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A fibra na nutrição das porcas

Nos sistemas de produção em grupo, rações mais fibrosas podem ajudar a melhorar o ajuste individual das rações. Contudo, em sistemas de alimentação muito ricos em fibra, deve-se considerar aspectos como o custo, a palatibilidade e gestão do estrume.

A fibra

Numa perspectiva ampla e fisiológica, podemos definir a fibra como todos os carboidratos resistentes à digestão por enzimas endógenas. Esta abordagem corresponde ao termo fibra dietética, que é a soma dos polissacarídeos não amiláceos (PNA) e a lignina, incluindo também por vezes o amido resistente.

A determinação da fibra realiza-se quimicamente mediante o procedimento convencional da fibra bruta, pelo método com maior detalhe descrito por Van Soest (FND, FAD, LAD), ou pelas técnicas mais recentes e específicas de fraccionamento. Na figura abaixo apresenta-se um resumo das diferentes técnicas analíticas e fracções da fibra.

Resumo das diferentes técnicas analíticas e fracções da fibra

Dada a grande variedade de compostos e estruturas químicas, a fibra pode afetar diferentes propriedades físico-químicas dos processos digestivos, tais como: a solubilidade, a viscosidade, a formação de gel, a capacidade de retenção de água, os inchaços, as secreções endógenas, a absorção de nutrientes, as fermentações/microflora, o trânsito intestinal, etc.

  • As fracções solúveis têm um grande efeito sobre a viscosidade no estômago e no intestino delgado, acelerando a velocidade do trânsito digestivo e diminuindo a digestibilidade. A sua fermentação é ampla e rápida, podendo realizar-se em parte no intestino delgado e completar-se no intestino grosso. No intestino delgado a fermentação será maioritariamente láctica, podendo certos oligossacáridos favorecer o desenvolvimento da flora láctica.
  • As fracções insolúveis aumentam a sensação de saciedade ao atuar sobre o trânsito intestinal e na capacidade de retenção de água. Também aumentam as secreções e a descamação endógena. Elas chegarão intactas ao intestino grosso, onde se fermentarão em AGV (acetato, propionato e n-butirato), representando uma contribuição significativa para as necessidades de manutenção da porca. Também prolongam a sensação de saciedade ao prolongar a absorção de compostos energéticos.
  • Lignina: é absolutamente indigestível e não será fermentada, terá um efeito mecânico sobre o arraste de material no trânsito digestivo. O seu efeito pode ser significativo com o uso de ingredientes como a palha de cereal.

A porca

A alimentação das porcas gestantes deve ser ajustada de forma a manter condição corporal adequada ao aumento de peso (porcas até 2º ciclo) e ao crescimento fetal (importante no último terço da gestação). Os novos sistemas de alojamento em grupo representam um desafio para o maneio individual (ou grupo de animais) e para evitar a competição pelo alimento.

No geral, diferentes publicações não observaram diferenças significativas nos resultados zootécnicos ao longo de diferentes ciclos reprodutivos, ao fornecer dietas ricas (ou muito ricas, ad libitum) em fibra para porcas. Apenas, em rações de lactação pode haver uma redução na ingestão de nutrientes e, portanto, uma maior perda de peso corporal.

As rações ricas em fibra produzem uma maior sensação de saciedade e redução das estereotipias, principalmente em porcas alojadas em boxes. No caso de porcas criadas em grupo, os animais permanecem mais tempo deitados e realizam menos actividade física, reduzindo assim as suas necessidades de manutenção. Além disso, a fibra reduz a prisão de ventre e o risco de MMA no início da gestação.

Ao formular as dietas devem-se considerar as fontes de fibra utilizadas pelo seu preço/disponibilidade e por aspectos como a sua palatibilidade, estimulação do trânsito intestinal, capacidade de retenção de água, nível de fermentação e risco de alterações microbiológicas ou toxicológicas (micotoxinas). Nas rações ricas em fibra, uma boa opção seria combinar diferentes ingredientes com propriedades complementares.

As rações ricas em fibra vão mudar as caracteristicas do estrume, afectando os sistemas de maneio, armazenagem e aplicação no campo. A quantidade total de estrume produzido não costuma variar, ainda que aumente o volume das fezes, diminui a produção de urina. O volume das fezes aumenta pelo aumento da ingestão de alimento e fibras indigestíveis, pela capacidade de retenção de água, pela biomasa microbiana e pelas perdas endógenas. A produção de urina diminui por uma maior excreção de água nas fezes e possivelmente por um menor consumo de água provocado pela diminuição das estereotipias. Portanto, aumentam significativamente os sólidos totais (até 2-4 vezes), a viscosidade e consistência do estrume passando a um estado semi-sólido, com um maior teor de matéria orgânica, procura de oxigénio e concentração de AGV (valérico e butírico agravam a emissão de odores desagradáveis). No que diz respeito aos minerais, a sua excreção total não é aumentada significativamente.

Conclusões

A fibra é um nutriente importante para a saúde e bem estar da porca. Nos sistemas de produção em grupo, as rações mais fibrosas podem ajudar a um melhor ajuste individual da ração. Contudo, em sistemas de alimentação muito ricos em fibra, devem considerar-se aspectos como o custo, a palatibilidade e o maneio do estrume.

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