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O efeito da alimentação com DDGS de milho na qualidade da gordura do porco

A alimentação de porcos de engorda com dietas que incluem DDGS de milho pode reduzir o custo da alimentação e manter o crescimento, mas reduz a firmeza da gordura na carcaça. Como podemos resolver isto?

A indústria de etanol dos EUA produz aproximadamente 38 milhões de toneladas métricas de subprodutos de milho anualmente, dos quais cerca de 8 milhões de toneladas métricas de grãos secos de destilaria com solúveis (DDGS-distillers dried grains with solubles) são utilizados em dietas para suínos nos EUA. Outros 11 milhões de toneladas de DDGS são exportados para 50 países, onde uma elevada proporção de DDGS é utilizada na alimentação de suínos. A maioria é utilizada durante o crescimento-engorda, e a sua popularidade é resultado do seu custo, geralmente baixo, como substituto parcial do milho e farinha de soja nas fórmulas para suínos. Como resultado desta importante poupança, os nutricionistas esforçam-se por maximizar as taxas de incorporação na fórmula enquanto se mantiver o bom desempenho no crescimento e na qualidade da carcaça. No entanto, uma das potenciais barreiras ao uso de elevadas quantidades (> 20%) de DDGS nas dietas de crescimento e engorda é o seu efeito sobre a redução da gordura da carcaça e a firmeza da barriga, o que pode levar à redução da aceitação da indústria e do consumidor nalguns mercados.

O DDGS de milho é único em comparação com outros ingredientes porque contém entre 4 e 12% de óleo de milho. O óleo de milho contém elevadas concentrações de ácidos gordos insaturados, em particular o ácido linoleico (C18:2). Portanto, quando os porcos em crescimento e engorda são alimentados com dietas que contêm elevadas quantidades de DDGS, com alto teor em gordura bruta, a firmeza da gordura da carcaça e a qualidade da barriga é reduzida (figura 1, à direita) em comparação com as dietas à base de milho e farinha de soja (figura 1, esquerda). Estes efeitos são maiores em porcas jovens (em comparação com machos castrados), e em genótipos de suínos muito magros em comparação com de carcaças mais gordas. É importante notar que este efeito também pode ser observado quando se alimentam com dietas com altas quantidades de vários óleos, como óleo de soja, que contém uma alta proporção de ácidos gordos insaturados.

Figura 1. Barriga de porco alimentado com uma dieta de milho e farinha soja (esquerda) e com uma dieta com 30% de DDGS com elevado teor em óleo (direita).

Figura 1. Barriga de porco alimentado com uma dieta de milho e farinha soja (esquerda) e com uma dieta com 30% de DDGS com elevado teor em óleo (direita).

A gordura de porco branda é uma preocupação porque tem uma aparência "gordurosa" ou oleosa à temperatura ambiente, e o aumento do teor em ácidos gordos poliinsaturados pode resultar num menor prazo de validade dos produtos frescos de porco armazenados durante largos períodos de tempo nos estabelecimentos de retalho. Além disso, as barrigas excessivamente brandas podem ser mais difíceis de processar e reduzem o rendimento de corte durante o processamento da barriga para o bacon curado. Como resultado, tem havido muita investigação para encontrar formas de otimizar as taxas de incorporação de DDGS na dieta para reduzir o custo da alimentação sem afetar a qualidade da gordura.

Embora não haja padrões oficiais sobre a qualidade gordura de porco nos EUA, a maioria das salas de desmancha / processadores de carne de porco considera a qualidade da gordura como aceitável se ela tiver um índice de iodo (IV) menor que 74. O índice de iodo é um rácio entre o conteúdo em ácidos gordos insaturados e saturados de um lípido. O valor de iodo é geralmente calculado a partir das concentrações de ácidos gordos determinados pela análise química de lípidos, mas também pode ser diretamente determinado usando um procedimento específico de análise laboratorial. Os porcos em crescimento e engorda alimentados com dietas habituais de milho e farinha de soja geralmente têm um IV inferior a 60, enquanto a alimentação com dietas que contêm cerca de 30% de DDGS com elevado teor de óleo (> 10% de gordura bruta) pode muitas vezes resultar em IV maior que 74.

Várias estratégias de formulação de dietas e de alimentação foram desenvolvidas para gerir a qualidade da gordura da carcaça e a qualidade da barriga ao alimentar os porcos de crescimento e engorda com dietas incorporando DDGS.

1. Usar fontes de DDGS com menor teor em óleo (gordura bruta) para permitir maiores taxas de incorporação de DDGS na dieta, minimizando o teor total de ácidos gordos insaturados na dieta.

2. Formular dietas utilizando restrições para limitar a quantidade total de ácidos gordos poliinsaturados que consomem os porcos em crescimento e engorda. No entanto, é importante perceber que vários depósitos de gordura da carcaça (gordura dorsal, gordura da papada e gordura da abdominal) respondem de forma diferente à composição e quantidade de ácidos gordos da dieta. Wu et al. (2016) compararam a exatidão (erro de previsão) e a precisão (“bias”) de usar várias restrições na formulação de dietas para alcançar o IV desejado na gordura dorsal na carcaça (tabela 1). O uso de equações de previsão baseadas na % de DDGS ou na concentração de ácido linoleico na dieta geralmente resulta em menor exatidão e precisão, enquanto que as equações de previsão baseadas no valor de iodo do produto (IVP) contido na dieta ou no IVP consumido por dia tem maior exactidão e precisão. No entanto, para atingir maior exactidão e precisão do IV da gordura da carcaça, é necessária uma equação de previsão mais complexa (Paulk et al., 2015).

Tabela 1. Comparação das equações de previsão para estimar o Índice de iodo (IV) da gordura dorsal da carcaça, a gordura da papada, a gordura abdominal e o IV médio dos 3 depósitos de gordura da carcaça (adaptado de Wu et al., 2016).

Deposição de gordura Equação R2 Erro de Previsão1 Viés2 Referência
Gordura Dorsal
47,1 + 0,14 × IVP3 ingesta/dia 0,86 6,43 -4,95 Madsen et al., 1992
52,4 + 0,315 × IVP dieta - 4,60 -2,15 Boyd et al., 1997
51,946 + 0,2715 × IVP dieta 0,16 6,45 -5,05 Benz et al., 2011
35,458 + 14,324 × % C18:2 dieta 0,73 8,36 -1,08 Benz et al., 2011
64,5 + 0,432 ×% DDGS na dieta 0,92 8,26 7,10 Cromwell et al., 2011
60,13 + 0.27 × IVP dieta 0,81 5,04 3,05 Estrada Restrepo, 2013
70,06 + 0,29 × % DDGS na dieta 0,81 9,19 8,00 Estrada Restrepo, 2013
84,83 + (6,87 × IAGE) – (3,90 × FAGE) – (0,12 × Id) – (1,30 × Fd) – (0,11 × IAGE × Fd) + (0,048 × FAGE × Id) + (0,12 × FAGE × Fd) – (0,006 × FNE) + (0,0005 × FNE × Fd) – (0,26 × BF) 0,95 4,01 -0,84 Paulk et al., 20154
Gordura da papada
56,479 + 0,247 × IVP dieta 0,32 4,92 -3,69 Benz et al., 2011
47,469 + 10,111 × %C18:2 na dieta 0,90 5,57 -1,37 Benz et al., 2011
64,54 + 0,27 × IVP dieta 0,81 6,55 5,66 Estrada Restrepo, 2013
72,99 + 0,24 × % DDGS na dieta 0,81 8,33 7,38 Estrada Restrepo, 2013
85,50 + (1,08 × IAGE) + (0,87 × FAGE) – (0,014 × Id) – (0,05 × Fd) + (0,038 × IAGE × Id) + (0,054 × FAGE × Fd) – (0,00066 × ENI) + (0,071 × PVI) – (2,19 × CAD) – (0,29 × GD) 0,93 4,73 -3,37 Paulk et al., 20154
Abdominal
58,32 + 0,25 × IVP na dieta 0,74 3,43 1,41 Estrada Restrepo, 2013
67,35 + 0,26 × % DDGS na dieta 0,75 6,66 5,53 Estrada Restrepo, 2013
106,16 + (6,21 × IAGE) – (1,50 × Fd) – (0,11 × IAGE × Fd) – (0,012 × ENI) + (0,00069 × ENI × Fd) – (0,18 × PCC) – (0,25 × GD) 0,94 3,27 1,73 Paulk et al., 20154
Média dos 3 depósitos
58,103 + 0,2149 × IVP dieta 0,93 3,93 -2,23 Kellner, 2014
58,566 + 0,1393 × C18:2 ingesta/dia, g 0,94 6,17 -4,90 Kellner, 2014

1Erro de previsão (o valor mais pequeno indica uma maior precisão da equação)
2 "Bias" de previsão (menor valor absoluto indica maior precisão da equação, valor negativo indica subestimação e valores positivos indicam sobre avaliação)
3IVP = Produto de valor de iodo = IV da dieta ×% lípidos na dieta × 0,10 (Madsen et al., 1992)
4 As abreviaturas nas equações são: I = dieta inicial, F = dieta final, d = dias de consumo, AGE = ácidos gordos essenciais (C18: 2 e C18: 3,%), EN = energia neta (kcal / kg), PV = Peso Vivo (kg), CAD = consumo de alimento diário (kg), PCC = peso da carcaça quente (kg), GD = profundidade da gordura dorsal (mm)
.

3. Retirar os DDGS da dieta de 3 a 5 semanas antes do abate para permitir que a gordura da carcaça se torne mais firme.

4. . Uso de trigo e cevada como fontes principais de grãos nas dietas com DDGS em vez de milho para minimizar o aumento do IV na gordura da carcaça.

5. Está bem documentado que a adição de gorduras animais saturadas nas dietas com DDGS não resulta em melhor qualidade da gordura de porco.

6. Os aditivos alimentares eficazes e aprovados como GRAS (generally recognized as safe) que têm vindo a ser usados para alcançar a gordura de porco e a firmeza da barriga desejada pelo mercado EUA têm se mostrado eficazes quando se fornecem dietas que contêm elevadas taxas de incorporação de DDGS.

Conclusões

Alimentar os porcos de engorda com dietas com DDGS de milho pode reduzir substancialmente o custo da alimentação e ao mesmo tempo manter a performance em crescimento, mas reduz a firmeza da gordura da carcaça. A gordura de porco branda é uma preocupação em alguns mercados de todo o mundo devido aos seus potenciais efeitos negativos referente à aceitação do consumidor, do menor prazo de validade dos produtos frescos, à redução do rendimento no corte do toucinho e à maior complexidade do maneio das peças. Contudo, a qualidade aceitável da gordura de porco pode ser alcançada, restringindo-se a quantidade e o tempo durante a qual se utilizam os DDGS na dieta, usando equações de previsão do índice de iodo da gordura da carcaça quando se formulam dietas para porcos em crescimento e engorda.

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