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Caso clínico: Actinobacillus equuli: elevada mortalidade numa exploração de 3000 porcas

Severa mortalidade de porcas em 8 semanas (10% de mortalidade), apresentavam decúbito, letargia, hiperestesia e anorexia. Causa Actinobacillus

Introdução




Trata-se de um sítio 1 de 3000 reprodutoras com uma boa produção unicamente positiva a Lawsonia intracelullaris e PCV2. A pecuária localiza-se na parte sul da Província de Manitoba (Canadá).

Toda a reposição da exploração entrava nas instalações através de uma unidade de quarentena TD/TF que era partilhada com outra exploração de outras 3000 porcas. O período de quarentena destes animais era de 28 dias. As medidas de biosegurança eram boas, era obrigatório passar pelo duche para entrar nas instalações da exploração. Equipamentos e outros bens eram desinfectados previamente antes de entrar.



Durante o Verão de 2008 houve uma severa mortalidade das porcas, umas 300 porcas morreram num período de 8 semanas. A exploração passou de uma taxa de mortalidade de 1,8 % para uma mortalidade de 6,8 % em 15 Julho de 2008 em pleno pico de mortalidade. A mortalidade nos leitões lactantes foi também elevada durante este período. A exploração partia de uma mortalidade pré-desmame até ao mês de Junho de 11,95% chegando a picos de 16% em Julho durante o surto do caso clínico.


Gráfico 1. Mortalidade em porcas de 1 de Janeiro a 15 de Julho de 2008


Gráfico 2. Mortalidade em leitões lactantes em Junho de 2008

História Clínica e Necrópsias




O síntoma de morte súbita nas porcas apresentou-se pela primeira vez a finais de Junho de 2008. Previamente à morte, as porcas apresentavam decúbito, letargia, hiperestesia e anorexia. A progressão dos síntomas clínicos em cada porca era extremamente rápida. Era muito común que consumissem a sua refeição de ração pela manhã, apresentassem sintomatologia clínica e morressem no final do dia. Esta sintomatologia era distinta de outros surtos de mortes súbitas em porcs ocorridos anteriormente nos quais não existia presença de sintomas clínicos prévios à morte e que, tipicamente, se tinham atribuído a torsões gastro-esplénicas.



As necropsias foram realizadas rapidamente pelo veterinário responsável pela exploração revelando hemorragias subcutâneas e musculares, pericardite fibrinosa, pneumonia e rins com múltiplos enfartes rodeados por um halo hemorrágico (< 1mm). As amostras foram enviadas para o laboratório regional veterinário e fizeram-se análises microbiológicas e histopatológicas.


Resultados Laboratoriais




O diagnóstico inicial previsional do problema apontava para uma septicémia por uma determinada estirpe de Actinobacillus. Como diagnóstico diferencial também foram feitas análises para A. suis, Erysipelothrix rhusiopathiae, Leptospira sp., S. suis, circovirus, peste porcina clásica e Salmonella sp.

Posteriormente no decurso do surto, leitões de 1 a 4 dias de idade foram também enviados para diagnóstico laboratorial. Tinham piréxia e artrite e as necrópsias revelaram nefrite embólica, peritonite fibrinosa, periartrite e artrite.

Em porcas, a histopatologia revelou uma embolia bacteriana em muitos tecidos incluindo rim, baço, pulmões e glândula adrenal. As culturas bacterianas confirmaram elevados níveis de Actinobacillus equuli, uma estirpe de Actinobacillus típica de cavalos, nas articulações, pulmões, fígado e baço. A PCR foi negativa para o vírus influenza H1N1/H3N2, PRRSV e para o da Peste Suína Clássica. Os tecidos pulmonares foram positivos por PCR a circovirus suíno mas negativos por prova de imunohistoquímica (IHC).
A bactéria isolada foi perfeitamente caracterizada como A. equuli sub-espécie equuli.

Tratamentos




À medida que o número de casos ia aumentando, instaurou-se um programa para avaliar diariamente cada animal numa tentativa de identificar o quanto antes os animais doentes. Devido ao elevado número de animais que deviam ser avaliados desenvolveu-se um sistema de detecção rápida. Alguns dos trabalhadores foram muito eficientes a detectar síntomas precoces como anorexia (descida no consumo de ração) e letargia (baixa resposta a estímulos tácteis). A estes animais, era verificada a temperatura corporal, a sua localização e foram registrados tanto os tratamentos dados como a sintomatologia apresentada.

As porcas foram tratadas com oxitetraciclinas solúveis na água e ácido acetil-salicílico (ASA), clortetraciclinas e tiamulina na ração. O nível de tilmicosina foi discutido e, pese a sua eficácia, foi posto de parte devido ao seu elevado custe. Nas porcas levou-se a cabo a terapia antibiótica injectável com ceftiofur e tulatromicina. O quetoprofeno foi o anti-inflamatório injectável de eleição. Os leitões foram injectados com tulatromicina ou ceftiofur, aos 7 e aos 14 dias de idade.

Um isolado de A. equuli foi enviado ao laboratório para a criação de uma autovacina morta. Todas as reprodutoras foram tratadas com uma só dose da vacina 6 semanas após o início do surto. A vacinação “booster” foi administrada aproximadamente 17 dias mais tarde.

A resposta aos tratamentos preventivos durante o surto foi relativamente ineficiente como mostra o gráfico 3. O uso da autovacina foi chave na resolução dos sinais clínicos e da mortalidade nas reprodutoras.


Gráfico 1. Mortalidade em porcas de 1 de Janeiro a 31 de Dezembro de 2008

As reprodutoras tiveram uma resposta fraca aos tratamentos individuais. Os animais tratados individualmente sobreviveram mas a sua condição e estado corporal continuou a piorar em muitos casos e foram substituídos por porcas de renovação. Ao mesmo tempo, a terapia preventiva nos leitões foi muito efectiva e a mortalidade global nos leitões da maternidade foi muito menor. A administração de antibióticos de longa duração e elevada eficácia nos leitões não tinha um preço tão proibitivo como nas reprodutoras.


Gráfico 4. Mortalidade em leitões lactantes desde Junho a Outubro de 2008


Seis meses após o caso descrito, uma exploração vizinha de 3000 porcas sofreu um surto similar devido ao mesmo patógeno.

Resolução




Seis meses mais tarde, uma exploração vizinha de 3000 porcas sofreu um surto similar devido ao mesmo patógeno. Estas duas explorações tinham em comum os seguintes aspectos: proprietário, fonte de reposição de primíparas, quarentena, transporte de porcas de refugo, origem da água, localização (unicamente separadas 900 m) e destino dos leitões. Os trabalhadores não eram partilhados pelas explorações mas existia certa interacção dos mesmos durante o transporte dos animais.

Este segundo caso solucionou-se rapidamente visto que o veterinário da exploração e o proprietário tinham aprendido a lição, evitando a perda de um número tãa elevado de porcas, pois trabalharam com o antibiótico de primeira eleição, tilmicosina, nas doses adequadas.



Comentários


Trata-se de um sitio 1 de 3000 reprodutoras com uma boa produção. A exploração localiza-se na parte sul da Província de Manitoba (Canadá).

Durante o Verão de 2008 ocorreu uma severa mortalidade de porcas, umas 300 porcas morreram num período de 8 semanas, 10% do total da exploração. As porcas apresentavam decúbito, letargia, hiperestesia e anorexia. A progressão dos sintomas clínicos era extremamente rápida. Era muito comum que as porcas consumissem a sua parte da ração pela manhã, apresentassem sintomatologia clínica e morressem no final do dia. Esta sintomatologia era distinta de outros surtos de mortes súbitas anteriores.

A causa das baixas atribuiu-se a Actinobacillus equuli equuli.

Medicações na ração, solúveis na água e terapias injectáveis antibióticas foram relativamente ineficientes em prevenir a mortalidade em porcas. A mortalidade prá-desmame aumentou 4% pelo que foi relativamente insignificante. O uso de uma autovacina foi chave na resolução dos sinais clínicos e da mortalidade nas reprodutoras.
Seis meses mais tarde, uma exploração vizinha de 3000 porcas sofreu um surto similar devido ao mesmo patógeno. Este caso solucionou-se rapidamente por se ter usado o antibiótico de primeira eleição, tilmicosina, nas doses adequadas.

Actinobacillus equuli é considerado como patógeno comum em cavalos e raramente causa septicémias fatais em potros. Poucos são os casos que descrevem a A. equuli como patógeno oportunista em suínos. Nestes casos onde se isolou, tem estado relacionado com abortos, septicémia e poliartrites. Considerado que o contacto directo suínos-cavalos foi sempre demonstrado nos casos descritos na bibliografia, os últimos casos relatados não têm este mesmo explícito historial. No caso que descrevemos, não existiu um contacto directo com cavalos.

Nos América do Norte, a infecção por A. equuli foi descrita muito poucas vezes em suínos. Só existem 3 casos descritos durante o Século passado. O caso relatado é um caso bastante singular porque nunca o A. equuli tinha sido o causador, de tão elevado número de baixas.

Esperamos que a descrição deste caso ajude os veterinários de suínos e os técnicos laboratoriais de todo o Mundo a conhecer o risco destas doenças consideradas como potencialmente emergentes.

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