X
XLinkedinWhatsAppTelegramTelegram
0
7
Leia este artigo em:

Alimentação por fases, de porcas, durante a gestação

As necessidades nutricionais das porcas mudam durante a gestação e o fornecimento de alimentos deve satisfazer essa necessidade; daí a necessidade de uma alimentação por fases.

O objetivo da suinicultura moderna é maximizar a quantidade e a qualidade da carne de porco produzida por porca, por ano, ou em toda a sua vida, a um custo mínimo. O primeiro passo é garantir que a porca produz um número adequado de leitões por ninhada, por ano, ou em toda a sua vida. A nutrição e o maneio da porca, durante a gestação, são portanto fundamentais para a concretização destes objetivos.

Durante a gestação os objetivos são alimentar a porca para garantir uma ninhada de pelo menos 14 leitões de qualidade, conseguir um aumento específico do peso corporal e da espessura de toucinho, bem como atingir uma condição corporal de 3,5 ao parto (escala 1-5).

Geralmente, a quantidade de alimento fornecido às porcas durante a gestação é baseada nas suas necessidades em energia e no conteúdo energético da dieta (30 MJ EM/dia fornecida por uma dieta contendo 12,5 MJ EM/kg, requer 2,5 kg de ração/dia). Em termos de aminoácidos presume-se que a lisina é o aminoácido mais limitante e que, as suas necessidades são conhecidas assim como a quantidade de ração fornecida, então o conteúdo de lisina na dieta pode ser calculado (15 g de lisina DIE/dia em 2,5 kg de alimento implica uma dieta com 6 g de lisina DIE/kg). Atualmente a maioria das necessidades de aminoácidos estão baseadas em valores de digestibilidade ileal padronizada (DIE) uma vez que estes refletem melhor os aminoácidos disponíveis para o animal, tendo em conta os aminoácidos que não estão disponíveis para a digestão, assim como as perdas endógenas basais no trato gastrointestinal.

 

Necessidades energéticas e alimentares

As prioridades e os requisitos nutricionais mudam durante a gestação e isso vai influenciar a quantidade de ração a ser fornecida. A Figura 1 ilustra a forma como mudam as necessidades alimentares.

 

Prioridades na alimentação da porca gestante

* Porca com boa condição corporal (pontuação 3.0-3.5) durante a gestação
Figura 1. Prioridades na alimentação da porca em gestação: 140 kg de peso à cobrição* (modificado de Foxcroft, 2009)

 

Na fase inicial da gestação (dia 1–28) o objetivo é garantir o número máximo de embriões de qualidade, bem como repor as reservas corporais da porca perdidas durante a lactação, e no período desmame-cobrição. Nas porcas que perderam condição corporal e reservas de forma considerável, pode ser benéfico aumentar a alimentação fornecida. Isto serve para alcançar e manter um correto estado metabólico e endócrino, vital para o desenvolvimento e sobrevivência embrionária e fetal. Por exemplo, Hoving et al. (2011) demostraram que, ao incrementar a alimentação atribuída de 2,5 a 3,25 kg/dia, em porcas com perdas consideráveis de peso, aumentava o tamanho da ninhada de 13,2 para 15,2 leitões por ninhada. No entanto, uma vez que estas perdas sejam recuperadas e que a condição corporal melhore, os níveis normais de alimentação podem ser retomados.

A meio da gestação (dia 29–84) existe um aumento das necessidades energéticas de 2–3 MJ/dia que pode ser preenchida com um aumento de 0,15–0,20 kg/dia no alimento fornecido. A maior parte deste aumento é para a manutenção e ganho de peso maternal, desta maneira mantém-se uma correta condição corporal do animal.

No fase final da gestação (dia 85–115), quando se dá o maior crescimento fetal e mamário, existe um aumento significativo nas necessidades nutricionais da porca e, normalmente, aumenta-se a quantidade de alimento em 0,5 kg/dia ou mais, dependendo da condição corporal da porca e das condições ambientais. Isto também garante que a porca não entre em catabolismo durante este período, pois isso irá influenciar o crescimento fetal resultando em leitões com baixo peso ao nascimento e uma variação maior do peso, ao nascimento, da ninhada.

Uma ideia da mudança de necessidades de nutrientes durante o início/meio e fim da gestação é fornecida na tabela 1 para porcas de diferentes partos e peso corporal à cobrição, bem como de diferenças no ganho de peso. É óbvio que existe um aumento das necessidades à medida que a gestação progride, com as diferenças nas estimativas entre as duas fontes principalmente relacionadas com as diferenças no peso à cobrição e o ganho de peso dos animais.

 

Tabela 1. As necessidades de energia e lisina de porcas de diferente peso à cobrição
e o ganho de peso durante a gestação (a = GfE, 2006; b = NRC, 2012)

Nº Parto. 1 2 3 4
  a b a b a b a b
Peso à cobrição (kg) 140 140 185 165 225 185 255 205
Ganho de peso (kg) 70 65 65 60 55 52 25 40
Gestação: dia 1-84/90                
Energia (MJEM/d) 29 28 32 29 34 29 31 27
Lisina (gDIE/d) 9,7 10,6 9,4 9,2 8,2 7,8 3,7 6,3
Gestação: dia 85/90-115)                
Energia (MJEM/d) 37 33 40 34 41 34 37 32
Lisina (gDIE/d) 14,5 16,7 14,6 15,1 13,4 13,1 8,9 11,1

 

Necessidades em aminoácidos

Se as necessidades de lisina dos animais são conhecidas, então os requisitos para outros aminoácidos essencias podem basear-se no princípio de "proteína ideal". No passado foi assumido que esta relação permanece constante durante a gestação. A maioria das estimativas atuais de necessidades de aminoácidos são baseadas em modelos e mostram que as necessidades não variam apenas com a fase da gestação, mas também segundo o número de partos. Por exemplo, em relação à lisina, existem grandes diferenças no balanço –especialmente para a treonina, triptófano e metionina+cistina (tabela 2). Isso pode ser explicado porque no início e a meio da gestação, a principal necessidade é a manutenção e o ganho proteico materno, enquanto que no final da gestação pode ser necessário um ajuste no balanço de aminoácidos devido ao crescimento mamário e ao desenvolvimento fetal. Além disso, nas porcas mais velhas a necessidade de uma maior proporção de aminoácidos vai orientada à manutenção, e isso também altera o rácio da proteína ideal.

 

Tabela 2. Balanço de aminoácidos essenciais na gestação: % em relação à lisina (com base no NRC, 2012)

Nº Parto. 1   4  
Dia <90 >90 <90 >90
Lisina (DIE g/dia) 10.6 16.7 6.3 11.1
Lisina (%) 100 100 100 100
Metionina 28 28 27 28
Metionina+cisteína 64 65 71 70
Treonina 72 69 84 77
Triptófano 18 19 21 21
Isoleucina 58 53 59 51
Leucina 91 93 95 97
Histidina 35 32 33 30
Fenilalanina 55 55 59 57
Fenilalanina+tirosina 95 95 100 98
Valina 70 71 78 75
Arginina 53 53 51 52

 

Recentemente foram estudadas alterações no balanço de aminoácidos: o professor Ron Ball e os seus colegas da Universidade de Alberta, Canadá (tabela 3), demonstraram que, para as porcas em final de gestação, o primeiro aminoácido limitante pode ser a treonina em vez da lisina. O padrão de outros aminoácidos está atualmente a ser avaliado. As consequências das alterações das necessidades de aminoácidos podem exigir o uso de diferentes dietas durante a gestação, embora os efeitos sobre o crescimento e o desenvolvimento dos leitões precise ser avaliado.

 

Tabla 3. As necessidades totais de lisina e treonina de porcas gestantes (g/dia)
(Samuel et al. 2010; Levesque et al. 2011; Moehn et al. 2012)

    Parto 1 Parto 2 Parto 3+
Lisina Dia 1 – 85 15,0 13,1 8,1
Dia 85 – 115 18,0 18,4 13,0
Treonina Dia 1 – 85 N/A 7,0 5,0
Dia 85 – 115 N/A 13,6 12,3
Treonina : lisina (%)* Dia 1 – 85 - 53 62
Dia 85 – 115 - 74 95


* Anteriormente assumido como sendo 70-80%, independentemente da fase da gestação.

 

Com base nesta informação recente, a tabela 4 mostra a alteração no teor de lisina e treonina das dietas para porcas de diferentes partos e fases da gestação.

 

Tabela 4. Teores de Lisina e Treonina (g/kg) nas dietas durante a gestação*

    Parto 1 Parto 2 Parto 3+
Início Lisina 6,5 5,5 3,2
Treonina - 2,9 1,9
Final Lisina 6,7 6,6 4,5
Treonina - 4,9 4,3

* Baseado nos valores proporcionados na Tabela 3 e consumos normais de alimento

 

Conclusões

As necessidades nutricionais da porca mudam durante a gestação e o fornecimento de alimento deve satisfazer essa procura; daí a necessidade de uma alimentação por fases. Em termos de energia, a estratégia de um só alimento pode ser suficiente (12,5 MJ EM/kg), aumentando os níveis no 85º dia da gestação. As necessidades em aminoácidos também aumentam, embora possa ser necessário uma alteração no balanço de aminoácidos entre o início/meio e final da gestação, assim como de acordo com o número de parto, o que pode requerer uma dieta com uma diferente composição em aminoácidos.

A utilização de diferentes dietas deve ser possível com uma estação computorizada de alimentação de porcas. Como alternativa, pode-se fornecer uma dieta base de gestação e adicionar um suplemento a partir do 84º dia de gestação. Resta saber se essa estratégia vai levar a melhorias no comportamento reprodutivo da porca e na qualidade dos leitões, e se é rentável. Esta estratégia precisa de ser testada em sistemas de produção comercial.

Comentários ao artigo

Este espaço não é uma zona de consultas aos autores dos artigos mas sim um local de discussão aberto a todos os utilizadores de 3tres3
Insere um novo comentário

Para fazeres comentários tens que ser utilizador registado da 3tres3 e fazer login

Não estás inscrito na lista Última hora

Um boletim periódico de notícias sobre o mundo suinícola

faz login e inscreve-te na lista

Não estás inscrito na lista A web em 3 minutos

Um resumo semanal das novidades da 3tres3.com.pt

faz login e inscreve-te na lista