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Como os antiinflamatórios administrados às porcas afectam o leitão

Enric Marco avalia um estudio sobre o uso de antiinflamatórios nas porcas durantre o parto para tentar reduzir a mortalidade e aumentar o peso dos leitões ao desmame.

17 Agosto 2016
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Artigo

E Mainau, D Temple, X Manteca. Experimental study on the effect of oral meloxicam administration in sows on pre-weaning mortality and growth and immunoglobulin G transfer to piglets. Preventive Veterinary Medicine 126 (2016) 48–53

Que se estuda?

Neste artigo investigou-se o efeito do uso oral do meloxicam em porcas durante o periparto. O objectivo principal era investigar o efeito na transferência de IgG aos leitões e na mortalidade e rendimento dos leitões.

 

Como se estuda?

Fizeram-se dois grupos de 30 porcas multíparas, sendo um deles tratado com meloxicam e o outro com placebo. Os tratamentos aplicaram-se imediatamente após o início do parto e avaliou-se o número de nascidos vivos, o número de nascidos mortos e mumificados e o número de desmamados. Durante a lactação, registou-se o número de tratamentos por porca e a mortalidade nos leitões. Pesaram-se os leitões ao nascimento e ao desmame e calculou-se o ganho médio diário (GMD). Recolheram-se amostras de sangue a 4 leitões de cada porca aos 1, 2 e 20 dias de idade para analisar as IgG.

 

Quais os resultados?

O meloxicam oral administrado no início do parto originou leitões significativamente mais pesados ao desmame e um GMD melhorado. Os leitões nascidos de porcas tratadas com meloxicam oral ganharam, em média, mais 19 g/d até ao desmame. Os níveis de IgG nos leitões de porcas tratadas com meloxicam foram significativamente mais elevados nos dias 1 e 2 de vida, em comparação com os de leitões de porcas tratadas com placebo. Não houve efeito significativo na mortalidade pré-desmame.

 

Que conclusões se tiram deste trabalho?

Os traumatismos e a inflamação associados com o parto e a distócia têm um impacto negativo sobre a sanidade, o bem-estar e o rendimento dos animais de produção. Uma ingestão precoce e suficiente de imunoglobulinas é um factor crucial para o crescimento e a sobrervivência, já que os leitões neonatos quase não têm reservas corporais. A estrutura da placenta da porca impossibilita a transferência de anticorpos antes do parto. A protecção materna inclui imunidade humoral sistémica, principalmente através das IgG transferidas durante as primeiras 36 horas de vida.

Ainda que seja bem conhecido que o meloxicam oral tem um efeito benéfico nas porcas ao reduzir a septicémia e a toxémia puerperal (sindroma de Mastite-Metrite-Agaláxia, MMA), o efeito indirecto nos leitões não era claro.

Este estudo demonstrou claramente que a administração oral de meloxicam perto do parto implicou níveis significativamente mais elevados de IgG nos leitões nas primeiras 48 horas de vida, o que permitiu um melhor crescimento até ao desmame. Os resultados podem ser explicados porque a redução da inflamação e da dor nas porcas tratadas com meloxicam poderá influenciar positivamente o seu comportamento maternal, o que por sua vez implica uma tomada de colostro melhor. Tanto a quantidade como a qualidade de colostro são cruciais para o posterior desenvolvimento do porco em termos de imunidade e condição corporal.

 

Enric MarcoA visão a partir do campo por Enric Marco

A melhoria genética permitiu aumentar, de forma impressionante, o número de leitões nascidos. Ninhadas com mais de 15 leitões nascidos vivos começam a ser normais em bastantes explorações. Mas a melhoria não chegou sozinha, também aumentaram as mortalidades pré-desmame e reduziram-se os pesos ao desmame. Isto provocou o interesse comum por tentar reduzir a mortalidade e aumentar o peso dos leitões ao desmame e é por isso que se estudaram todo o tipo de estratégias para o conseguir. O uso de antiinflamatórios nas porcas no momento do parto ou posteriormente a ele é uma delas. Com o seu uso pretende-se melhorar a condição da porca e ao mesmo tempo melhorar o arranque na produção de leite e é o que muitos destes trabalhos confirmaram.

Realizar estudos deste tipo não é fácil e menos quando o que se pretende é detectar diferenças na mortalidade pré-desmame. Curiosamente, quando se levam a cabo este tipo de estudos, as mortalidades reduzem-se sempre (tanto no grupo tratamento como no de controlo) possivelmente pela maior assistência que o próprio ensaio gera e, especialmente, quando os trabalhos se realizam com um tamanho de amostra reduzido, como é o caso, dai que não surpreende que não se tenham podido encontrar diferenças entre os grupos.

Mas o que me surpreendeu no artigo é que os leitões do grupo tratado tivessem uma maior concentração de IgGs que os controlo, especialmente no primeiro dia. Pode-se especular que seja derivado de uma maior facilidade para poder mamar na sua mãe e, em consequência, poder ingerir uma maior quantidade de defesas. Seguramente, tratar as porcas no início do parto (só se costumavam tratavam depois que tivessem parido o segundo leitão) terá sido crucial para conseguir esta melhoria. Esta é, quiçá, a diferença mais notável entre o presente trabalho e outros anteriores onde as porcas se tratavam apenas após finalizado o parto.

Seria interessante continuar a investigar para saber se esta melhoria se consegue também quando o tratamento é mais tardio e para saber se este tratamento precoce possui algum efeito na imunidade celular adquirida pelo leitão. Os leitões não só obtêm imunidade humoral (IgG) da sua mãe como também celular. Os leitões apenas são capazes de absorver células maternais durante as primeiras horas pós-parto, pelo que a rapidez na tomada de colostro marca a diferença. A imunidade celular adquirida da mãe é imprescindível para que os leitões desenvolvam uma potente imunidade activa contra numerosas bactérias (e entre elas, todas as conhecidas como colonizadoras precoces) pelo que seria bom realizar um novo estudo para poder conhecer quais são as consequências do mesmo na fase de pós-desmame, pois é aí quando se podem apreciar as consequências de ter realizado, ou não, uma rápida e correcta tomada de colostro.

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