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Protecção dos leitões frente à doença dos edemas imunizando as porcas com o toxoide Stx2e

O artigo trás uma alternativa muito valiosa à vacinação actual e poderia trazer a solução para aquelas explorações com problemas de EE com apresentação precoce e é a vacinação das mães no final da gestação para conseguir a imunização dos leitões no pós-desmame.

8 Julho 2016
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Artigo

Protection of Piglets against Edema Disease by Maternal Immunization with Stx2e Toxoid. Thi Kim Nguyen Oanh, Viet Khong Nguyen, Henri De Greve and Bruno Maria Goddeeris. Infection and Immunity. January 2012 Volume 80 Number 1 p. 469–473 doi:10.1128/IAI.05539-11

 

Que estuda?

A doença dos edemas (EE) é, frequentemente, fatal em leitões no pós-desmame e que é causada pela E. coli produtora de shiga toxina (STEC) a maioria das vezes expressa pela fímbria F18. Investigou-se se a vacinação das mães com uma vacina experimental shiga toxoide poderia oferecer protecção passiva para os leitões perante uma exposição pós-desmame a EE.

 

Como estuda?

Foi preparada uma vacina experimental com Stx2e toxoide, derivado de uma E. coli modificada geneticamente que continha o operon responsável por sintetizar a toxina.

Em todas as experiências foram administradas 2 doses da vacina via intramuscular com 2 semanas de separação.

Foi desenvolvido um ELISA indirecto para detectar anticorpos Stx2e no soro das porcas vacinadas e dos seus leitões, utilizado para monitorar títulos de anticorpos tanto na imunização activa como na transferência passiva.

Foram conduzidas 3 experiências:

Numa primeira, foi avaliada a toxicidade de Stx2e em leitões após administração intravenosa (IV) em 3 doses diferentes. Através destas experiências foi determinada a dose de infecção ideal (50 ng/kg) que permite a expressão de sinais clínicos típicos de EE (edema palpebral, ataxia, decúbito, movimento de remo, dispneia, paralisia e morte).

Numa segunda, um grupo de leitões que foi imunizado activamente foi exposto experimentalmente e avaliou-se a protecção. Foram utilizados controlos não vacinados como referência.

Numa terceira, vacinaram-se porcas antes do parto com a mesma vacina. Também foram incluidas porcas não vacinadas. Os leitões destas porcas receberam colostro e mamaram até aos 26 dias. Foi avaliada a eficácia através de um desafio IV com toxina, Stx2e 5 dias após o desmame até aos 31 dias de vida.

 

Quais os resultados?

A imunização dos leitões comportou uma elevada resposta de anticorpos, sem efeitos negativos no ganho de peso do leitão. Após o desafio 0/6 leitões do grupo vacinado mostraram os típicos sintomas de EE e nenhum mostrou lesões macroscópicas típicas na necropsia. Por outro lado, todos os leitões controlo mostraram os típicos sinais clínicos, 1 morreu e outro foi eutanasiado aos 2 dias do desafio. As lesões detectadas nos 3 controlos eram consistentes com EE.

As porcas imunizadas desenvolveram uma resposta de anticorpos 10 vezes mais elevada que as porcas controlo. O soro dos leitões mostrou títulos de anticorpos elevados que persistiram até 1 mês pós-desmame (53 dias de vida) ao passo que os nascidos de porcas controlo tiveram títulos baixos de anticorpos Stxe2 até ao final do estudo. Após a exposição das ninhadas à toxina Stx 10 dias após o desmame, nenhum dos leitões de porcas vacinadas mostrou sinais clínicos de EE nem morreu. No grupo controlo 6/6 leitões desenvolveram sinais clínicos e morreram 2 dias depois do desafio.

 

Quais as conclusões que se extraem deste trabalho?

A investigação demonstrou que a vacinação com um toxóide shiga (Stx2e) induz uma forte resposta imunitária nas porcas, assim como um nível elevado de anticorpos nos leitões. Foi demonstrada a protecção completa destes leitões frente a doses letais de toxina shiga aos 5 dias após o desmame.

A EE acontece principalmente nas primeiras 2 semanas após o desmame e, ainda que a imunização activa tenha demonstrado proporcionar uma protecção clínica, não se sabe se os leitões jovens seriam capazes de responder à vacinação antes do desafio no campo. Além disso, a imunidade passiva derivada de uma elevada exposição natural a STEC nas explorações de reprodução poderá interferir com a imunização activa.

 

Enric MarcoA visão a partir do campo por Enric Marco

Quem é que não conhece a doença dos edemas? A primeira vez que a tive que enfrentar, como médico veterinário, foi na tarde-noite de um 31 de Dezembro, já estava escuro e eu não queria chegar tarde ao jantar da noite de Ano Novo. Passaram 30 anos e o tratamento continua a ser o mesmo: jejum e tratamento antibiótico. A sua prevalência parece ter-se reduzido relativamente à de uns anos. Possivelmente a melhoria na formulação e fabricação de rações, nos alojamentos e na higiene e a redução de opções genéticas, unido ao trabalho que algumas delas terão feito para reduzir animais portadores de receptores para F-18, talvez sejam algumas das razões pelas quais, hoje, este quadro clínico, seja visto com menor frequência. No entanto, quando aparece numa exploração tende a ser um processo insidioso, de fácil diagnóstico clínico, mas cujo tratamento continua a ser pouco eficiente quanto a reduzir perdas. Apesar de se tratar, chega quase sempre tarde (a toxina já está a circular).

Há relativamente pouco tempo que se começou a ter produtos realmente eficazes para a prevenção desta doeça. No mercado internacional existem vacinas vivas frente a E.coli F-18 que deram bons resultados na prevenção da EE. Na Europa, desde há alguns anos dispomos de uma vacina frente a esta doença. A vacina é um Stx2e toxoide que protege eficazmente os leitões, muito parecida à descrita no artigo. Terá sido a solução nas explorações em que a doença se apresentava de forma endémica e insidiosa. No entanto, quando o quadro clínico tem uma apresentação precoce, é sempre um desafio encontrar o momento ideal para vacinar e revacinar os leitões sem que isso implique um risco de interferência com a imunidade maternal. O artigo trás uma alternativa muito valiosa à vacinação actual e poderia trazer a solução para aquelas explorações com problemas de EE com apresentação precoce e é a vacinação das mães no final da gestação para conseguir a imunização dos leitões no pós-desmame. Além disso, a imunização das porcas seria uma alternativa mais económica à de vacinar e revacinar todos os leitões da ninhada. Não obstante, o artigo também suscita dúvidas como as seguintes: É necessária a vacinação e revacinação das porcas em todos os partos? Com uma revacinação a partir do primeiro parto seria suficiente, tal como se faz com as outras vacinas de E.coli? Se optamos por um plano de vacinação tradicional (uma revacinação a partir do primeiro parto), a imunidade colostral no leitão terá a mesma duração nos leitões filhos de porcas de primeiro parto que nos de partos seguintes? Qual é a duração real da imunidade maternal no leitão, um mês pós-desmame ou mais? Possivelmente só o tempo as responda.

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