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Avaliação da utilização de enzimas na nutrição de suínos. Aplicação e rentabilidade de acordo com as dietas

Numa altura em que os preços das matérias primas, apesar das tréguas que estão dando, ainda são muito elevados, entendo que é fundamental dedicar algum tempo a considerar a utilização de enzimas em dietas para suínos.

Nos períodos em que os preços dos ingredientes (e rações) são elevados, o centro das atenções dos nutricionistas e formuladores é direcionado para conceber dietas ao menor custo possível, sem comprometer a qualidade nutricional das rações. Em Espanha, os cereais predominantes são o trigo, a cevada e em menor escala o milho, sempre dependendo do seu preço e disponibilidade pontual. Outros ingredientes são as fontes de proteína vegetal (farinha de soja, girassol, colza...) e subprodutos (farinhas forrageiras e sêmea de trigo, DDGS de trigo, de milho). Atualmente temos tendência para conceber dietas mais complexas - mais fibrosas - procurando reduzir os custos de alimentação. Devemos ter em consideração que a capacidade dos porcos para digerir dietas mais fibrosas, sem comprometer os rendimentos produtivos, é crucial se procuramos manter os rendimentos normais.

Definição da fração “fibra alimentar” e as consequências de aumentar o seu nível

O termo fibra bruta (FB) é antiquado; o verdadeiro desafio digestivo vai além da simples FB e vem marcado pelos PNA (Polissacáridos Não Amiláceos); eles representam a verdadeira fibra alimentar, a fração da dieta de difícil ou nula digestão no intestino delgado. Englyst et al. (2007) denomina-os “carboidratos não glicémicos”; por definição, a fibra alimentar que não é digerida enzimaticamente no intestino delgado. A Tabela 1 mostra o conteúdo em arabinoxilanos (PNA) de vários ingredientes usados na alimentação de suínos.

Tabela 1: Conteúdo total de arabinoxilanos de vários ingredientes e a sua solubilidade %

Ingrediente Conteúdo total em arabinoxilanos, % Arabinoxilanos solúveis/totais, %
Milho 3,9 8
Trigo 6,0 25
Centeio 8,5 33
Cevada 7,4 12
Farinha forrageira de trigo 16,5 10
Sêmea de trigo 20,9 7
DDGS de milho 12,7 10
Farinha de soja 3,8 21
Farinha de colza /canola 6,5 22
Farinha de girassol 7,9 13

Os porcos alimentados com dietas altas em PNA (dietas mais comuns atualmente) teriam de enfrentar: i) a necessidade de uma mastigação prolongada, ii) um aumento das perdas endógenas por maior salivação e aumento de secreções gástricas, iii) um aumento significativo do tamanho e peso do trato digestivo com o tempo e iv) as alterações do trânsito intestinal por um efeito combinado entre PNA solúveis e insolúveis.

Portanto, é razoável esperar um aumento das necessidades energéticas de manutenção e do consumo de proteína; o uso de dietas ricas em PNA é refletido no aumento das fezes produzidas. Segundo a zona geográfica pode haver uma sanção sobre o produtor. Qualquer solução que hoje nos atrevamos a propor, deveria ter como objetivo reduzir os efeitos negativos causados por um nível mais elevado que nunca de PNA.

Capacidade digestiva do porco

Níveis mais elevados de PNA nas dietas, mesmo em porcos em crescimento e em engorda, terão um efeito negativo sobre a digestibilidade dos outros nutrientes.

Supõe-se que um porco adulto pode conseguir uma digestão mais completa dos nutrientes, contando com a sua capacidade de fermentação (intestino grosso), mas a eficácia energética destes processos é relativamente baixa (absorção de AGV). No entanto, apesar disso, há provas suficientes sobre o efeito das enzimas exógenas. A muito recente e completa revisão de Svihus (2011) destaca que as fitases e carboidrases são eficazes.

O tempo de retenção do alimento no estômago, assim como um pH mais elevado que o dos frangos, fazem com que o porco ofereça as "condições de trabalho ideais" para as enzimas adicionadas.

Estudos de Noblet (2004) são extremamente conclusivos: a fibra do alimento afeta negativamente a digestibilidade.

  1. DCe = 98,3 – 0,090 * FND
  2. DCe = 96,7 – 0,064 * FND
Digestibilidade da energia em porcos
FND = Fibra Neutro Detergente, que corresponde quase aos PNA (Noblet, 2004 ) Digestibilidade da energia em porcos (Noblet, 2001)

Enzimas exógenas em porcos; uso e efeitos

O uso de fitases está atualmente muito difundida e dificilmente é discutida a sua utilização; as carboidrases são menos aceites e o seu uso é menos admitido. As xilanases e beta-glucanases são as mais utilizadas. Nesta breve revisão salientaria os próprios dados obtidos com carboidrases.

Tabela 2: Carboidrases comuns usadas em dietas para porcos e substratos alimentares.

Carboidrase Substrato principal
Xilanase Arabinoxilanos
β-glucanase β-glucanos
Amilase Amido
β-mananase β-mananos

As xilanases e as beta-glucanases melhoram a digestibilidade da ração, atuando sobre as matérias primas fibrosas mais ou menos indigestíveis. As carboidrases são específicas para o substrato. Isto significa que, para as enzimas representarem uma vantagem na formulação de dietas para porcos, a dieta deve conter substrato específico suficiente para que a enzima trabalhe (ver Tabela 2).

A partir do nossos numerosos estudos nos últimos anos, destaco o efeito da xilanase + betaglucanase na Tabela 3; note-se a melhoria nas digestibilidades, e o efeito sobre a uniformidade dos resultados (efeito por vezes "esquecido" através da utilização de enzimas).

Tabela 3: Efeito de carboidrases sobre a digestibilidade em porcos em crescimento e engorda: % de melhoria em relação ao controlo sem enzimas (compilação de dados de 11 ensaios experimentais; datos próprios, 2013. Valores médios e CV entre parênteses).

11 ensaios em crescimento-engorda Coeficiente de digestibilidade ileal energia Coeficiente de digestibilidade fecal energia Coeficiente de digestibilidade ileal proteica Coeficiente de digestibilidade fecal proteica
Dieta controlo (C),%
Dieta C + enzimas, %
70,6 (9,4)
74,4 (7,3)
83,0 (6,2)
85,4 (3,6)
72,8 (11,0)
76,8 (7,7)
82,9 (7,0)
85,4 (4,9)
% de melhoria 5,4 2,9 5,5 3,0
redução CV, % 22 42 30 30

Considere que em dietas com base em milho-soja os níveis de PNA (arabinoxilanos) podem chegar a cerca de 4%, enquanto que trigo-soja seria 5-6%, e trigo-sêmeas-soja os níveis estariam perto de 8%.

Enzimas exógenas: utilização em formulação

Atualmente as enzimas são utilizadas dando-lhes um determinado valor nutricional em cada caso concreto ou adicionando na ração como medida de segurança e/ou para "relaxar" algumas limitações de determinados ingredientes (geralmente em leitões). Em qualquer caso, nesta data e no primeiro cenário, podemos falar das seguintes reduções no custo por tonelada de ração (tabela 4).

Tabela 4: Efeito do uso de carboidrases na redução de custo (€) por tonelada em porcos em crescimento e em engorda (base: necessidades FEDNA 2006 e preços próprios atualizados fevereiro 2014).

Crescimento
20-60 kg
Engorda
60-100 kg
Dieta controlo (C) 242,323 228,920
C + FITASAE 239,140 (-3,18) 225,903 (-3,02)
C + Carboidrases 234,057 (-8,27) 221,313 (-7,61)

Considerações finais

A utilização de enzimas em porcos é generalizada para a fitase, e é cada vez mais interessante e real para as carboidrases, em grande parte pela demonstração que a sua utilização é benéfica. Numa altura em que os preços das matérias primas, apesar das tréguas que estão dando, ainda são muito elevados; entendo que é fundamental dedicar tempo a considerar esta opção no campo da nutrição-formulação.

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