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Clostridium perfringens tipo A: autêntico agente enteropatogénico para os leitões?

Estou convencido de que algumas estirpes desta bactéria são patogénicas para os porcos e podem produzir diarreia e reduzir o crescimento, contudo não há um teste disponível que possa detectar ou identificar as estirpes patogénicas de <i>C. perfringens</i> tipo A.

O Clostridium perfringens tipo A faz parte da microbiota normal da última secção do intestino delgado e do cólon dos suínos e de muitas outras espécies animais. Na última década, o diagnóstico de C. perfringens tipo A aumentou nos casos de diarreia neonatal. Contudo, ainda não se conhece completamente a verdadeira importância desta bactéria como agente primário de diarreia em leitões lactantes. O principal desafio para a correcta interpretação do papel do C. perfringens tipo A em casos de diarreia neonatal tem sido a complexidade para se fazer um diagnóstico definitivo. Este artigo vai centrar-se neste ponto.

A literatura descreve a apresentação clínica dos casos de C. perfringens tipo A como leitões com uma diarreia cremosa ou pastosa aos dois dias de vida e que pode ter uma duração de até cinco dias. Nalguns casos, as fezes podem ser mucosas. Não se costuma observar mortalidade, mas os animais afectados tendem a ficar atrasados em comparação com os seus companheiros não afectados, pelo que se compromete o peso ao desmame. Não há descobertas significativas que indiquem C. perfringens tipo A na necropsia, o que poderia diferenciá-lo de outros agentes enteropatogénicos descobertos em animais desta idade. Histologicamente, pode encontrar-se necrose superficial no extremo das vilosidades associada a acumulação de fibrina. Esta lesão, associada a uma intensa colonização de bactérias bacilares intimamente associadas a enterócitos danificados, apontaria para um diagnóstico de C. perfringens tipo A (figura 1). Contudo, estas descobertas não costumam acontecer. É frequente não se encontrarem lesões microscópicas, o que alimenta a especulação sobre se esta infecção bacteriana pode causar diarreia secretora. Esta possibilidade nunca foi confirmada

 

Intestino delgado de un lechón con diarrea asociado a infección por Clostridium perfringens tipo A

Figura 1. Intestino delgado de um leitão com diarreia associada a infecção por Clostridium perfringens tipo A. Uma grande quantidade de bactérias bacilares em íntimo contacto com enterócitos (100x). Fonte: Prof. James Collins, UMN-USA

A coloração Gram, o aspecto das colónias bacterianas e a beta hemólise em agar sangue são idênticas em todos os tipos de C. perfringens. O único modo de diferenciar os cinco tipos de C. perfringens, de A a E, baseia-se na produção de quatro toxinas principais: alfa, beta, epsilon e iota. Também há que citar outras duas toxinas importantes, a enterotoxina e a beta 2. Todos os tipos de C. perfringens podem encontrar-se no tracto gastrointestinal do leitão, mas apenas os tipos A e C são considerados patogénicos em leitões desta idade. Há uma correlação muito alta entre a detecção dos genes codificantes das toxinas cpa, cpb, etx, ia, cpe e cpb2 (tabela 1) respectivamente, e a sua expressão, o que significa que a detecção destes genes mediante PCR teria o mesmo valor que a detecção da toxina em fezes. Todos os tipos de C. perfringens têm o gene cpa. A detecção de cpa e cpb definiria a bactéria como tipo C, enquanto se só se detecta cpa tratar-se-ia de uma bactéria tipo A.

 

Tabela 1. Definição de tipos de Clostridium perfringens segundo a produção de toxinas.

Tipo de C. perfringens Alfa Beta Epsilon Iota Enterotoxina Beta 2
A X       X X
B X X X   X  
C X X     X X
D X   X   X  
E X     X X  

A quantificação de C. perfringens tipo A em material fecal costumava utilizar-se como uma possível indicação de associação com diarreia. Por outras palavras, os grandes crescimentos de C. perfringens tipo A nos primeiros isolamentos indicavam, com certeza, a sua relação com diarreia. Contudo, vários estudos demonstraram que não há suficientes evidências para sugerir que esta quantificação possa ser utilizada como um teste para o diagnóstico de infecção por C. perfringens tipo A associado a diarreia em leitões.

Dado que o C. perfringens tipo A é um integrante normal da microbiota intestinal dos leitões, durante muitos anos pensou-se que a produção de toxina beta 2 ou a presença do gene cpb2 em certos C. perfringens tipo A eram marcadores definitivos de patogenicidade. Em consequência, os diagnósticos laboratoriais definitivos baseavam-se na detecção de toxina beta 2 em material fecal mediante ELISA ou no isolado do agente e na tipificação das colónias mediante multiplex PCR para a presença de genes cpa e cpb2. Contudo, pelo menos três estudos diferentes, incluindo um do nosso grupo, demostraram que a análise mediante multiplex PCR em colónias de C. perfringens isoladas de leitões diarreicos e normais detectavam mais C. perfringens tipo A positivos a cpb2 nos leitões normais do que nos doentes. Infelizmente, estas descobertas demonstram claramente que não há um teste disponível que possa detectar ou identificar as estirpes patogénicas de C. perfringens tipo A. Estou convencido de que algumas estirpes desta bactéria são patogénicas para os porcos e podem produzir diarreia e reduzir o crescimento; contudo, ainda não sabemos como as identificar! Desde logo, isto supõe um grande desafio para o controlo da doença, já que o diagnóstico definitivo só se baseia "no último agente possível que fica por analisar". Deve fazer-se muito mais trabalho para definir um possível marcador de patogenicidade de C. perfringens type A.

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