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A adaptação da reposição ao Mycoplasma hyopneumoniae: Que estratégias temos?

Exposição natural, intranasal, intratraqueal, com aerossóis e vacinação.

O Mycoplasma hyopneumoniae (M. hyopneumoniae) é o agente da pneumonia enzoótica, uma doença respiratória crónica que afecta, principalmente, os porcos na fase de crescimento e engorda. Esta doença causa grandes perdas económicas nas explorações afectadas devido, fundamentalmente, a piores parâmetros produtivos, como sejam o ganho médio diário e o índice de conversão, a uma maior susceptibilidade a infecções por outros agentes patogénicos, bem como a um aumento nos custos de medicação (Thacker y Minion, 2012).

A transmissão de M. hyopneumoniae produz-se, principalmente, por contacto directo (nariz-nariz) entre animais infectados que excretam a bactéria e animais susceptíveis. Esta transmissão pode dar-se entre animais do mesmo parque (horizontal) e/ou entre a mãe e a sua ninhada (vertical). Concretamente, a transmissão vertical (mãe-leitão) durante o período de lactação considera-se um ponto-chave para o controlo da doença nas explorações afectadas (Fano, 2007; Sibila 2007), já que os leitões infectados na maternidade transmitirão a bactéria nas etapas posteriores da transição e engorda. Com efeito, vários estudos correlacionaram uma elevada prevalência de M. hyopneumoniae ao desmame com uma maior prevalência e gravidade das lesões pulmonares associadas a este agente patogénico no matadouro (Fano 2007; Sibila, 2007).

Um dos factores que parecem influenciar no grau de excreção do M. hyopneumoniae é o número de parto das porcas. Em concreto, as marrãs de reposição e de primeiro parto consideram-se as principais excretoras deste agente patogénico respiratório (Boonsoongnern, 2012). Por isso, as estratégias de adaptação das marrãs de reposição focadas em conseguir uma correcta imunização e uma redução na excreção de M. hyopneumoniae pelas nulíparas e pelas porcas de primeiros partos poderão ser úteis para estabilizar a situação deste agente patogénico respiratório nas explorações.

A estabilidade sanitária de uma exploração depende do estatuto sanitário das porcas nela presentes, bem como do estatuto sanitário das porcas de reposição que nela vamos introduzir. Por isso, antes de implementar um programa de adaptação ao M. hyopneumoniae numa explotação, devemo-nos perguntar: Qual é o estatuto sanitário da exploração em relação ao M. hyopneumoniae? E o das marrãs de reposição?

Para determinar o estatuto sanitário da exploração e da reposição contra o M. hyopneumoniae devemos ter em conta: 1) a observação de parâmetros clínicos (sinais clínicos e lesões pulmonares) e 2) a confirmação através de técnicas laboratoriais da exposição (ELISA) e/ou presença ao agente patogénico (PCR). Recentemente, foi proposta uma classificação em função da presença ou ausência destes parâmetros que possibilita o aparecimento de distintos cenários (Fano e Pieters, 2016; Garza-Moreno, 2018).

Que estratégias dispomos para conseguir uma adequada adaptação da reposição ao M. hyopneumoniae?

Tradicionalmente, como sucede com outras doenças, quando a origem da reposição é externa temos tendência a expor estas porcas a animais infectados que estejam a excretar o agente patogénico em questão. Contudo, no caso do M. hyopneumoniae conseguir uma correcta adaptação através da exposição natural é complicado, devido ao seu baixo rácio de transmissão (Meyns, 2004). Com efeito, um estudo recente demonstrou a baixa eficiência da exposição natural ao M. hyopneumoniae, já que para conseguir uma correcta exposição é necessário o contacto de 6 porcas positivas excretando por cada 4 porcas presentes (rácio 6:4) durante um período de 4 semanas (Roos, 2016).

Para facilitar esta exposição, propuseram-se diferentes métodos de exposição artificial através da inoculação do M. hyopneumoniae de forma intranasal, intratraqueal e, inclusivamente, através do uso de aerossóis (Yeske, 2019). Estes métodos dão uma maior eficiência na exposição da reposição ao M. hyopneumoniae, mas poderão representar um risco para a estabilidade da exploração. Este risco de desestabilização é determinado pela longa duração na excreção de M. hyopneumoniae pelos animais infectados (até 214 dias pós-infecção; Pieters, 2009). Por isso, o uso destes métodos implicará uma adequada duração da adaptação para conseguir que as porcas infectadas não excretem M. hyopneumoniae (arrefeçam), uma entrada de porcas mais novas na exploração, uma maior disponibilidade de instalações, bem como o uso de análises laboratoriais para verificar o estatuto destas porcas inoculadas, antes da sua entrada em produção.

Actualmente, uma das ferramentas mais eficiente para conseguir uma imunização homogénea do lote de reposição num curto período de tempo, poderá ser a vacinação contra o M. hyopneumoniae. Apesar da vacinação contra o M. hyopneumoniae não evitar a infecção, esta diminui os sinais clínicos e a pressão de infecção na população vacinada (Maes, 2017). Num estudo, realizado recentemente, compararam-se distintos protocolos de vacinação da reposição contra o M. hyopneumoniae durante a fase de adaptação (Garza-Moreno, 2019). Sob as condições deste estudo, a vacinação da reposição contra o M. hyopneumoniae com 4 ou 2 doses reduziu a pressão de infecção deste agente patogénico no lote estudado e aumentou significativamente a imunidade maternal transferida aos leitões comparando com o grupo não vacinado (Garza-Moreno, 2019).

Em conclusão, um programa efectivo de adaptação da reposição será aquele que minimizar a excreção do M. hyopneumoniae por parte da porca à sua ninhada durante a lactação, reduzindo a prevalência deste agente patogénico ao desmame e o seu impacto em etapas posteriores. Por isso, a implementação de estratégias que permitam gerar imunidade de forma homogénea e num período de tempo factível podem ser de grande utilidade para controlar o M. hyopneumoniae nas explorações.

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