Leitões ao desmame: não são todos iguais. A dispersão de idade e pesos

A mudança da dieta líquida para sólida, a mudança de ambiente e o estabelecimento de hierarquia social fazem do desmame um dos momentos críticos na vida do leitão.

A idade ao desmame e o peso do leitão nesse momento são os dois factores que determinarão o êxito desta fase e sobretudo o maneio a aplicar. O peso ao desmame é, além disso, um dado chave para conhecer como está a funcionar a nossa maternidade.

Na produção suinícola moderna manejamos múltiplos dados que nos permitem analisar e conhecer o funcionamento das explorações. Por exemplo, nas reprodutoras: % de repetições, índice de partos, média de nascidos totais, vivos, etc. Também nas fases das baterias ou na engorda: índice de conversão, ganho médio diário, % de mortalidade, etc.

Os parâmetros baseados em valores médios, não nos informam sobre a dispersão de dados na nossa população. Quando avaliamos a idade e o peso ao desmame, conhecer a sua dispersão é muito importante.

Imaginemos uma exploração com salas para 5 semanas de partos:

Em príncipio poderíamos dizer que essa exploração desmama leitões com 4 semanas de vida, já que com maternidades para 5 semanas de partos, podemos ter 4 semanas de lactação e uma para o vazio sanitário e fase de pré-parto. O que é verdada é que, se esta exploração apenas desmama uma vez por semana, teríamos uma dispersão de 7 dias entre o leitão mais velho e o mais novo (21-28 dias).

Nas explorações acontece exactamente assim? A resposta é, não.

A realidade, é que hoje em dia o progresso genético está a conseguir melhorias importantíssimas na prolificidade das porcas. Não é raro encontrar explorações com média de nascidos vivos superiores a 16 leitões. Nestas situações, muitas vezes são obrigados ao uso de porcas adoptantes, já que o número de leitões nascidos excede o número de leitões que as porcas podem amamentar.

Foto 1: Ainda que haja muitas formas de fazer porcas adoptantes, a mais habitual é libertar uma porca, desmamando os seus leitões uma semana mais cedo e de imediato fazer as transferências em escada com um intervalo de 7 dias (3 passos), ou inclusive passando leitões de 7 dias para a porca com 21 dias de lactação (2 passos)

O procedimento habitual de fazer porcas adoptantes implica adiantar leitões.

Uma exploração que faça 10% de porcas adoptantes por semana, acaba por desmamando mais de 30% dos seus leitões 1 semana antes daquilo que deveria acontecer.

De igual forma, a pressão que muitas explorações têm para não desmamar leitões que não atinjam um peso mínimo, implica que se produzam leitões "repetidores". Estes leitões, quando deveriam ser desmamados devido à sua idade, ficam mais uma semana na maternidade, seja com a sua mãe ou com uma mãe adoptiva para ganhar peso.

Com tudo isto, não é de estranhar que em muitas explorações a situação possa ser muito parecida à que ilustramos a seguir:

Se nos fixamos agora no peso ao desmame, vemos que habitualmente também temos uma grande dispersão (tabela 1)

Tabela 1: Percentil considerando peso médio aos 6 kg e o máximo de 7 dias de diferença entre os leitões.
Cerca de 10% dos leitões podem estar abaixo de 4,5 kg e 10% com peso superior a 7,5 kg.

Mike Brumm 2003

Num caso como o que descrevemos, facilmente encontramos pesos entre 3 e 9 kg.

Além disso, nem sempre o peso é um bom indicador da idade. Com a dispersão de idades descrita, teremos leitões de peso elevado mas jovens (muitos deles do grupo 2) e porcos "velhos" de baixo peso (grupo 3).

A dispersão em peso afecta a hierarquia e, portanto, a competição entre leitões pelos recursos (ração, água, localização no parque) e também a dispersão de pesos à entrada nas engordas.

A variabilidade em idade afecta a "maturação" do aparelho digestivo do leitão, a quantidade de creep feed que tenham ingerido e, portanto, a sua adaptação ao alimento sólido.

Como gerimos esta variabilidade?

A forma habitual de trabalho é a classificação de leitões por tamanho e pretende minimizar o impacto negativo da dispersão de pesos. Por isso, quando chega um lote de leitões desmamados estes classificam-se em vários tamanhos: grandes, pequenos, médios.

As principais medidas "diferenciadas" de maneio que se aplicam num desmame são:

• Apresentação e maneio da ração: pratos adicionais, apresentação em papa, maior oferta de ração, etc. (foto 2)
• Quilos de pré-starter oferecidos aos leitões: mais quilos aos mais pequenos.
• Ambiente: quando há diferentes salas/pavilhões, dá-se +1-2ºC aos leitões mais pequenos.

Foto 2. O uso de papas ou ração semi-líquida favorece a ingestão de ração nos primeiros dias e a adaptação à ração sólida

A minha recomendação é que o factor tamanho não seja a única variável que tenhamos em conta e que ao receber leitões nas baterias, tenhamos identificados os leitões dos grupos 2 e 3.

Nas tabelas 2 e 3 aparece a diferença de maneio que aplicaríamos em cada caso:

Tabela 2: Se não diferenciamos os grupos (g) 2 e 3, estes leitões não receberão
nenhum maneio específico dferente aos de seu tamanho mas de idade diferente.

Tabela 3: Ao diferenciar os leitões dos grupos (g) 2 e 3 relativamente aos do 1, estes podem receber um tratamento específico de acordo com a sua idade. Em especial os leitões procedentes de porcas adoptantes, podem receber ração em forma de papa e um pouco mais de pré-starter que se fossem classificados unicamente como leitões "grandes".

A hiperprolificidade permite desmamar mais leitões por porca, mas requere um maneio mais exigente na maternidade e aumenta a dispersão de pesos ao desmame e também de idade por efeito do uso de porcas adoptantes. Diferenciar os leitões mais jovens procedentes de porcas adoptantes e os leitões repetidores, permite um maneio adequado para estes leitões, reduzindo o número de leitões inadaptados e melhorando o seu rendimento.