X
XLinkedinWhatsAppTelegramTelegram
0
1
Leia este artigo em:

Momento de repensar protocolos de vigilância para Mycoplasma aquando da introdução de nulíparas em explorações de porcas negativas

Neste artigo, as autoras partilham a sua posição, com base em investigações de campo, sobre um protocolo de vigilância actualizado para Mycoplasma hyopneumoniae.

Vigilância de doenças nas porcas de substituição

As porcas de substituição são literalmente "sangue novo" para os efectivos e são essenciais para a produtividade da exploração já que proporcionam avanço genético e mantêm a distribuição de partos. No entanto, também representam um risco de entrada de agentes patogénicos (mesmo nas explorações mais biosseguras) devido à sua introdução frequente, espalhada ao longo do ano, nas explorações receptoras. Vários agentes patogénicos muito importantes, incluindo Mycoplasma hyopneumoniae (M. hyopneumoniae é geralmente referido como mycoplasma), são transmitidos principalmente através do contacto directo entre porcos infectados e susceptíveis. Portanto, as práticas de biossegurança, incluindo diferentes períodos de isolamento e testes de vigilância, são implementadas rotineiramente em populações de porcas de reposição para ajudar a prevenir doenças. Em geral, os protocolos de vigilância estão desenhados para avaliar com precisão o estado de saúde de uma população e detectar agentes patogénicos específicos de interesse de forma precoce e activa. Portanto, a vigilância das doenças é a coluna vertebral de um programa de biossegurança sólido.

Estratégias actuais para a vigilância de M. hyopneumoniae e as suas possíveis limitações

Para a vigilância de micoplasma são recolhidas amostras de sangue individuais e de fluídos orais a nível de pavilhão e geralmente são analisados ​​para a detecção de anticorpos e material genético, respectivamente. As amostras de sangue e fluidos orais têm sido os tipos de amostra mais amplamente usados ​​até hoje, em grande parte devido à facilidade de recolha e ao facto de que os mesmos tipos de amostra podem ser usados ​​para detectar vários agentes patogénicos, como o vírus, síndrome reprodutiva e respiratória suína e diarreia epidémica suína, para as quais as porcas de substituição também devem ser testadas. O uso de amostras de sangue e fluidos orais para testes de micoplasma maximiza o uso de tempo e esforço no programa de vigilância. Embora possa parecer uma vantagem, isto levou ao uso rotineiro de amostras clínicas que podem não ser as mais adequadas para a detecção de M. hyopneumoniae, especialmente durante as primeiras semanas após a infecção.

Por outro lado, diversos estudos nos últimos anos assinalaram que a detecção de micoplasma em porcos vivos é extremamente sensível ao tempo após a infecção inicial e à variação nas amostras clínicas. Esta informação levanta várias questões sobre a precisão dos protocolos de vigilância actuais e sua capacidade de detectar infecção recente por micoplasma numa população naïve de porcas.

Num esforço para avaliar os desafios da detecção de micoplasma em condições semelhantes às encontradas no campo, a nossa equipa de investigação elaborou um estudo com o objectivo de recriar protocolos de vigilância comuns para testar porcas de substituição antes de sua introdução nas explorações. Também foram incluídos no estudo outros tipos de amostras e ensaios que podem ser considerados de última geração para a detecção de M. hyopneumoniae.

Um modelo de transmissão natural de micoplasma entre porcas de substituição

Foi introduzida uma porca infectada de forma natural com M. hyopneumoniae num parque, alojada com um grupo de porcas jóvens naïve da mesma idade (n = 30 no total) durante oito semanas. A porca infectada de maneira natural estava na etapa precoce da infecção e foi mudada a sua identificação após a introdução (desta forma, nem os investigadores poderiam discernir entre porcas naïve e infectadas, evitando qualquer desvio na amostrgem). Foram recolhidas amostras de todas as primíparas várias semanas após o contacto (figura 1). Em cada evento de amostragem foram recolhidos catéteres traqueais profundos, zaragatoas de laringe e amostras de sangue de cada porca individual, junto com uma amostra de fluido oral por parque. Além disso, foram recolhidos esfregaços bronquiais individuais no final do estudo para confirmar a infecção. A presença de anticorpos específicos contra M. hyopneumoniae foi avaliado em amostras de sangue através de ELISA, enquanto que a detecção de material genético em todas as outras amostras foi avaliada por PCR em tempo real.

Figura 1. Foi usado um modelo de infecção natural para avaliar a detecção de Mycoplasma hyopneumoniae após o  contacto com uma porca infecciosa. Ex X: semanas posteriores ao contacto. As amostras foram recolhidas do dia 0 até às 8 semanas posteriores ao contacto.
Figura 1. Foi usado um modelo de infecção natural para avaliar a detecção de Mycoplasma hyopneumoniae após o contacto com uma porca infecciosa. Ex X: semanas posteriores ao contacto. As amostras foram recolhidas do dia 0 até às 8 semanas posteriores ao contacto.

Sem surpresas na detecção de micoplasma

Como era de esperar, a transmissão de M. hyopneumoniae entre porcas naïve ocorreu lentamente e a maioria das amostras clínicas em porcas vivas naïve foram negativas para o agente patogénico, especialmente durante as primeiras semanas após o contato com porcas infectadas (ver figura 2). Só depois de oito semanas, 8 das 29 porcas naïve foram infectadas com micoplasma. Seis semanas após o contacto, uma porca não tratada testou positivo para micoplasma em cateteres traqueais profundos e esfregaços laríngeos e somente oito semanas após o contacto é que essa porca infectada recentemente apresentou anticorpos positivos. É importante ressaltar que os fluidos orais permaneceram negativos para detecção de micoplasma durante todas as oito semanas do estudo, independentemente do facto de que uma porca positiva fazer parte do grupo de amostra.

Figura 2. Proporção porcas positivas por contacto de Mycoplasma hyopneumoniae segundo o tipo de amostra e o tempo após o contacto com uma porca infecciosa.
Figura 2. Proporção porcas positivas por contacto de Mycoplasma hyopneumoniae segundo o tipo de amostra e o tempo após o contacto com uma porca infecciosa.

Embora tenha sido detectado M. hyopneumoniae ao longo do estudo usando cateteres traqueais profundos e / ou zaragatoas da laringe em porcas naturalmente infectadas, a soroconversão foi retardada e só foi identificada pela primeira vez seis semanas após a infecção.

Oportunidades para optimizar os protocolos de vigilância de micoplasma

Perante os resultados desta investigação a mensagem é muito clara: o tempo após a exposição e o tipo de amostra usada para os testes de M. hyopneumoniae são cruciais e influenciarão significativamente na capacidade para detectar este agente patogénico. As amostras recolhidas do tracto respiratório inferior, por exemplo esfregaços traqueais profundos, ofereceram a maior sensibilidade entre os tipos de amostra. Sabendo que um programa de vigilância abrangente é fundamental para prevenir surtos de doenças em explorações de porcas, é fundamental que os profissionais veterinários revejam os protocolos existentes e os redesenhem com base nas informações diagnósticas mais actualizadas. Os protocolos de vigilância tradicionais não se devem tornar uma tradição. Os profissionais da suinicultura podem contar com pesquisas de campo para aprimorar a sua estratégia de prevenção da doença por micoplasma.

Este estudo foi financiado pelo Minnesota Pork Board e Pork Checkoff.

Comentários ao artigo

Este espaço não é uma zona de consultas aos autores dos artigos mas sim um local de discussão aberto a todos os utilizadores de 3tres3
Insere um novo comentário

Para fazeres comentários tens que ser utilizador registado da 3tres3 e fazer login

Não estás inscrito na lista Última hora

Um boletim periódico de notícias sobre o mundo suinícola

faz login e inscreve-te na lista

Artigos relacionados

Não estás inscrito na lista A web em 3 minutos

Um resumo semanal das novidades da 3tres3.com.pt

faz login e inscreve-te na lista