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Estratégias nutricionais de pré-lactação para otimizar o desempenho da porca e da sua ninhada

Uma alimentação específica de pré-lactação permite redefinir a alimentação do início da gestação. A economia conseguida durante as 13 primeiras semanas de gestação pode ser reinvestida na alimentação de pré-lactação.

O fim da gestação é uma fase crítica no ciclo reprodutivo da porca. A contínua evolução genética e o nosso melhor conhecimento das alterações das necessidades nutricionais no final da gestação, indicam que o típico aumento de ração durante as 2-3 últimas semanas de gestação ("bump feeding") não é a melhor prática. Os avanços genéticos desenvolveram benefícios (aumento do tamanho da ninhada), juntamente com desafios como o aumento da variação do peso da ninhada e o menor peso ao nascimento. Proporcionar a nutrição adequada no final da gestação pode ter grandes benefícios tanto para a porca como para a sua ninhada, bem como para a rentabilidade geral da exploração. Este artigo analisará alguns dos aspetos nutricionais do final da gestação para otimizar o rendimento da porca e da sua descendência.

 

Porque o "bump feeding" não é um bom compromisso

O "bump feeding" é o termo utilizado para descrever o típico aumento (p.e.: 20-30%) da quantidade de ração fornecida durante as últimas 3-4 semanas de gestação. Esta abordagem satisfaz as maiores necessidades energéticas da porca e da sua ninhada, mas não satisfaz as exigências proteícas nem as alterações das necessidades em aminoácidos específicos. Aumentar a quantidade fornecida de alimento até alcançar as necessidades em proteína também não é aconselhável, porque as porcas correm o risco de ficar com excesso de peso e a sua produção de leite durante a lactação será muito fraca. Para os produtores que queiram tirar o máximo proveito da sua genética moderna, as opções práticas incluem a utilização de uma ração específica, ou de um complemento (top-dressing), de pré-lactação no final da gestação.

 

As necessidades de aminoácidos no final da gestação

Os resultados de vários investigações estão a demonstrar que o padrão ideal de aminoácidos em relação à lisina altera-se no final da gestação. Infelizmente o perfil completo ainda não está disponível. Uma análise da literatura disponível mostra que as necessidades de lisina aumentam cerca de 55% a partir da metade até ao final da gestação e também destaca que as dietas de gestação de baixa densidade podem ser utilizadas eficazmente a meio da gestação, quando as necessidades de lisina são baixas (média de 10,66 g/dia lisina SID, oscilando entre 6,9 e 16,3 g/dia de lisina SID), com necessidades mais elevadas em porcas com poucos partos que ainda estão em crescimento. As deficiências em lisina no final da gestação podem influenciar negativamente a insulina e a prolactina e, posteriormente, perturbar uma transição suave para a lactogénese (Zhang et al., 2011). As investigações também demonstram que há um aumento desproporcionado nas necessidades de outros aminoácidos incluindo a treonina, isoleucina e o triptófano (fig 1.)

Percentagem de aumento de aminoácidos SID a partir da metade até ao final da gestação com base numa análise da literatura atual.

Figura 1. Percentagem de aumento de aminoácidos SID a partir da metade até ao final da gestação com base numa análise da literatura atual.

A glutamina é outro aminoácido que raramente é mencionado na nutrição da porca mas sabe-se que é importante no final da gestação para melhorar o atraso do crescimento do feto e para prevenir a mortalidade pré-desmame (Wu et al 2015). Os requisitos estimados para a glutamina são maiores no final da gestação do que durante a lactação (Wu 2014). A glutamina também é conhecida por ser um aminoácido importante para a produção de leite. Os leitões que sofrem de limitação de crescimento intra-uterino têm demonstrado ter baixas concentrações plásmicas, tanto de glutamina como de arginina, no final da gestação em relação aos leitões de peso normal (Lin et al, 2012). Não há uma recomendação  estabelecida para a glutamina em dietas de final de gestação nem de lactação, contudo, há vários estudos que mostram respostas positivas a uma suplementação dietética de L-glutamina e/ou glutamato monossódico. A minha experiência pessoal em explorações comerciais também indica melhorias no número de nascidos vivos e pesos ao desmame ao formular dietas com um nível total de glutamina de 3,75 - 4,0 %.

A arginina é um vasodilatador conhecido e, consequentemente pode melhorar o fornecimento de nutrientes e oxigénio da porca aos fetos. Adicionalmente, está postulado que a arginina está envolvida na expressão de genes na veia umbilical, regulando a angiogénese, o desenvolvimento vascular e a função tanto da placenta como da veia umbilical (Lui et al 2012). A suplementação com arginina (1%), ainda que cara, demonstrou melhorar o peso ao nascimento, a utilização de nutrientes, a sobrevivência fetal, a imunidade (IgM e IgG circulantes) e a resposta vacinal das porcas (Che et al., 2013). Os níveis básicos de arginina variam de acordo com a composição da dieta. A minha experiência pessoal com suplementação de L-arginina em dietas comerciais ainda não deu resultados económicos. Isto pode ser devido aos níveis relativamente elevados de arginina nas matérias primas utilizadas nas formulações australianas (leguminosas, proteínas animais e oleaginosas) ou ao baixo rendimento reprodutivo das porcas australianas, devido a uma genética fechada.

 

A manipulação do perfil de ácidos gordos

Existem também evidências razoáveis que demonstram que a manipulação do perfil de ácidos gordos em  dietas de final da gestação pode melhorar a qualidade do colostro e a vitalidade dos leitões recém-nascidos. Contudo, as investigações ainda não estão completas e nem sempre são fáceis de interpretar. A conjugação de ácido linoleico com óleo de peixe (rico em ácidos gordos omega 3) foi utilizada com êxito em dietas de final de gestação e de lactação a uma taxa de 0,5% (Bontempo et al., 2004, Tanghe et al., 2015). A investigação também sugere que os nutricionistas devem formular com uma taxa omega 6:omega 3 (<5), assim como ter em conta o nível absoluto de omega 3 na dieta e a eficiência de conversão de C18:3(n-3) a n-3 de cadeia longa.

 

Os requisitos em minerais e vitaminas

Mais de 50% da retenção total de minerais (macro e micro) ocorre durante as últimas duas semanas de gestação (Mahan, 2006). As porcas muito produtivas têm maiores requisitos de minerais que as menos produtivas e os períodos críticos para os minerais são o final da gestação e a lactação. Sabe que a redução de reservas de minerais sucede-se ao longo de 3 partos (Mahan & Peters, 1994), de modo a garantir que a longevidade da porca não seja comprometida, é recomendável a utilização estratégica de minerais de elevada qualidade e alta biodisponibilidade (orgânicos) no final da gestação e durante a lactação. No final da gestação também se recomendam os minerais e vitaminas que proporcionam a proteção antioxidante necessária (selénio orgânico, vit E, vit C) para a porca e a sua descendência. Pode avaliar-se a necessidade de uma pré-mistura específica de vitaminas e minerais para antes do parto.

 

Uma transição suave para o parto

Outra vantagem de ter uma dieta específica ou um suplemento (top-dressing) de pré-lactação é permitir o uso económico de ingredientes funcionais para otimizar a transição para o parto. Recomenda-se a análise cuidadosa do nível e fontes de fibra para encontrar um balanço positivo entre a velocidade do trânsito digestivo (evitando prisão de ventre) e o aproveitamento da energia de libertação lenta derivada da fermentação no intestino grosso (em porcas adultas com restrição de ração) para melhorar o peso ao nascimento. Também se recomenda o uso de probióticos, ácidos orgânicos e fitogénicos neste breve período para melhorar a saúde intestinal da porca e, em consequência, a sua descendência.

 

Encontrar o equilíbrio económico

As recomendações citadas podem parecer caras, no entanto, com uma análise cuidadosa tanto da dieta de início da gestação como de pré-lactação, é possível manter o custo por porca e gestação quase ao mesmo nível. Ao ter uma dieta específica de pré-lactação, é possível redefinir a dieta de início de gestação para que se adapte melhor às necessidades da porca e às necessidades mínimas da sua ninhada em desenvolvimento. O dinheiro economizado durante as 13 primeiras semanas de gestação pode ser reenvestido na dieta de pré-lactação para a adaptar melhor às necessidades da porca durante a gestação e para produzir uma ninhada de melhor qualidade e mais consistente.

 

Conclusão

A evolução da genética na porca moderna exige que os nutricionistas adaptem as dietas e os programas de alimentação. Os condicionalismos impostos ao potencial genético das porcas em explorações comerciais  (ambiente, instalações, clima, mão-de-obra) também devem ser considerados quando se personaliza a nutrição. Subsistem lacunas significativas na investigação acerca das porcas hiperprolíficas que deverão ter solução rapidamente, caso a nutrição pretenda manter-se a par com os avanços genéticos. No entanto, há uma boa razão para aplicar os resultados da investigação já alcançados para fazer uma melhor utilização da genética que temos hoje. Os nutricionistas devem considerar não apenas o papel da nutrição sobre o metabolismo mas também sobre a regulação hormonal e a reprodução. Há que ter em consideração que os nutrientes condicionalmente essenciais como a glutamina e a vitamina C também são importantes nos momentos críticos.

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