X
XLinkedinWhatsAppTelegramTelegram
0
2
Leia este artigo em:

Estratégias para controlar a variabilidade de peso do leitão nas baterias (2/2): alimentação e comedouros

São discutidas estratégias diversas: oferecer até 3 tipos de ração diferentes, alimentar "por orçamento", densidade de leitões por boca, ...

Controlar e reduzir a dispersão de peso vivo ao longo do ciclo produtivo do porco é um dos maiores desafios enfrentados pelos produtores pecuários e técnicos actualmente.

Neste artigo e no anterior vamos centrar-nos nas medidas de maneio e produtivas que podemos aplicar na fase de baterias, para reduzir essa dispersão. No artigo anterior, foi tratado o impacto que tem na dispersão a segregação de pesos e a importância do conforto dos animais. Neste, serão tratados alguns aspectos chave do maneio da alimentação e a importância do espaço no comedouro.

Aspectos chave da alimentação

A utilização de rações altamente digestíveis, com matérias-primas garantidas, ricas em derivados lácteos (caseinatos, leite desnatada, soros) e de alta qualidade, constitui uma das estratégias destinadas a melhorar a adaptação de todos os leitões ao pós-desmame (e em particular dos mais pequenos). Aspectos como a palatabilidade da ração, contribuiríam para incentivar o consumo voluntário ao desmame, favoreceriam a maturação do sistema digestivo com maior rapidez e, assim, ajudariam a reduzir a variabilidade do peso vivo (PV). A forma de apresentação em grânulo seria preferível à farinha, e quanto à forma de administração seria normalmente em seco. Em alguns casos, durante o arranque dos leitões pode ser de grande ajuda fornecer papas várias vezes por dia e estimular o consumo de água. Paralelamente, o desenvolvimento de núcleos (entendidos como uma combinação sinérgica de aditivos) e programas nutricionais mais precisos para maximizar consumo, digestibilidade e saúde intestinal, constitui o principal objectivo de várias empresas de nutrição animal.

De qualquer modo, tão importante como a fórmula das rações, é o maneio das mesmas e adaptando o tipo de ração à idade e peso dos animais irá ajudar a controlar melhor a dispersão do PV e optimizará a utilização da dieta. Não se deve evitar, nesta fase, oferecer até três rações diferentes (são utilizadas diferentes denominações e é melhor referir-se a elas como ração 1, 2 e 3) e mudar de forma gradual de uma para outra se a logística permitir.

Uma recomendação importante é trabalhar com programas de alimentação globais para todo o periodo de desmame em vez de recorrer a rações individuais de origens diferentes. Outro aspecto a discutir seria o alimentar "por orçamento", decidindo de antemão a quantidade de cada ração a administrar por leitão. Isto levaria a realizar as mudanças de ração em lotes de leitões contemporâneos a diferentes idades, dependendo do consumo individual. É espectável que os leitões mais pequenos comam as rações 1 e 2 durante mais dias, favorecendo deste modo o seu arranque e crescimento. Evidentemente, se os leitões do mesmo lote são transferidos para a instalação de crescimento e engorda a dia fixo, os pequenos consumirão menos dias a ração 3. Este sistema "por orçamento" deveria reduzir a variabilidade do PV do lote no final das baterias, embora seja, por vezes, difícil de implementar em condições comerciais por motivos estritamente logísticos.

A modo de exemplo, e como guia geral, a tabela 1 resume os valores "objectivo" a registar, para as condições médias espanholas, numa bateria de seis semanas de duração com leitões desmamados aos 21 dias. Não há dúvida que tanto o potencial genético dos animais como o seu status sanitário e condições de maneio podem desviar para cima ou para baixo as previsões. No entanto, é importante assinalar que os valores recomendados durante a primeira semana (semana 4) são provavelmente os mais discutíveis, tendo em conta que justamente o periodo de arranque seja o momento onde mais importância se adjudica a conseguir um bom equilíbrio entre os rendimentos produtivos e o equilíbrio digestivo.

Tabela 1. Valores objectivo de uma bateria standart em condições actuais espanholas.
Está previsto um peso vivo médio do leitão ao desmame de 6,2 kg.

FASE 1 FASE 2 FASE 3 TOTAL
Semanas de vida Sem 4 Sem 5-6 Sem 7-9 Sem 4-9
PV final (kg) 7,25 11,45 20,10 14,95
Crescimento (g/d) 150 300 410 331
Ingestão (g/d) 225 450 720 548
IC (g/g) 1,50 1,50 1,80 1,65
Consumo total (kg) 1575 6300 15120 22995

O papel do espaço e tipo de comedouro

Garantir que todos os leitões do lote ou curral tenham acesso suficiente a ração ajuda a aumentar o consumo e favorece que a dispersão de rações diminua. Resultados do nosso próprio grupo (Solà-Oriol et al., 2015) apontam para que exista um efeito significativo do espaço de comedouro (entendido como o número de leitões/boca, de acordo com o tipo de comedouro e densidade dos animais) na redução do CV de até 12% nos animais com um acesso a um comedouro que permita uma menor densidade de leitões por boca (2,2 leitões/boca para 5 bocas vs 5,5 leitões/boca para 2 bocas). Neste ensaio, verificou-se que a resposta a estes dois tipos diferentes de comedouros em dois grupos de animais que partiram de um mesmo PV e CV no final da fase de baterias, entrada para a engorda e até ao abate.

Os leitões que foram atribuídos ao comedouro de 5 bocas tenderam a um maior PV e consumo de ração relativamente aos animais atribuídos ao comedouro de 2 bocas (tabela 2). O estudo concreto foi realizado dos 64 aos 92 dias de vida e sugere que uma estratégia deste tipo poderá ter o mesmo efeito ou semelhante na fase de baterias. De facto, na fase de baterias o número de bocas tende a ser elevado em parte porque a densidade dos currais é normalmente maior e controlar que todos os leitões tenham acesso à ração de forma correcta é de facto importante. Paralelamente, o tipo de comedouro (e a sua adequada regulação) também poderá ter certa relevância, especialmente durante o arranque dos leitões.

Tabela 2. Resumo do peso vivo (PV) e consumo médio diário (CMD) final em função do tipo
de comedouro atribuído desde os 64 aos 92 dias de vida (Solà-Oriol et al., 2015).

Ítem Comedouro 2 bocas Comedouro 5 bocas p-valor*
PV (Kg) 32,5 33,1 0,061
CMD (g/d) 562 583 0,062

*Significado estatístico fixo em P<0,05

Definitivamente, e de maneira geral, estas são algumas propostas que, pelo seu carácter marcadamente prático deveriam poder ser de utilidade para ajudar a maximizar a homogeneidade dos leitões nas baterias. Do mesmo modo, a aplicação de uma estratégia não tem porque excluir as outras, sendo recomendável em muitos casos optar por mais de uma, dependendo de cada exploração, para conseguir reduzir a variabilidade de PV e aumentar a eficiência global do sistema produtivo.

Comentários ao artigo

Este espaço não é uma zona de consultas aos autores dos artigos mas sim um local de discussão aberto a todos os utilizadores de 3tres3
Insere um novo comentário

Para fazeres comentários tens que ser utilizador registado da 3tres3 e fazer login

Não estás inscrito na lista Última hora

Um boletim periódico de notícias sobre o mundo suinícola

faz login e inscreve-te na lista

Não estás inscrito na lista A web em 3 minutos

Um resumo semanal das novidades da 3tres3.com.pt

faz login e inscreve-te na lista