É possível ver o PRRS nos programas de gestão? (II)

O PRRS é um problema que se apresenta na maioria das explorações de forma aguda, como pode ser visto no artigo anterior, sendo capaz de produzir abortos, repetições, aumento de nascidos mortos, aumento de baixas em lactação e diminuição de leitões desmamados. Mas há explorações nas quais ocorre uma recirculação contínua de PRRS gerando variações na produção da mesma capazes de afectar muito os fluxos esperados de produção. Seguidamente são analizadas estas variações através de um programa de monitorização baseado tanto num programa de gestão informático como de análise SPC (Statistical Process Control). Para a análise trabalharemos com os dados de uma exploração com problemas na gestação (com repetições e abortos contínuos, mas com uma média de taxa de partos que não é chamativamente baixa durante o último ano. No gráfico 1, gráfico de taxa de partos do periodo Setembro 2008- Julho de 2009, apresentam-se os resultados das cobrições por meses do periodo analisado.

1790 cobrições entre 01/09/08 e 31/07/09

Gráfico 1: Taxa de partos mensal desde Setembro 2008 a Julho 2009

Segundo o gráfico anterior, os abortos (marcados com círculos) ocorrem principalmente entre a 5ª e a 8ª semana de gestação e um pouco menos no final da mesma (semana 15ª) e com um efeito estacional mais marcado no Outonho e Primavera.

Seguidamente (tabela 1), analisaremos o comportamento semanal da exploração em gestação e partos. Na gestação pode-se ver que existem picos de repetições, aumenta o número de cobrições a porcas repetidas. Trata-se de um indicador muito importante já que, de maneira precoce, indica-nos a existência de um problema muito antes da obtenção da taxa final de partos.

Tabela 1: Resultados de cobrições por semanas. Dezembro 2008 a Agosto 2009

	Informação de cobrição
Cobrições totais	31	26	44	37	36	35	41	29	26	42	33	33	32	54	35	36
1ª cobrições	27	23	35	29	27	25	36	27	21	36	28	29	28	48	31	34
Cobrições de nulíparas	2	2	7	2	0	0	3	0	0	1	4	3	3	13	5	2
Intervalo alta-1ª cobrição	105.0	0.0	6.4	125.4	-	-	148.7	-	-	70.0	81.5	83.7	92.3	100.5	106.6	114.0
Intervalo disponível- 1ª cobrição	-	-	-	-	-	-	-	-	-	-	-	-	-	-	-	-
Cobrições de porca	25	21	28	27	27	25	33	27	21	35	24	26	25	35	26	32
Intervalo desmame-1ª cobrição	6.3	6.2	6.8	6.1	7.1	9.2	8.2	7.2	7.2	8.2	6.5	6.8	7.5	6.9	6.2	7.5
Porcas cobertas nos 1º 7 dias	21	19	25	23	18	15	21	20	16	28	20	19	17	26	23	24
% porcas cobertas na 1ª cobrição	94	90.5	89.3	85.2	66.7	60	63.6	74.1	76.2	80	83.3	73.1	68	74.3	88.5	75
Cobr. com fracassos ao parto	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0
Cobrições repetidas	4	3	9	8	9	10	5	2	5	6	5	4	4	6	4	2
Taxa de repetição%	12.9	11.5	20.5	21.6	25	28.6	12.2	6.9	19.2	14.3	15.2	12.1	12.5	11.1	11.4	5.6
Taxa de concepção	93.5	80.8	70.5	73	72.2	82.9	73.2	86.2	80.8	90.5	93.9	90.9	75	87	71.4	83.3
% (superior a 125 dias)	100	100	100	100	100	100	100	100	100	100	100	100	100	100	100	100
Idade média à cobrição (parto)	3.5	4.2	3.7	4.9	3.8	2.6	3.6	3.8	3.4	3.9	2.7	3.2	3.4	2.7	2.6	3.9

	Informação cobrição
Cobrições totais	36	25	36	44	44	37	33	34	56	32	31	40	46	37	29	43
1ª cobrições	28	22	34	40	39	32	27	33	49	29	29	33	39	33	24	37
Cobrições de nulíparas	1	3	4	18	7	10	7	7	10	5	3	7	7	8	2	4
Intervalo alta-1ª cobrição	122	127	135.5	143.8	148.9	99.4	89.3	99.3	100.9	118	105.3	113.3	121	127.6	135	141.8
Intervalo disponível - 1ª cobrição	-	-	-	-	-	-	-	-	-	-	-	-	-	-	-	-
Cobrições de porca	27	19	30	22	32	22	20	26	39	24	25	26	32	25	22	33
Intervalo desmame -1ª cobrição	6.8	6.3	8	8.6	7.3	7	7.9	8.3	7.9	5.5	7.4	6.3	6.2	7.2	6	5.9
Porcas cobertas nos 1º 7 dias	21	15	23	16	23	17	14	18	33	22	20	22	28	21	20	29
% porcas cobertas na 1ª cobrição	77.8	78.9	76.7	72.7	71.9	77.3	70	69.2	84.6	91.7	80	84.6	87.5	84	90.9	87.9
Cobr. com fracassos no parto	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0	1	0	0	0	0	0
Cobrições repetidas	8	3	2	4	5	5	6	1	7	3	2	7	7	4	5	6
Taxa de repetição %	22.2	12	5.6	9.1	11.4	13.5	18.2	2.9	12.5	9.4	6.5	17.5	15.2	10.8	17.2	14
Taxa de concepção	77.8	96	86.1	93.2	88.6	73	75.8	76.5	85.7	84.4	83.9	82.5	87	83.8	86.2	95.3
% (superior a 125 dias)	100	100	100	25	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0
Idade média à cobrição (parto)	4.2	2.9	3.1	2.2	2.8	2.8	2.9	3.7	3.6	3.4	3.2	3.4	3.7	3.8	3.8	3.4

A que podem ser devidos estes resultados? Ao analisar mais profundamente o maneio da exploração, foi observado que estas descidas de fertilidade coincidem com a entrada de porcas primíparas na gestação. Foram introduzidas porcas de renovação do adaptador para a gestação em princípio do mês de Dezembro, em Fevereiro e no mês de Maio, coincidindo no tempo com as falhas devidas a repetições e abortos que ocorreram principalmente nos meses de Janeiro-Fevereiro e em Junho-Julho.

Na série seguinte de gráficos de controlo, pode-se ver a evolução por meses dos indicadores chave para esta doença.

No mês de Janeiro é quando ocorreu uma maior % de repetições, que coincide com uma maior % de abortos e uma diminuição de nascidos vivos.

Controlo de sistemas produtivos (CSP)
Exploração: modelo

Análise de repetições (%)

Quanto aos resultados na maternidade também se observa um aumento nestes mesmos periodos de:

• Leitões nascidos mortos, suponiendo 2 por ninhada nesse periodo
• Baixas em lactação: aumentaram 62 %, passando de 8,8% a 14,1%.

Tabela 2: Resultados na maternidade. Dezembro 2008- Agosto 2009 (detalhadamente Dezembro- Abril)

	Informação do parto
Partos (ninhadas)	37	40	33	28	30	25	28	30	23	27	35	38	22	36	27	34
Partos assistidos	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0
Partos induzidos	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0
N. totais	401	471	420	299	382	318	382	388	251	347	374	459	279	478	357	416
N. totais / ninhada	10.8	11.8	12.7	10.7	12.7	12.7	13.6	12.9	10.9	12.9	10.7	12.1	12.7	13.3	13.2	12.2
N. vivos	359	395	330	262	314	272	326	332	230	292	343	389	237	421	300	360
(% de N. totais)	89.5	83.9	78.6	87.6	82.2	85.5	85.3	85.6	91.6	94.1	91.7	84.7	84.9	88.1	84	86.5
N. vivos / ninhada	9.7	9.9	10	9.4	10.5	10.9	11.6	11.1	10	10.8	9.8	10.2	10.8	11.7	11.1	10.6
N. mortos	42	76	87	37	68	46	53	53	21	55	31	70	42	57	57	56
(% de N. totais)	10.5	16.1	20.7	12.4	17.8	14.5	13.9	13.7	8.4	15.9	8.3	15.3	15.1	11.9	16	13.5
NM/ ninhada	1.1	1.9	2.6	1.3	2.3	1.8	1.9	1.8	0.9	2	0.9	1.8	1.9	1.6	2.1	1.6
Mumificados	0	0	3	0	0	0	3	3	0	0	0	0	0	0	0	0
(% de N. totais)	0	0	0.7	0	0	0	0.8	0.8	0	0	0	0	0	0	0	0
Mumificados / ninhada	0	0	0.1	0	0	0	0.1	0.1	0	0	0	0	0	0	0	0

Tudo isto se traduz numa diminuição dos leitões desmamados, mas esta diminuição não é tão marcada como quando há uma recirculação aguda de PRRS, embora se vejam os picos que comentamos antes, há semanas nas quais há bons desmames e outras nas que o número de leitões desmamados é muito baixo.

Tabela 3: Informação de desmames. Dezembro 2008- Agosto 2009 (detalhadamente Dezembro- Abril)

	Informação de desmames
Porcas desmamadas totalmente	25	38	36	26	27	25	39	25	24	40	26	26	38	25	38	25
Porcas mães adoptivas desmamadas	0	0	0	0	1	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0
Porcas desmamadas sem ninhada	0	1	0	0	0	1	0	0	0	1	0	0	1	0	0	0
Ninhadas desmamadas	25	37	36	26	28	24	39	25	24	39	26	26	38	25	337	25
Leitões desmamados	233	327	348	242	245	227	352	234	231	356	239	233	360	234	345	233
Desmamados atrasados	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0
(% de desmamados)	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0	0
Média desm. / ninhada	9.3	8.8	9.7	9.3	8.8	9.5	9	9.4	9.6	9.1	9.2	9	9.5	9.4	9.3	9.3
Idade média do leitão	25.4	28	25.9	22.5	23.3	26.4	27.8	27.1	28	28.4	25.9	26.9	26.3	23.7	24.3	26.9
Peso médio ninhadas desm.	-	-	-	-	-	-	-	-	-	-	-	-	-	-	-	-
Peso médio ajustado ao desmame	-	-	-	-	-	-	-	-	-	-	-	-	-	-	-	-
Duração da lactação	25.6	28.2	26.4	22.6	24.2	26.4	27.9	26.9	28.3	28.1	26.5	27.4	26.4	23.7	23.6	26.9
Idade média ao desmame (parto)	4.5	5.2	5.3	4.4	3.2	3.7	4.6	3.7	4.2	4	3.5	4.3	3.7	4	3	5.6

Este processo infeccioso está a repercutir negativamente na produção a nível global e não só na gestação e partos, já que também aconteceu um aumento no número de baixas em leitões em transição nos periodos nos que houve um maior número de abortos (Janeiro e Junho), passando de 1,4% de taxa de mortalidade a 2,4% de baixas, calculado sobre animais que entraram.

Mediante este sistema que implica uma combinação de monitorização e análise, podemos:

1. Compreender melhor a dinâmica de algunas patologías na exploração e a sua relação com o maneio que está a ser efectuado, assim como as correcções derivadas do mesmo.
2. Calcular o custo económico derivado das perdas de produção detectadas, que em muitos casos como este, onde não há sinais clínicos alarmantes, podemos pensar que são menores que o realmente acabam por ser.