónico espermático, com espera mínima do período de tempo indicado na primeira visita.

Diagnóstico (dia 30)



O responsável da exploração, três semanas depois da última visita, comunica-nos que já se resolveu o problema, que os níveis de produção dos varrascos são praticamente correctos.

A causa principal da baixa produção de doses foi a baixa ingesta de água por parte dos animais, provocada por problemas de infra-estrutura que afectavam o fornecimento desde as 5 da tarde até ao dia seguinte pela manhã.

Depósito geral de água da exploração

A partir de finais de Outubro foi restablecido o fornecimento normal de água e em pouco tempo a produção de doses voltou a níveis normais.

Varrasco Data Nº médio doses / mês
567 Setembro - 02 13
Outubro - 02 12,6
Novembro - 02 18,75
Dezembro - 02 34,2
Janeiro - 03 37
780 Outubro - 02 5,85
Novembro - 02 17,7
Dezembro - 02 22,5
586 Outubro - 02 18
Novembro - 02 23,71
Dezembro - 02 43,25
Janeiro - 03 44,5
881 Setembro - 02 13,5
Outubro - 02 9,5
Novembro - 02 14,4
Dezembro - 02 39,5
756 Outubro - 02 10,57
Novembro - 02 26,2
Dezembro - 02 31,75
Janeiro - 03 24,5


Comentários



Trata-se de uma exploração de ciclo fechado com capacidade para 490 porcas que conta com um centro de inseminação, no qual, desde os ínicios do verão, aparece um problema de baixa produção de sémen nos varrascos de forma generalizada.

Dado que não existia uma descida total das doses, e que se atingiam as expectativas de cobrição com as doses produzidas, não existia contudo uma grande pressão para solucionar o problema de forma imediata, pelo que se utilizou o tónico na alimentação diária dos animais e se continuou a trabalhar.

Ao cabo de umas três semanas após a última visita, avisam-nos desde a exploração que já não existe o problema, e que os níveis de produção dos animais são práticamente correctos.

Durante os meses de verão, houve um grave problema de infra-estrutura, faltando caudal de água, pelo que os animais em geral recebiam água até às 5 da tarde, devendo-se então cortar o fornecimento, para encher os depósitos principais a partir do furo.

Dada esta deficiência, fez-se outro furo, mas não se terminou totalmente até finais de Outubro, começando então um fornecimento normal de água a toda a exploração.

O factor principal da baixa produção de sémen era devido à baixa ingesta de água dos animais, os quais se viam privados desde as 5 da tarde, até ao dia seguinte pela manhã, de tomar a quantidade de água que necessitassem, devido aos problemas de falta de fornecimento, e às obras realizadas para aumentar o caudal, o que sem dúvida influênciou em maior medida durante os meses de verão, com reduções paulatinas à medida que ia aumentando o calor, e diminuíndo as possibilidades de uma maior ingesta, até chegar aos níveles de produção mínimos que se obtiveram no final do mês de Outubro.

Uma vez restabelecido o caudal normal, e portanto a ingesta diária durante as 24 horas do dia, os animais recuperaram rápidamente as perdas acumuladas durante os meses anteriores, estimulando a produção de espermatozóides.

Este aspecto comprova-se com os actuais dados de produção de doses de sémen que se encontram a níveis normais.

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